FANTASMAS?

Trágico passado do Palácio das Lágrimas

Trabalhadores da reforma do Palácio das Lágrimas contam sobre portas batendo e fantasmas no casarão que tem uma história trágica

Boa parte dos casarões famosos do Centro Histórico de São Luís estão envoltos em mistérios e lendas, algumas tristes, outras dignas de contos de terror gótico. Nossa versão dos penny dreadfuls, os contos de terror vitorianos, incluem senhoras de escravos andando em sua carruagem de fogo à noite, fantasmas lamurientos em um palácio que testemunhou amores e assassinatos, uma figura lânguida com cabeça de fumaça que evitava a cobrança de impostos, entre outros.
Em quase todas as lendas que envolvem o sobrenatural, de variadas formas, um aspecto se repete: o eco dos séculos de trabalhos forçados imposto a homens e mulheres, imigrantes da África ou mesmo nativos da terra, e o chicote dos senhores de escravos que viviam no Maranhão.
As lágrimas
Palácio das Lágrimas

Um dos casarões mais famosos tem um nome que de cara já evoca a tristeza de sua lenda. O Palácio das Lágrimas fica na Rua 13 de Maio, em uma alameda bem de frente com a Igreja de São João, de canto com a Rua da Paz, no Centro. Conta-se que os primeiros moradores do imóvel foram dois irmãos portugueses, que vieram para o Brasil no século XIX em busca de riquezas, os irmãos Pádua.

Jerônimo de Pádua conseguiu “fazer fortuna”, trabalhando no comércio, mas, diziam pela cidade, o dinheiro vinha mesmo do tráfico de escravos. O segundo irmão, de nome perdido na lenda, não conseguiu subir na vida, e desenvolveu rancor e inveja do irmão rico. Jerônimo não era casado, mas vivia amasiado com uma escrava, o que hoje se chamaria de união estável. Da união nasceram filhos ilegítimos, e a inveja do irmão pobre só crescia.

“Palácio que viste as lágrimas derramadas por minha mãe e meus irmãos. Daqui por diante serás conhecido como Palácio das Lágrimas “, agouro que teria sido entoado pelo escravo morto no Palácio das Lágrimas

Diz a lenda que a morte de Jerônimo foi projeto do irmão pobre para se apossar dos bens, o que de fato aconteceu, já que os filhos fora de um matrimônio não poderiam herdar nada. Após a morte do irmão rico, os escravos passaram a ser tratados com crueldade, em especial a escrava que havia sido amásia de Jerônimo. Para se vingar, um dos filhos ilegítimos empurrou o tio de uma das janelas, pelo que foi condenado à forca.
Antes de ser executado, em frente ao casarão, o filho de Jerônimo entoou o agouro que hoje parece assombrar as salas da antiga faculdade de Odontologia e Farmácia da Universidade Federal do Maranhão: “Palácio que viste as lágrimas derramadas por minha mãe e meus irmãos. Daqui por diante serás conhecido como Palácio das Lágrimas”.
O Fantasma do Vento
Palácio das Lágrimas

Em conversa com o mestre de obras Francisco Aroldo Rodrigues, encarregado responsável pela condução da reforma do Palácio, que será transformado em um museu, ele nos contou que os vigilantes comentam “ouvir vozes, como se tivesse alguém mais na casa”. O Palácio das Lágrimas está em reforma há quatro anos. A obra esteve parada por alguns meses, mas, segundo o encarregado, “a UFMA informou que não vai mais parar, mas aqui deve demorar mais uns dois anos”.

Para o vigilante Nivaldo Bispo, que há cinco meses passa noite sim, noite não, no casarão centenário, há comentários sobre uma “velha que aparece a noite”. “Eu nunca vi essa velha, mas o colega me contou que viu. O que acontece é que as portas batem, mesmo sem vento, aí vou lá e amarro. Não tenho medo de fantasma, e ainda bem que é uma velha, se fosse um velho acho que teria medo”, disse Nivaldo, em tom divertido.
Fatos históricos
Palácio das Lágrimas

Segundo o mestre em História, Manoel Barros Martins, o Palácio das Lágrimas originalmente era um casarão de três pavimentos, que foi abandonado “por um largo período, do que resultou entrar em franca degradação, ficando em ruína por muitos anos”.

O professor conta que ainda no século XIX, o poeta Sousândrade tinha intenção de promover uma restauração e a adaptação do casarão. “Ele (o palácio) serviria para abrigar um de seus mais caros projetos: o da criação da Universidade Atlântica, mais tarde chamada de Universidade Nova Atenas. Porém, esses sonhos não se materializaram, perdurando o prédio em ruínas”.
“Na primeira metade do século XX, o casarão foi reformado e adaptado. A partir de então, ele passou a servir de sede para o funcionamento da Escola Modelo Benedito Leite e da Faculdade de Farmácia e Odontologia de São Luís, respectivamente”, explicou Barros Martins.
Curiosidade
Os Penny Dreadfuls Maranhenses incluem as lendas da Ana Jansen e sua carruagem de Fogo; a lenda da Maguda, propositalmente criada para evitar a cobrança de impostos pela Coroa; a lenda da Praia do Olho d’Água; a Serpente da Fonte do Ribeirão; e o retorno messiânico de Dom Sebastião.
Reforma
Palácio das Lágrimas

O Palácio das Lágrimas está em reforma desde 2012, sob responsabilidade da Universidade Federal do Maranhão – UFMA, e deverá ser transformado em um museu, o Museu da Ciência, como vem sido apelidado. O prazo inicial era de 120 dias, como pode ser conferido em comunicado no site da Universidade. A recuperação está sendo financiada pelo Programa de Aceleração do Crescimento – PAC, etapa Cidades Históricas, do Governo Federal, com um custo de R$ 2 milhões e 129mil, repassados ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, órgão responsável por todas as obras de recuperação em sítios históricos no Maranhão.

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