SÃO LUÍS

Ponte José Sarney vira moradia de sem-teto

Mais conhecida como Ponte do São Francisco, há décadas, famílias usam a lateral da via como parede de fundo de seus barracos.

Reprodução

Casebres de madeira, papelão e até de alvenaria, construídos nas laterais da ponte, estão servindo de moradia para sem-teto que vivem no local sem condições dignas, apesar de alguns receberem aluguel social da prefeitura
Ocupações irregulares nas laterais das pontes de São Luís não são uma novidade, mas um cenário constante na paisagem urbana da capital do estado, reflexo dos problemas de moradia encontrados na cidade.
Na Ponte José Sarney, conhecida popularmente também como Ponte do São Francisco, há décadas, famílias usam a lateral da via como parede de fundo de seus barracos, alguns chegaram mesmo a construir edificações de alvenaria no local, ignorando os perigos de uma construção assim. Apesar de receberem um aluguel social da Prefeitura de São Luís, para morar em local mais dignos, muitos permanecem nos casebres improvisados debaixo da ponte.
Para muitos moradores, o local é o único que encontraram para viver, cuidar dos filhos e muitas vezes até trabalhar. Para outros, foi o único lugar que conseguiram para passar a velhice, como é caso de Francisca Pereira Justina Filha, de 58 anos, que contou à equipe de O Imparcial que se mudou para o local há três anos, vindo do Ceará. Francisca Justina não é aposentada e não tem renda alguma, vivendo da ajuda do filho. “Eu vivo aqui pela graça de Deus.Ninguém me ajuda com nada, só meu filho que às vezes me dá alguma coisa”, contou. Francisca Justina disse ainda que o cadastro municipal para pessoas em condições como as suas nunca chegou para ela. “A prefeitura veio aqui não tem muito tempo. A moça disse que não ia fazer meu cadastro e nem me dar nada, porque eu não sei assinar nem meu nome, ela falou isso. Eu não sei ler nem escrever, e então não ganho nada. Meus vizinhos têm aluguel social”, lamentou. Em situação semelhante se encontra o artesão Edson Pereira, de 19 anos, que mora há três em um barraco ao lado de Justina, com a esposa Luana, que está grávida de três meses. Edson faz leões e gatos de argila e os colore para vender a R$ 10,00 cada. “A renda da minha família vem da venda do artesanato, mas não é muito. Quando vieram aqui fazer cadastro pra aluguel social, disseram que não iriam me dar também, mesmo com minha esposa grávida. Seria muito bom sair daqui e ter o bebê em condições melhores”, contou Edson, que já morou em Teresina, mas voltou para São Luís, porque, segundo ele, “lá estava bem pior e não vendia nada”.
Moradores reclamam de aluguel social
Mais à frente, a vizinha de Francisca Justina e Edson Pereira, Francisca das Chagas, conta que o aluguel social, uma vez que eles consigam receber, não resolve o problema, pois “atrasa” e é “bem pouco que pagam”. Francisca tem 28 anos e é mãe de duas crianças, uma menina de sete e um menino de dois anos.Francisca das Chagas contou ainda que está desempregada, mas que às vezes lava roupa de outras famílias, já o marido, também sem emprego formal, “faz bico” de marcenaria.
O relato de Moude Silva Moraes, de 73 anos, é preocupante. Ela contou que há uma casa em seu nome em um programa habitacional, ela não soube explicar qual o programa, mas disse que nunca recebeu aluguel social por estar com o nome constando como tendo recebido uma casa. “Não sei que casa é essa. Eu moro é ali, naquele palácio que você está vendo”, disse apontando para o seu que também tem a ponte como parede dos fundos. “Aqui há cinco anos tem gente com o nome para receber uma casa do Minha Casa (Minha Vida), e nada. Dizem que está na prefeitura já para a gente receber. Mas como, se nunca recebemos? Deve ter alguém morando na casa que era para mim”, contou.
A equipe de O imparcial entrou em contato com a Prefeitura de São Luís, que informou, por meio de nota, que a Secretaria Municipal da Criança e Assistência Social (Semcas) tem empenhado vários esforços para a mudança da realidade vivenciada pelas pessoas que atualmente se abrigam sob a Ponte José Sarney e Ponte Bandeira Tribuzi. Dentre as ações realizadas para este público, está a articulação do Serviço de Abordagem Social e Serviço Especializado para Pessoas em Situação de Rua ofertado pelo Centro Pop, para atendimento e acompanhamento dessas pessoas na perspectiva de ofertar acesso a documentação, como Identidade, CPF e Título Eleitoral, inserção e atualização de dados no Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal, inclusão no Programa Minha Casa, Minha Vida, Programa Bolsa Família, Aluguel Social, entre outras ações de nossa responsabilidade e em parceria com outras organizações.
A Secretaria comunicou ainda que, este ano, 94 pessoas em situação de rua, atendidas pelos Centro Pop Anil e Centro, foram convocadas para formalização do dossiê para acesso ao Programa Minha Casa, Minha Vida. Apesar das diversas tentativas das equipes da Semcas junto a este público de sensibilização quanto a necessidade de saída daquele espaço inadequado à moradia humana, algumas famílias acabam retornando para área. Por fim, a secretaria informou que está planejando ações para que esses locais não sejam ocupados como moradias, mas destinados para outros fins.
VER COMENTÁRIOS
Polícia
Concursos e Emprego
Esportes
Entretenimento e Cultura
Saúde
Mais Notícias