404 ANOS

A Ilha e os modernos cartões-postais

Entre os locais preferidos pelos turistas que vem a São Luis, não existe só a Igreja da Sé ou os casarões e seus azulejos coloniais

São Luis completa 404 anos desde sua fundação em 1612, e entre os casarões coloniais que guardam além de memórias e singularidade, o título de Patrimônio Cultural da Humanidade, se harmonizam nesse meio as construções mais modernas e que também contam histórias como marcos turísticos da capital.
O significado de marco no dicionário pontua como qualquer acontecimento que, por sua importância, marca época na história individual ou coletiva, sendo assim, seria preciso a prospecção por um longo período de tempo para considerar alguns pontos turísticos da nova São Luis com essa denominação. Porém, para os ludovicences um local nem sempre precisa ser histórico para ser considerado parte da identidade da cidade, a história dos personagens ou a relevância desse local para como parte do que São Luis tem a oferecer já traduz a sua importância.
Entre os locais preferidos pelos turistas que vem a São Luis, não existe só a Igreja da Sé ou os casarões e seus azulejos coloniais, mas também locais que existem há menos tempo e que por si só oferecem belas lembranças da cidade dos amores.
Praça Maria Aragão
Maria José Camargo Aragão, mais conhecida por Maria Aragão nasceu em São Luís, no dia 10 de fevereiro de 1910. Vinda de uma família de sete filhos iniciou sua na medicina como pediatra, mas fez carreira como ginecologista. Formou-se em medicina pela Universidade do Brasil, no Rio de Janeiro. Com sua origem na extrema pobreza, ela é um dos maiores exemplos de superação da fome, do preconceito, da agressão e da perseguição do sonho de ajudar a humanidade. Dotada de um grande senso de liderança, enfrentou as oligarquias políticas, durante o regime militar na década de 60, e sofreu as perseguições promovidas pela ditadura. Maria Aragão faleceu em 23 de junho de 1991.
O arquiteto Oscar Niemeyer era amigo da médica Maria Aragão e idealizou um projeto dotado de estruturas com grandes balanços e curvas monumentais, desenvolvidas com lajes duplas nervuradas, nas quais foram utilizados materiais de alta tecnologia. Em 2003, esse projeto foi inaugurado com o Memorial Praça Maria Aragão, no Centro Histórico de São Luís, a praça localizada na Beira Mar possui um acervo com fotos e objetos pessoais da homenageada e é um espaço para manifestações populares e artísticas no estado, assim como eventos tradicionais como São João.
Lagoa da Jansen
O Parque Ecológico da Lagoa da Jansen está localizado entre a Praia da Ponta d’Areia e o bairro São Francisco e possui 6 mil metros quadrados de área com restaurantes, quadras poliesportivas, ciclovias, pistas para cooper e muito espaço livre. Além disso, à noite, a orla da lagoa tem nos barzinhos, boates e pizzarias o movimento noturno ideial das grandes cidades.
Lagoa da Jansen
A homenagem a Ana Joaquina Jansen Pereira, conhecia popularmente como Ana Jansen ou “Donana” que era neta de um comerciante holandês falido, e escandalizou a sociedade maranhense do século XIX, tornando-se amante de um coronel rico e casado, e ainda por cima, sendo mãe solteira. Após a morte da esposa do militar Donana se casou com ele e como uma ótima comerciante, multiplicou a fortuna do marido. Ana teve com o coronel seis filhos. Com sua morte, Ana então com 38 anos, transformou-se na poderosa “Donana, a rainha do Maranhão”, se firmando como uma das maiores produtoras de algodão e cana-de-açúcar do Império, além de possuir o maior contingente de negros do Estado.
A lagoa que leva o nome dessa ilustre personagem da cultura popular ser classificada como uma lagoa artificial formada a partir do represamento do igarapé Ana Jansen, devido ao aterro e consequente construção da rodovia Maestro João Nunes, que ocorreu por volta do ano de 1974, rodovia esta que liga o bairro do são Francisco à praia Ponta da Areia.
Até 1974, o local era um exuberante manguezal com 169 hectares. A partir do crescimento populacional na capital na década de 70, e com o aumento populacional, foram criadas novas avenidas e dentre elas, a Avenida Maestro João Nunes, hoje denominada popularmente de Avenida Ana Jansen. Esta avenida facilitou o acesso à praia, já que a Ponta d’Areia ficou apenas 4 km do centro da cidade. Com a construção dessa avenida, surgiram alguns loteamentos para a classe média no entorno da Lagoa, ou seja, nos bairros de São Francisco, Renascença I e II e Ponta do Farol, áreas consideradas atualmente zonas nobres da capital.
Na orla marítima próxima a Lagoa, o incentivo à valorização do turismo começou a crescer, desviando o foco voltado apenas para o centro histórico.
A Lagoa, foi transformada em uma área de lazer, pesca artesanal e turismo em 1988, ano em que se tornou um parque ecológico através do projeto de lei nº037/88 de 23 de junho de 1988.
Apesar disso, por conta de vários anos de descarte inapropriado de efluentes pelos esgotos de conjuntos residenciais próximos, assim como pelas palafitas instaladas às as margens da lagoa, obras de despoluição tiveram que ser feitas no intuído de devolver toda a beleza do local.
Recentemente a lagoa passou por serviços de reurbanização, revitalização do espaço público e entrega de área de convivência o que trouxe de vota muitas famílias para esse espaço ilustre da cidade.
Espigão Costeiro
Anderson Nascto - Pôr do sol no Espigão Costeiro

Inicialmente o Espigão foi uma resposta para agressão do mar à orla que vai desde a ponta da areia na Península até o Iate Clube de São Luís. Construções de estruturas com essa são observadas no mundo inteiro, e no Brasil próximo ao Maranhão, em Fortaleza, é possível perceber a construção de vários espigões com essa mesma finalidade. Após a construção do espigão de São Luis estrutura foi aproveitada de forma econômica, já que o espaço chamava a atenção do ludovicences por ser a primeiro desse tipo na ilha. Com a urbanização do espigão o todo o seu entorno, a cidade via nascer um dos pontos turísticos mais bonitos construídos recentemente, beleza que antes mesmo da finalização, levava vários curiosos e visitantes a desfrutarem da obra.

O Espigão tem mais de 500 metros de extensão, é cercado por parapeitos de madeira no entorno e orla possui postes de iluminação, calçadão e ciclovia. No local, há também quiosques para venda de água de coco e bancos para o descanso dos usuários.
Segundo o Engenheiro Civil Igor Câmara, que participou da construção do espigão costeiro, a principal utilidade da obra referente à preservação da orla foi alcançada com excelência. “O Espigão Costeiro, antes mesmo de terminar a obra de urbanização já era possível notar a funcionalidade dele, pois a agressão a orla da Península já havia cessado. O mar perdeu força e parou de agredir.” Relata Igor.
Tomando o posto de cartão-postal da capital, o local também muito procurado como opção de lazer, refúgio para os apaixonados e ainda opção para atletas, como os de stand up pedal, remo e caiaque.
Além de proporcionar a navegabilidade entre os Rios Anil e Bacanga, o espigão é palco de movimentos artísticos e culturais que nas tardes de por do sol encantam e valorizam ainda mais esse que é um dos mais novos e também mais bonitos pontos turísticos da capital e um marco que adequa as características da cidade à novas estruturas.
Avenida Litorânea
A Avenida Litorânea, na orla de São Luís é um dos locais mais visitados por que gosta da vida noturna na cidade, mas nem só de festas se resume a orla que é um local que proporciona todo o tipo de diversão. Com seis quilômetros de extensão por todo o calçadão que nomeia a via, a avenida abrange a faixa da Praça do Pescador, na praia de São Marcos, até a Praia do Caolho. Além de ser o local de happy hour preferido para quem busca ver um lindo por do sol, ou apenas caminhar pela areia no fim de tarde, a Avenida Litorânea é um centro para vários praticantes de atividades físicas, que correm ou caminham por todo o calçadão e utilizam o espaço como ambiente de treinamento. Local onde um pouco da cultura pode ser aprendida através das histórias dos vendedores de coco, ou ambulantes que fabricam arte com produtos regionais como o coco babaçu. Por ter uma concentração de redes hoteleiras, a Avenida Litorânea também é quase sempre a primeira impressão que o turista tem da cidade, por isso é os dos mais fortes contrastes entre a São Luis histórica e a moderna.
A São Luis que aos poucos se aproxima de metrópoles como São Paulo, onde prédios gigantescos, centros comerciais altos e imponentes e apartamentos que passam dos vinte andares revelam que o futuro é dos grandes centros urbanos, e a paisagem da cidade verá cada vez mais edifícios grandiosos refletidos pela vista tradicional da Beira Mar.
Litorânea

Em bairros como Renascença e Ponta d’areia o crescimento vertical já é visível de forma exponencial fazendo com que cada vez mais pessoas procurem condomínios fechados e moradias conjuntas.

O engenheiro civil Igor Câmara observa o crescimento imobiliário de São Luis como um fator positivo para que a cidade seja alçada ao patamar de grandes centros urbanos, e assim além de um centro histórico saudosista, será também uma das capitais que segue para o futuro. “De 2008 para cá, a cidade viveu um boom imobiliário, vários empreendimentos foram realizados, e a ilha inteira foi praticamente comprada. O problema disso tudo foi a crise que atingiu não somente a cidade mas o país inteiro. A cidade precisa crescer e precisa de investimento também, um importante passo é esse crescimento urbano. Nossa cidade tem potencial para ser uma Fortaleza/Recife da vida, temos muito o que crescer e área a construir para isso, a crise nos prejudicou e os investimentos precisam voltar. Ainda acredito em São Luís como polo nacional e quem sabe global também”, reforça Igor.
Esse crescimento é necessário? Duas perguntas para Frederico Lago Burnett
O arquiteto, mestre em desenvolvimento urbano e doutor em políticas públicas, Frederico Lago Burnett comenta como esse crescimento interfere na geografia da cidade e pode ser prejudicial sem uma elaboração acurada.
São Luis tem um plano diretor que orienta o crescimento urbano. Esse crescimento está sendo exagerado?
“São Luís tem um plano diretor, elaborado e aprovado em 2006, mas que nunca foi aplicado. Suas proposições – bastante genéricas, pois foi feito em cinco meses -, não foram detalhadas e regulamentadas como políticas setoriais de habitação, saneamento e mobilidade, muito menos no que se refere à inscrição dos instrumentos do Estatuto da Cidade que implementam a função social da cidade e da propriedade privada urbana. Dez anos depois, o processo de revisão do Plano Diretor foi distorcido e se transformou na atualização das taxas de ocupação da lei de zoneamento, mantendo como sempre a discussão urbana concentrada nas áreas de interesse do mercado imobiliário, uma reduzida parcela do espaço urbano de São Luis, justamente onde vive e trabalha a parcela mais rica de sua população, deixando mais uma vez de dar atenção aos grandes necessitados de infraestrutura e serviços urbanos. As ações e intervenções de políticas urbanas feitas e em curso não tem relação com as propostas do PD, são fragmentadas e atendem interesses localizados, a cidade não é vista como um organismo coletivo, não se concretizou um projeto de cidade. As áreas naturais, incluindo a hidrografia da Ilha, seguem à mercê de ocupações de ricos e pobres; a cidade continua sem calçadas, ciclovias e transporte de massa”.
Frederico Burnett acredita também que o crescimento urbano vertical não pode ultrapassar anos e anos de construções de residências populares em fator de importância e interesse.
A cidade dos casarões agora está se tornando a cidade dos grandes edifícios. Como essa mudança na paisagem afeta a geografia da capital?
“Nem São Paulo, a maior metrópole do país, tem mais construções verticais que horizontais, o que predomina, lá como aqui, são as construções residenciais unifamiliares da população de média e baixa renda e não “grandes edifícios”. Esta é uma falsa imagem, ou como dizem, uma lenda urbana, que acomete toda e qualquer cidade, que prefere divulgar seus espaços modernos e bem servidos. Quanto à geografia da capital, como cidade construída sob hegemonia da propriedade privada, ela está determinada por um padrão urbano ditado pelo valor de uso do solo, que se baseia na localização – um valor que se constrói socialmente com recursos públicos e privados e que se mostra controlado pelo poder econômico e político – e na geografia física – recursos ambientais naturais ou construídos. A São Luis atual se constrói a partir dos anos 1970, com a conquista da região litorânea e os quase 50 anos de trabalho social em favor da valorização exacerbada da área privilegiada pela proximidade de praias e que, como toda cidade à beira-mar, é refém dos interesses de produtores e consumidores deste espaço”, Avalia Frederico.
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