FINADOS

Coveiro relata histórias inusitadas da profissão

Na atividade de coveiro não existe apenas a convivência com cenas de tristeza, mas alguns casos curiosos.

O dia a dia de um coveiro é cheio de emoções diferentes e inusitadas, exigindo do profissional atitudes coerentes e éticas, em respeito à dor daqueles que sepultam entes queridos. “É um exercício difícil, visto que as reações dos parentes do pranteado são diversas e, em muitas ocasiões, violentas”, avalia Dorivan Rodrigues Neves, de 34 anos, com cinco anos na atividade de coveiro, no Cemitério do Gavião.
Dorivan Neves trabalha para uma empresa que cuida da administração do Cemitério do Gavião, um dos mais antigos da cidade. Ele disse que o coveiro é muito maltratado por parentes de defuntos, que não cuidam da conservação dos túmulos da família. Quando têm que sepultar alguém e surgem problemas com a sepultura em face da estrutura comprometida pela ação do tempo, culpam os coveiros, que são agredidos com palavras ofensivas e até ameaças.

“É um exercício difícil, visto que as reações dos parentes do pranteado são diversas e em muitas ocasiões, violentas”, Dorivan Rodrigues Neves, coveiro

Causos humorísticos
Mas, na atividade de coveiro, não se registram apenas casos tristes. Há também os causos humorísticos. Dorivan lembra o sepultamento de uma figura muito popular na periferia da cidade. O falecido era chegado à bebida e o seu enterro teve grande acompanhamento de outros “devotos” de Baco.
“Um dos acompanhantes, talvez por ser muito próximo do falecido, e apresentando estar muito embriagado, chorava copiosamente e a todo momento gritava que queria ir com o seu amigo e ameaçava jogar-se dentro da sepultura que, a estas alturas, já estava sendo fechada, com os coveiros jogando terra sobre o caixão. O bêbado ameaçava se jogar no buraco e era contido pelos amigos, até que em dado momento os que o seguravam descuidaram-se e ele acabou caindo no buraco e então reagiu ao contrário do que dizia, gritando para que fosse retirado dali. Os coveiros se mantiveram sérios e calados, mas grande parte dos que acompanhavam a cerimônia, não tiveram como conter as gargalhadas.”
O dia em que o coveiro também chorou
Dorivan Neves testemunhou muitos causos

Introspectivo e com os olhos marejados, Dorivan Neves lembrou o que considerou o enterro mais triste por ele realizado. Foi durante o sepultamento de uma criança de apenas três anos. Uma menina linda que morreu por eletroplessão – morte causada por descarga elétrica -, tentando salvar a vida de um adulto. “Ao ver aquela criança linda com o rosto sereno no seu caixão e sabendo que ela, na sua inocência, tentou salvar a vida da empregada doméstica de sua casa, que havia ficado presa à fiação de distribuição de corrente elétrica, não resisti. A criança viu a mulher presa ao fio recebendo forte descarga elétrica, tentou puxá-la e também recebeu descarga elétrica. Ambas morreram. Nesse dia o coveiro chorou”, disse.

Crença na reencarnação gera grande polêmica
O tema “Vida após a morte” gera sempre muita polêmica. Assim aconteceu durante o enterro de um homem, cuja família acredita na reencarnação. “Ali, naquele momento, familiares do falecido nomearam um menino, neto do morto, como a sua encarnação, o seu substituto na terra. Aquilo gerou uma grande polêmica tirando a atenção do sepultamento, já que os defensores da reencarnação buscavam no rosto da criança a aparência com o rosto do avô falecido. Os descrentes contestavam e a discussão deu origem a uma grande altercação, até que alguém interveio e então pudemos terminar nosso serviço”, afirmou o coveiro Dorivan.
Briga de três famílias durante o enterro
Cemitério do Gavião

Dorivan Neves relata que o enterro mais movimentado em que esteve presente foi o de um homem muito namorador, cujo enterro foi marcado pela presença de três famílias, que reclamavam o corpo. Houve troca de insultos e ameaça, sendo necessário a presença de duas guarnições da Polícia Militar para que o sepultamento se concretizasse. Quando a urna funerária chegou, havia cinco pessoas, sendo duas mulheres e três homens. Todos filhos do casamento do falecido. Em seguida, chegaram outras três pessoas, sendo duas mulheres e um homem, que choravam muito e lamentavam a perda do pai. Foi o suficiente para que se criasse um grande mal-estar, pois os filhos do casamento e os irmãos do falecido não conheciam os outros filhos. A discussão foi acalorada com as duas partes reclamando a paternidade e não reconhecendo os outros como meio irmãos. Discutiram bastante e depois acalmaram-se.

Mas, logo em seguida, chegou ali uma mulher com um casal de adolescentes, afirmando que o falecido tinha um caso com ela há quinze anos e, deste relacionamento, nasceu o casal de filhos. Toda a discussão se reiniciou e já estavam prestes a partir para o desforço físico, quando chegaram duas viaturas da Polícia Militar para acalmar os ânimos, tendo um oficial se pronunciado fazendo ver que já não adiantava aquela briga, pois o maior responsável já estava morto, e que aquela reação de todos era indevida, pois todos sabiam de suas “puladas de cerca” e que era conhecido como um homem mulherengo. Todos se acalmaram e o enterro foi realizado, mas com a promessa de muito briga por causa da herança, visto que todos os filhos tinham sido registrados pelo falecido, antes de morrer.
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