Em São Luís, ato arrastou milhares de devotos. Em Belém, foi realiza a 224ª edição da maior procissão religiosa do mundo. Celebrações incluíram homenagem a Nossa Senhora de Nazaré em ambas as cidades

Milhares de devotos participaram da procissão que marcou o encerramento das homenagens a Nossa Senhora de Nazaré no último dia da programação do Círio Festa da Luz, realizado pela paróquia que leva o nome da santa no Cohatrac. Entre orações e pagamentos de promessas, fiéis acompanharam a procissão, que partiu da Igreja de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, na Cohab, e percorreu aproximadamente 3 quilômetros até o Cohatrac, onde houve celebração de missa solene encerrando o festejo religioso.

Com a saída da imagem da Cohab, para onde a imagem havia sido levada na noite anterior durante a Procissão da Luz, as demonstrações de fé e devoção invadiram a Avenida Jerônimo de Albuquerque. Além dos que seguiam em meio à multidão, muitos fiéis se agarravam à corda que isola a berlinda que levava a imagem da santa para pedir e agradecer pelas bênçãos alcançadas.

Durante todo o trajeto, homens da Polícia Militar e agentes da Secretaria Municipal de Trânsito e Transportes (SMTT) acompanharam os devotos. Além disso, a procissão contou com a presença de 100 seguranças contratados pela organização do evento e a presença de uma ambulância.

Em Belém, cerca de 2 milhões de pessoas acompanharam ontem o Círio de Nazaré, considerado a maior procissão religiosa do mundo. No cortejo, fiéis católicos seguiram a imagem da Nossa Senhora de Nazaré, padroeira do povo paraense e rainha da Amazônia, por um trajeto de 3,6km, que iniciou na Catedral da cidade e terminou na Praça Santuário. Esta foi a 224ª edição da celebração, iniciada no século 18. A Imagem Peregrina da padroeira dos paraenses chegou ao destino final da romaria do Círio, a Praça Santuário de Nazaré, às 11h24 da manhã de ontem. A procissão iniciou às 6h07, logo após o fim de uma missa celebrada pelo arcebispo Dom Alberto Taveira, em frente à Catedral de Belém.

No último sábado, foram realizadas quatro das 12 romarias que atualmente compõem a festividade, cuja programação dura 20 dias e inclui também missas, vigílias noturnas e shows musicais. Logo cedo, às 5h30, a Romaria Rodoviária saiu da Igreja Matriz de Ananindeua, onde a Imagem Peregrina passou a noite, e chegou ao Cais do Porto de Belém. Lá, às 9h, foi iniciada a Romaria Fluvial, considerada um dos momentos mais marcantes da festividade, realizado desde 1986.

Nessa etapa, a imagem da santa foi colocada em um altar decorado e instalado em uma corveta da Marinha, que seguiu por um percurso de 18km pela Baía do Guajará, enquanto era acompanhada de centenas de embarcações, algumas com dezenas de passageiros, que portavam flores, velas e faixas em homenagem a Nossa Senhora. Na chegada, a santa foi recebida com honras de Chefe de Estado pela Polícia Militar.

Depois da passagem pelo rio, chamada de etapa “mais amazônica” da festa pela organização, ainda foi realizada a Moto Romaria, em que motociclistas acompanharam a imagem até a Basílica Santuário de Nazaré, onde os fiéis tiveram a chance de ver de perto a estátua de apenas 28cm de altura. A programação do dia foi finalizada com uma missa celebrada por Dom Alberto Taveira, arcebispo metropolitano de Belém, em frente ao Colégio Gentil Bittencourt. Às 18h, teve início a última romaria do dia, a da Trasladação, que percorre o mesmo caminho do Círio, só que na direção inversa, para que a santa passe a noite na Catedral, de onde deve partir hoje.

A celebração do Círio este ano é uma das mais caras da história, com um orçamento que ultrapassa os R$ 3,4 milhões, segundo a Diretoria da Festa de Nazaré. O valor inclui os gastos com o Círio Musical, uma programação de shows que começa hoje e vai até o dia 23. Na segunda-feira 24, a Festividade Nazarena será encerrada com o Recírio, uma procissão que começa após missa na Praça do santuário e termina na Capela do Colégio Gentil Bittencourt, local onde a santa fica guardada na maior parte do ano.

O Círio de Nazaré costuma ser celebrado em outras cidades brasileiras, uma forma de os fiéis que não podem se deslocar até Belém participarem da celebração. É o caso da capital paulista, onde desde 1978 a Associação dos Devotos de Nossa Senhora de Nazaré organiza um Círio na mesma data do original.

A primeira procissão do Círio de Nazaré saiu na tarde de 8 de setembro de 1793. O cortejo passou a ser realizado pelas manhãs a partir de 1854, como uma forma de evitar as fortes chuvas que ocorriam à tarde. Em 1882, o bispo Dom Macedo Costa, de comum acordo com o então presidente da província do Pará, Justino Ferreira Carneiro, resolveu que o ponto de partida seria a Catedral de Belém, o que acontece até hoje. O segundo domingo de outubro ficou definido como o dia de realização da procissão do Círio em 1901. Atualmente, o percurso da procissão tem 3,6km. Da catedral, segue para a Praça Frei Caetano Brandão e para a Praça do Relógio. De lá, passa pelas avenidas Portugal, Boulevard Castilhos França, Presidente Vargas e Nazaré. A Praça Santuário é o ponto final. “É uma alegria trazer para São Paulo, espalhar pelo mundo, a devoção a Nossa Senhora de Nazaré. É a cultura do Pará”, diz o padre paraense Renato de Souza, de 51 anos, um dos organizadores do evento. A festa paulistana ocorre hoje no Sumaré, na Zona Oeste, com direito a missa, procissão e barraquinhas com pratos típicos da Região Norte. “Fazer Círio sem comida não funciona para o paraense. Eu gosto disso”, completa o religioso.