Atitude

Menina raspa a cabeça para ajudar crianças com câncer

O gesto faz parte de uma campanha idealizada pela família da garota para levar diversão às crianças em tratamento

Uma menina de 12 anos, saudável, bem que “poderia” estar ocupada com coisas comuns à idade, distrações, entretenimento… Mas não a pequena Laís Coelho. Uma garota decidida, inteligente, articulada e consciente do mundo em que vive; consciente dos problemas, das fragilidades e das tristezas que assolam algumas pessoas, principalmente crianças, que ainda não podem ter uma vida livre de remédios, consultas, internações, medicações, porque passam por um tratamento de câncer.
Durante um passeio de carro pela praia, a pequena começou a pensar (“do nada”, como ela diz) como se sentem as meninas, mulheres que passam por um tratamento de câncer, e que por consequência dele precisam cortar os cabelos, raspar a cabeça. Como elas lidam com a vaidade delas, o que elas sentem, como elas se comportam, como reagem? Incomodada, Laís não pensou duas vezes. Queria saber na prática. E se ela cortasse o cabelo para saber? Despida de qualquer estigma de beleza, Laís decidiu que era isso que queria fazer. Os cabelos davam nos ombros, mas ela não titubeou: iria raspar a cabeça.
O próximo passo era comunicar para os pais. A mãe, Leila, de início ficou surpresa, mas, ao saber da motivação, não só apoiou como se encheu de orgulho. A irmã, Luiza, de 13 anos, também apoiou, embora confesse não ter esse desprendimento. E a outra irmã, de 19, a Isabella, claro que iria apoiar, uma vez que integra um grupo chamado Movimento Vamos Juntas?. Já o pai e os avós não foram muito a favor da ideia. Mas Laís estava decidida. E o pai só ficou sabendo depois que ela já havia raspado a cabeça. “Eu precisava fazer isso para entender como as meninas, mulheres se sentem. Não sei por que as pessoas têm tanto medo de fazer isso. Eu vi que por isso, a gente não encontra muitas meninas por aí, porque elas têm vergonha de sair. Eu quis mostrar para as pessoas que elas não têm que ter preconceito”, conta Laís.
Laís e Luiza
Laís não tem a doença e também não possui ninguém que a tenha. Mas abraçou a causa. E isso rendeu a ela várias reações dos colegas da escola, de adultos e de outras pessoas na rua que achavam que ela tinha feito isso porque estava doente. “Foram muitas as reações, a maioria positiva. Muitas pessoas acharam legal a atitude, outras não. A minha dentista falou que tava feio, um menino do segundo ano também. E eu não falei nada”, comenta.
E teve alguma reação que te deixou mais triste? Pergunto a ela. E ela conta com os olhos marejados de lágrimas que sim. Além de ter sido confundida com um menino, o jeito que foi falado a deixou magoada. “O garoto no shopping ficou me apontando para o pai dele, ria e dizia: ‘olha pai um menino de saias, um menino de saias’. Isso me magoou muito, fiquei triste. Eu chorei”, lamenta, para em seguida dizer: “Mas faço de novo”!
Luiza diz que não tem a mesma coragem da irmã e ficou com receio de que ela sofresse preconceito. “Fiz um trabalho na escola que era sobre violência contra a mulher, e a Laís acabou participando fazendo um vídeo contando dessa experiência dela, e o vídeo foi muito comentado, porque é uma menina de 12 anos e que já sofreu um tipo de violência verbal…”, conta Luiza.

“As crianças têm câncer, mas elas precisam se divertir. Já conseguimos salas de cinema para levar as crianças, mas precisamos de recursos financeiros ainda. Serão 10 sessões previstas para o Dia das Crianças, em parceria com escolas e a Casa de Apoio. Tudo para elas interagirem e conscientizar outras pessoas de que essas crianças precisam de alegria também”, Leila Coelho, mãe de Laís

O despertar para o voluntariado
Leila Coelho, a mãe, conta que Laís despertou esse lado social desde pequena, mas, quando foi visitar um primo que estava com depressão, levou um filtro dos sonhos para ele e quis ela mesma produzir. A partir daí começou a fazer artesanato.
A ideia inicial da campanha era promover uma sessão de artesanato na Casa de Apoio, mas verificaram que haveria mais retorno se promovessem situações a uma vida o mais próximo da realidade, fora do ambiente hospitalar e proporcionando momentos lúdicos e dinâmicos como, por exemplo: oficinas de artesanatos; passeios a pontos turísticos da cidade, cinema e teatro; apresentações musicais. “As crianças têm câncer, mas elas precisam se divertir. Já conseguimos salas de cinema para levar as crianças, mas precisamos de recursos financeiros ainda. Serão 10 sessões previstas para o Dia das Crianças, em parceria com escolas e a Casa de Apoio. Tudo para elas interagirem e conscientizar outras pessoas de que essas crianças precisam de alegria também”, diz Leila. “Além dessas crianças serem tristes por causa da doença, elas ficam também por não poderem ir para outros lugares”, lamenta Luiza.
O show de conscientização e de amor ao próximo de Laís e família não para por aí. A menina quer ser arquiteta para poder construir habitações sustentáveis e proporcionar moradia barata para os mais necessitados. Já Luiza quer ser promotora e defender o direito das mulheres.
Levando risos
“Carregava tempestades
no peito
Ainda assim,
sorria arco-íris”
(Rodolfo Cezar).
Esse poema demonstra o propósito da campanha encampada por Laís, Luiza, Leila. A campanha “O câncer é triste, criança não” quer mostrar que toda criança tem direito e necessita do lazer. Na Casa de Apoio onde ficam as crianças que vêm do interior para fazer tratamento do câncer, elas passam por dificuldades, pois deixam suas casas, amigos, parentes e as rotinas. Muitas delas, segundo Leila Coelho, mãe de Laís, nunca foram ao cinema, teatro ou ao shopping. Para Luiza a campanha quer mostrar que elas podem ter o mesmo convívio, participar das mesmas coisas que outras crianças. “Eu posso ir ao cinema, ao shopping quando quiser, então, a ideia é fazer elas participarem disso também e fazer a integração com outras crianças. Mostrar que elas são iguais a todo mundo”, acredita.
Como ajudar
As irmãs Laís e Luiza
A captação de recursos é feita por meio da venda de camisetas do projeto que custam R$ 35. Cada camiseta vendida representa uma criança acolhida pela campanha. O contato para adquirir as camisetas da campanha é de Leila: (98) 99604-4699.
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