DA ELITE AO LIXO

A decadência dos clubes que foram points da alta sociedade

Lítero e Jaguarema foram, durante décadas, points da alta sociedade ludovicense

Daqui a menos de um mês, o Grêmio Lítero Recreativo Português completará 85 anos de fundação. Foram décadas e décadas de glória até chegar ao ponto que está hoje: um local abandonado, depredado, que serve de abrigo e refúgio para marginais. Perto dali, outro clube, tão cheio de histórias e glórias, já nem existe mais. Do local, restam apenas lembranças. O Clube Recreativo Jaguarema, fundado em 1953 na região do Anil, foi durante muito tempo um dos principais espaços de lazer dos moradores de São Luís.
Do antigo Lítero, um dos clubes sociais mais antigos e tradicionais de São Luís, restam apenas escombros. Escombros do que foi um parque aquático, do que foi o clube de festas, do que foi o coreto… Enfim, apenas lixo, desordem e abandono. Há bem pouco tempo atrás festas ainda foram realizadas ali. Mas a degradação foi bem rápida. Por onde passamos, encontramos lixo espalhado, pedaços de roupa, animais mortos, e até mesmo um busto sem cabeça.
Lítero hoje

No lugar onde se realizaram por muitas décadas as famosas festas carnavalescas, hoje só se vê lixo e mato. O Grêmio Lítero Recreativo Português, foi fundado em 6 de agosto de 1931, com sede administrativa à Rua Antônio Raposo, antiga Avenida João Pessoa, nº 443, bairro Anil. Se antes havia um rigor para quem quisesse usufruir do entretenimento sem ser sócio, hoje o clube se encontra de portas abertas, literalmente, pois os portões já foram arrancados.

“Isso só demonstra o declínio dos espaços de festa de São Luís. O que era o Grêmio Lítero? Um clube em que todos queriam ser incluídos. Grandes festas, muitas lembranças boas, e é só o que nos resta, lembrar das coisas boas, das matinês, dos namoricos escondidos atrás das árvores. Das pessoas que sempre davam um jeitinho para entrar, apenas para se divertir. Era muito salutar”, relembra Yeda Passos, de 55 anos.
“As festas de clubes eram muito famosas, então, hoje dá para contar isso, mas nós íamos com uns primos que eram sócios e aí a gente entrava na mala do carro. Era muito emocionante. Hoje dá tristeza de ver como ficou o clube, completamente abandonado”, diz o auxiliar de enfermagem Antônio Pinheiro, de 47 anos.
Jaguarema virou lixão 
Jaguarema

O Clube Recreativo Jaguarema, fundado em 3 de fevereiro de 1953, pelo Dr. Orlando Araújo, também ficava na região do Anil e foi durante muito tempo um dos principais espaços de lazer dos moradores de São Luís. Nesse clube também aconteceram vários bailes de carnaval da cidade e as festas da alta sociedade tais como aniversários de 15 anos, formaturas, desfiles, entre outros. O Jaguarema também foi o primeiro clube de São Luís a possuir uma quadra de voleibol.

Mas o que sobrou? Nada. O motorista João Evangelista, de 60 anos, jamais imaginou que um dia pisaria no lixão que se formou o clube Jaguarema, local que tanto se divertiu e que guarda as melhores lembranças. “Era muito concorrido aqui, as pessoas faziam de tudo para entrar, e era uma das melhores festas carnavalescas”, lembra ele, frequentador do local durante a adolescência.
Do terreno que um dia foi o clube, resta apenas parte do local, que segundo seu João Evangelista, era onde ficava o estacionamento do clube. A parte de trás hoje cedeu espaço a condomínios de prédios. “O que a gente vê hoje aqui é isso: lixo. As pessoas vêm de carro deixar lixo”, comenta.
Vizinho ao terreno do clube, Raimundo Ferreira de Araújo, de 88 anos, possui uma oficina mecânica há 45 anos, e presenciou não só os tempos gloriosos do clube, dos bailes, vesperais, matinês, mas no que ele se tornou atualmente.
Jaguarema hoje

“Era um clube muito frequentado por pessoas de fora, era muito bom nessa época. Muito sociável. Eu frequentava pouco, porque era mais um pessoal de elite que vinha para cá, e também porque toda vida fui evangélico. Hoje aqui nada tá prestando. É esse lixão que estamos vendo, ladrão demais no local, maconheiro, tudo que não presta. O poder público não faz uma limpeza, não interessa ao prefeito, ao governo… e pode colocar aí o que eu disse, que se me procurarem eu repito tudo que falei”, afirma.

Foi a partir de 2005 que o Clube se deteriorou de fato. O prédio, depois de depredado, teve todas as dependências do clube destruídas. Telhas, portões, tijolos, cerâmicas, sanitários, portas e traves foram levados por vândalos. Em 2006, o Jaguarema, em leilão, foi vendido por R$ 370 mil para a Canopus Engenharia.
Os carnavais de clube
Os clubes considerados da alta sociedade, como Casino Maranhense (onde hoje é a sede do Viva Cidadão), Grêmio Lítero Recreativo Português e Jaguarema, realizavam grandes e concorridas festas carnavalescas. Neste último, o baile da segunda-feira de carnaval tinha como ponto alto o desfile de fantasia, com prêmios compensadores para os vencedores.
Em artigo, o presidente da Academia Maranhense de Letras, Benedito Buzar, fala sobre o carnaval de São Luís até a década de 1960, que dividia-se em brincadeiras de rua e de salão.
“O carnaval de salão primava pelos bailes nos clubes de primeira e de segunda. Os de primeira realizavam-se no Jaguarema, Lítero Recreativo Português, Cassino Maranhense e Clube dos Sargentos, bem como nas residências particulares – os chamados assaltos. Os de segunda, também denominados bailes de máscaras, faziam grande sucesso na cidade e organizados para atender uma clientela masculina, que buscava programas com mulheres descompromissadas. Os clubes sociais, frequentados por associados e convidados da alta e média sociedade, organizavam festas carnavalescas que começavam no réveillon e terminavam no chamado tríduo momesco”, aponta o imortal.
Antigos carnavais de clube

A também imortal Ceres Fernandes escreveu sobre as festas carnavalescas, especificamente sobre o Jaguarema dos anos 70 e 80. “O Jaguarema comemorava o auge de seu carnaval com o baile do desfile de fantasias da Segunda-Feira Gorda. O baile mais esperado da cidade. O clube enchia de regurgitar. Alguns dos sócios mais antigos chegavam a reclamar o excesso de gente não associada a perturbar o conforto dos donos da casa que ficavam de dedinho levantado, por horas, tentando atrair um garçom, até conseguirem um balde de gelo ou uma carne-de-sol trinchada. O desfile de fantasias, nas categorias luxo, originalidade, masculino e feminino – a bem da verdade, nada que chegasse a se ombrear com os desfiles famosos do Teatro Municipal carioca, modelo de dez entre dez eventos do gênero – fazia o deleite dos foliões”.

E a mestra em literatura continua em seu artigo: “As Festas do Jaguarema, as Tertúlias dos domingos no Grêmio Lítero tornaram-se apenas tópico de conversas amenas entre coroas de olhar perdido. E as festas do Casino Maranhense não mais terminam, sob a luz do sol, com o cortejo de foliões seguindo animadamente a orquestra até à velha sede do clube. Mas sei também que houve, para cada um dos que viveram essas festas, os instantes de beleza. E isso é para sempre”.
o Dr. Orlando Araújo, também ficava na região do Anil e foi durante muito tempo um dos principais espaços de lazer dos moradores de São Luís. Nesse clube também aconteceram vários bailes de carnaval da cidade e as festas da alta sociedade tais como aniversários de 15 anos, formaturas, desfiles, entre outros. O Jaguarema também foi o primeiro clube de São Luís a possuir uma quadra de voleibol.Mas o que sobrou? Nada. O motorista João Evangelista, de 60 anos, jamais imaginou que um dia pisaria no lixão que se formou o clube Jaguarema, local que tanto se divertiu e que guarda as melhores lembranças. “Era muito concorrido aqui, as pessoas faziam de tudo para entrar, e era uma das melhores festas carnavalescas”, lembra ele, frequentador do local durante a adolescência.Do terreno que um dia foi o clube, resta apenas parte do local, que segundo seu João Evangelista, era onde ficava o estacionamento do clube. A parte de trás hoje cedeu espaço a condomínios de prédios. “O que a gente vê hoje aqui é isso: lixo. As pessoas vêm de carro deixar lixo”, comenta. Vizinho ao terreno do clube, Raimundo Ferreira de Araújo, de 88 anos, possui uma oficina mecânica há 45 anos, e presenciou não só os tempos gloriosos do clube, dos bailes, vesperais, matinês, mas no que ele se tornou atualmente. “Era um clube muito frequentado por pessoas de fora, era muito bom nessa época. Muito sociável. Eu frequentava pouco, porque era mais um pessoal de elite que vinha para cá, e também porque toda vida fui evangélico. Hoje aqui nada tá prestando. É esse lixão que estamos vendo, ladrão demais no local, maconheiro, tudo que não presta. O poder público não faz uma limpeza, não interessa ao prefeito, ao governo… e pode colocar aí o que eu disse, que se me procurarem eu repito tudo que falei”, afirma. Foi a partir de 2005 que o Clube se deteriorou de fato. O prédio, depois de depredado, teve todas as dependências do clube destruídas. Telhas, portões, tijolos, cerâmicas, sanitários, portas e traves foram levados por vândalos. Em 2006, o Jaguarema, em leilão, foi vendido por R$ 370 mil para a Canopus Engenharia.
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