O agronegócio das frutas no Brasil e no mundo e as experiências exitosas nesse segmento da produção nas diferentes regiões do País serão o foco dos debates do XXIV Congresso Brasileiro da Fruticultura, que começa nesta segunda-feira, dia 17, no Hotel Luzeiros, em São Luís (MA), e se estenderá até o dia 21.
Realizado pela primeira vez no Maranhão, o evento prevê reunir cerca de 1.200 pessoas, entre de profissionais de pesquisa, ensino e extensão, produtores, estudantes de graduação e pós-graduação, empresários e técnicos de empresas públicas e privadas interessadas neste setor do agronegócio brasileiro, que vem se transformando numa das principais fontes de renda do País.
O Congresso é promovido pela Sociedade Brasileira de Fruticultura, em parceria com o Governo do Estado, através das Secretarias de Agricultura e Pecuária (Sagrima) e Agricultura Familiar (SAF), Universidade Estadual do Maranhão (Uema), Universidade Federal do Maranhão (UFMA), Instituto Federal do Maranhão (IFMA), Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), e apoio do Sebrae, Senar/CNA, CNPq, Banco do Nordeste, Codevasf, Inagro, Capes, EMAP/Porto do Itaqui e outros parceiros.
ABERTURA – A abertura oficial será às 19:20 desta segunda-feira (17), no auditório central do Hotel Luzeiros, com a palestra-magna “Experiences in ecophysiology of subtropical and tropical fruitcrops research” (Experiências em Ecofisiologia de Fruteiras Tropicais e Subtropicais), a ser proferida pelo pesquisador Bruce Schaffer, da Universidade da Florida/ Estados Unidos.
Mas a programação já começa pela manhã com conferencistas nacionais e internacionais. Ao todo são cinco mini-cursos, oito mesas-redondas e dez conferências com abordagem ampla sobre o potencial, as inovações tecnológicas, técnicas de cultivo e manejo, o cenário atual, as inovações tecnológicas e as perspectivas do segmento da fruticultura no Brasil e no mundo.
O elo da cadeira produtiva da fruticultura nas regiões Nordeste, Norte, Centro-Oeste, Sul e Sudeste, também será mostrado e discutido em cinco Câmaras Técnicas programadas para o evento.
O presidente da Sociedade Brasileira de Fruticultura (SBF), Almy Cordeiro de Carvalho, acredita que ao levar para as regiões a apresentação de trabalhos técnico-científicos, palestras e debates sobre todos os elos da cadeia do agronegócio de frutas, o congresso proporciona o intercâmbio de importantes informações entre os agentes envolvidos e “tem como reflexo a visibilidade da exploração de frutas como opção ao desenvolvimento regional”.
Carvalho avalia que desde a sua primeira edição do evento, em 1971, na cidade de Campinas (SP), o congresso vem reunindo um número expressivo de pessoas envolvidas na pesquisa, produção e agronegócio de frutas.
Em cerca de 50 anos de história, a SBF se apresentou como uma incentivadora do desenvolvimento da fruticultura nacional e optou por promover o evento nas diferentes regiões do país. Como exemplos mais recentes, Carvalho cita os congressos realizados em Petrolina (1991), Fortaleza (1993) e Belém (2000), em períodos onde a exploração local de fruteiras se mostrava no início do seu caminho de sucesso.
POTENCIAL DA FRUTICULTURA DO MARANHÃO
A realização do Congresso Brasileiro de Fruticultura em São Luís é também uma oportunidade para discutir e mostrar o potencial da fruticultura no estado do Maranhão.
“A despeito do Maranhão importar quase todas as frutas consumidas aqui, ele tem um potencial gigantesco para ser um grande exportador de frutas não só para outros estados como para outros países, inclusive por sua posição privilegiada”, destacou Almy de Carvalho, fazendo referência ao Porto do Itaqui.
Para o engenheiro agrônomo e pesquisador da Embrapa Cocais, Eugênio Emérito, existe um ambiente favorável para que o Maranhão desenvolva experiência semelhante aos estados líderes em frutas do Nordeste, e cita os núcleos produtivos que tem se destacado na produção de algumas frutas, com o de abacaxi, em São Domingos e Turiaçu, e de açaí (juçara) no eixo Arari/Penalva, além da estrutura que existe nos perímetros irrigados do Salangô, em São Mateus, e Tabuleiros, em São Bernardo.
“Essas iniciativas necessitam da mão incentivadora do Estado, através da aplicação de políticas públicas de planejamento, fomento e assistência técnica nos campos agronômico e gerencial”, diz o pesquisador.
ABACAXI – A Embrapa observa que a produção de abacaxi no Maranhão, por exemplo, registrou crescimento no período de 1990 a 2014, saindo de cerca de 7 mil toneladas para cerca de 30 mil toneladas, com picos entre os anos de 2000 a 2006 em torno de 45 mil a 35 mil toneladas. Cerca de 80% dessa produção é originaria do município de São Domingos que exporta grande parte para São Paulo, via transporte rodoviário, e de lá atinge os mercados de Buenos Aires e Rosário na Argentina.
“Se considerarmos um deslocamento de 30% da produção atual de abacaxi do Maranhão (7.500 toneladas) para o mercado externo via porto de Itaqui, teríamos 747 toneladas por mês durante 4 meses do ano para escoar ou 25 containers de 30 toneladas. Uma outra perspectiva é via ação induzida pelo governo do Estado ligado ao programa das cadeias produtivas”, sugere Eugênio Emérito.
AÇAÍ – No caso da juçara – como o açaí é chamado no estado, mesmo fazendo parte da cultura maranhense e estando presente na dieta dos habitantes dos centros urbanos e rurais e nas manifestações culturais não tem tido uma política agressiva de produção e marketing como foi feita pelo Estado do Pará.
“É possível recuperar o espaço perdido com ações de planejamento e estímulo às iniciativas já em andamento”, diz o pesquisador. Ele apontando como estratégia: agregação e estímulo aos extrativistas das várzeas úmidas e incentivo á expansão do cultivo da variedade de açaí de terra firme lançado pela Embrapa, o BRS-Pará.
“A ação do Estado estimulando e agregando os pequenos extrativistas e os empresários do cultivo racional pode criar um polo maranhense em condições de competir com o Pará e atingir, através do Porto de Itaqui, os mercados americano e europeu ávidos pelo açaí”, acentuou.
MINI-CURSOS, CONFERÊNCIAS E MESAS-REDONDAS
A programação do congresso consta de oito mesas-redondas, que vão abordar os seguintes temas: Mercado e difusão das frutas nativas; Pós-colheita de fruteiras; Qualidade de e uso da água na fruticultura; Culturas de Suporte Fitossanitário Insuficiente; Estratégias de agregação de valor para a frutas da biodiversidade brasileira. Agroecologia e a fruticultura; e Frutas na indústria.
Serão ministrados cinco mini-cursos, que vão discorrer sobre os temas: Análise instrumental de cor aplicada em fisiologia pós-colheita de frutas; Ecofisiologia de Mamoeiro; Análise de resíduos de pesticidas em frutos e na água de irrigação; Açaizeiro – Manejo de populações naturais e cultivo em áreas de terra firme; e Fruticultura Ornamental.
CONVIDADOS INTERNACIONAIS – Três das conferências programadas para os cinco dias do evento serão proferidas por convidados internacionais: Protected cultivation of fruit crops (Cultivo Protegido em Fruticultura), com Julián Cuevas Gonzaléz, da Universidad de Almeria, Espanha; ”Métodos multivariados para a otimização de metodologias analíticas na fruticultura”, com Armindo Jorge Alves de Melo, da Universidade do Porto/Portugal; e “Métodos analíticos na determinação de polifenois em frutos”, com Edgar Augusto da Costa Pinto, da Escola Superior de Tecnologia de Saúde do Instituto do Porto/Portugal.
Pesquisadores da Embrapa também estão entre os palestrantes e vão falar de temas como: “Introdução e Produção de Fruteiras de Clima Temperado em Regiões Tropicais”, com Paulo Roberto Coelho Lopes, da Embrapa Semiárido/PE; “O estado atual da fruticultura de exportação”, com Joston Simão de Assis, também da Embrapa Semiárido/PE; “Desenvolvimento de embalagens para frutas ‘in natura’”, com Antonio Gomes Soares, da Embrapa Agroindústria de Alimentos/RJ.
As outras duas conferências que completam a programação são: “Financiamento e Pós-Graduação em Fruticultura no Brasil”, com Rafael Pio, da Universidade Federal de Lavras/MG, e “Acesso a Materiais genéticos de frutas nativas: legislação e procedimentos”, com Fabrício Santos, do Ministério da Agricultura.