HERÓIS DO DIA A DIA

Você conhece a dona Corina, a vendedora de pirulitos caseiros?

Tábua vazia… por enquanto!

Quem costumava comprar os pirulitos caseiros de dona Corina – aqueles enroladinhos num papel manteiga – ou vê-la em geral pelas ruas do Centro de São Luís com a sua inseparável tábua de pirulitos deve estar sentindo falta dela nesses últimos dias. É que dona Corina Serra da Silva Martins, de 88 anos, natural de Itapecuru (MA), sofreu um acidente quando voltava para casa, no Residencial Saramanta, e desde então aguarda restabelecimento de sua saúde para poder voltar a trabalhar de novo.
O acidente foi no dia 24 de junho, Dia de São João. Era tardezinha e dona Corina já tinha vendido um tabuleiro na Praia Grande e regressava para pegar outro e retornar para a pra praça Maria Aragão. “Nesses dias assim de festa, chego a vender até três tabuleiros. Mas nesse dia um motoqueiro atravessou a rua com o farol apagado e me atropelou aqui perto de casa. Quis Deus que fosse assim”, lamenta.
Corina teve ferimentos em um lado do corpo e até hoje sente dores no ouvido, peito e cabeça. Também não se lembra de algumas coisas que aconteceram após o acidente, mas isso não impede que ela sorria e que agradeça por estar viva. “Pensei que fosse morrer, mas estou aqui e na hora que eu ficar boa eu volto a trabalhar de novo, pois é o que eu gosto de fazer, e também porque não tem ninguém pra vender, e assim, não tenho a minha renda pra ajudar a sustentar a casa”, conta.
O pirulito é vendido a R$ 1 e em cada tábua ela consegue R$ 140. Ultimamente, como ela tinha que sair pra vender, a filha Maria Dulcimar, conhecida por Nena, é que fazia os doces. “Eu já não enxergo mais direito pra botar nas cachopas, os meus dedos dão câimbra. Antigamente eu que fazia e pagava uns meninos para vender, mas depois disseram que criança não pode trabalhar, então eu comecei a trabalhar na rua, mas isso foi só depois que meu marido faleceu”, lembra.
Dos variados sabores de pirulito ela diz que os que mais procurados são os de maracujá e os de gengibre, mas afirma que a filha faz de todos os sabores e de preferência com produtos naturais.
Dona Corina é viúva há 30 anos e casou-se com 14. Mãe de cinco fi lhos, um deles falecido, tem ainda oito netos e quatro bisnetos. Mora com uma fi lha e complementa a pensão com a renda dos pirulitos. A maior dor dela neste momento é não poder vender o produto, que já virou tradição na cidade. “Conheço muita gente, muitos lugares, converso com as pessoas, isso pra mim é vida. Eu sou saudável, tenho vontade de trabalhar, gosto de trabalhar, então… tem gente que elogia, tem gente que critica…”, diz. “E as pessoas que criticam dizem o quê?”, pergunto a ela. “Que eu já tô velha, que eu tenho que fi car em casa, que eu não tenho que andar na rua. Mas eu não ligo não”, responde. “E os seus fi lhos dizem o que disso?” Ela responde: “Não gostam, mas não dizem nada. Eles não têm nada que dizer. Eu é que mando aqui. Eles têm é que me obedecer”, afirma.
Como tudo começou
Foi na Escola do Padre Estrela, em Coroatá, que dona Corina aprendeu a fazer bolos e doces. E aprendeu de vários tipos. Na época, tinha 16 anos e começou a fazer para vender sob encomenda quando ainda era casada. Após o falecimento do marido, passou a pagar para crianças venderem quando morava em Rosário. Depois, passou ela mesma a vender. Dos variados sabores de pirulito, ela diz que os que mais vendem são de maracujá e o de gengibre, mas afirma que a filha faz de todos os sabores e de preferência com produtos naturais.
Das histórias que mais marcam a sua vida, ela conta de quando foi pra Manaus visitar um filho. Ao chegar lá, não tinha dinheiro para voltar. “As coisas começaram a ficar ruins, aí eu furei uma tábua e fui vender pirulito na rua. Primeiro botei meu neto pra vender, mas aí os ladrões roubaram o dinheiro. Aí eu mesmo fui vender. Em uma dessas vezes ia passando e um cara saiu detrás de uma árvore e botou a faca no meu pescoço ‘se tu gritar eu te mato’. Eu já ia morrer mesmo, então comecei a gritar. Tinha uns homens trabalhando numa construção perto e eles vieram com as ferramentas deles, daí o cara saiu correndo (risos). Ainda hoje, eu me lembro que todo mundo veio pra me acudir”. Em Manaus, ficou morando por mais de dois anos.
Ela contou ainda uma outra história de quando estava trabalhando no Caminho da Boiada e já voltando pra casa. Encontrou um rapaz que pediu para trocar um dinheiro, mas, quando ela abriu a bolsa, o rapaz tirou o dinheiro dela. “Ele não me assaltou, eu que entreguei o dinheiro de besta pra ele”, ri.
“Quero morrer trabalhando”
Falante e carismática, dona Corina diz que com a renda dos pirulitos ajudou a sustentar a família e a construir a casa que tem. “Tem dia que vende bem, tem dia que não, como em qualquer negócio. Agora, se eu achasse quem fizesse a ‘empeleita’ (encomenda), era melhor, nesse período que eu não posso sair pra vender, e a gente mandava deixar em qualquer lugar, porque eu tô precisando. Minha pensão é pouca”, lamenta.
Confirmando a primeira impressão que temos ao ver Dona Corina, embora tenha um corpo franzino, ela é uma mulher altiva e ativa, e diz que na hora que ficar melhor vai voltar a vender. “Porque se a gente tem que morrer… eu já tô velha mesmo. Se é de eu morrer numa cama com os outros botando comer na minha boca (risos), ‘marrante’ eu morrer mesmo debaixo de carro. De qualquer maneira, a gente tem que morrer. Então quero morrer trabalhando. E é bom eu ter meu tostãozinho”, conta.Quem estiver com saudades dos pirulitos de dona Corina e quiser fazer encomenda para ajudá-la, é só ligar para (98)99933-7788 e falar com a filha dela, Nena.
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