COMPORTAMENTO

Será que somos todos corruptos?

Com o estouro dos escândalos de corrupção envolvendo políticos, é importante que a população coloque a mão na consciência e avalie seus atos

bandeira brasileira
É inegável: no cenário atual do país, todo brasileiro já participou de alguma conversa em que o tema central era a corrupção. Apontada por muitos como o principal motivo para o Brasil “estar como está”, o ato de corromper é muitas vezes associado aos escândalos políticos. Mas o que fazer quando o problema vai muito além da esfera partidária?
No dicionário, encontramos parte da resposta. Ali, o verbete corrupção está associado a “depravação, desmoralização e devassidão” – todos aplicáveis a qualquer âmbito da sociedade. Segundo a cientista política Arleth Borges, Professora Doutora do Departamento de Sociologia e Antropologia da Universidade Federal do Maranhão, “a corrupção é um fenômeno em que normas e valores são descumpridos ou violados, em benefícios de interesses particulares, com prejuízos para o interesse público e a legitimidade do sistema político”.
No dia-a-dia dos cidadãos, a corrupção está presente em grande medida. Muitas vezes, essas ações são facilmente naturalizadas e socialmente aceitas. Exemplos claros são: Comprar produtos falsificados, furtar sinal de TV a cabo e de serviços públicos, adulterar assinaturas e registros ou até mesmo furar a fila.
Para Arleth, isso evidencia que, no Brasil, a corrupção se tornou algo endêmico. “Trata-se, efetivamente, de uma prática enraizada em toda a sociedade. Todas as regiões, todas as classes. Agora, alguns têm mais recursos que outros para operá-la e, consequentemente, mais potencial para causar danos maiores à sociedade. Embora se possa dizer, com razão, que furar uma fila seja corrupção, assim como desviar os recursos de um hospital público, os prejuízos para o interesse público gerados por esta última são efetivamente muito maiores. Mas, ambas devem ser coibidas”.
Mas não é de hoje que o tema faz parta da pauta social brasileira. “Os processos de formação do Brasil, marcados por uma cultura de privilégios e por uma institucionalidade ou sistema de regras frouxo, certamente contribuem para esse quadro. Entre nós, ainda está por se consolidar uma atitude e uma compreensão de que a lei é uma obrigação para todos. Até hoje, a pré-disposição para descumprir leis, no Brasil, é, comparativamente bem mais alta que em outros países. Não está muito longe nem tampouco erradicada a visão das nossas elites segundo a qual, ‘as leis são pão para os amigos e pau para os inimigos’, ou ‘para os amigos, os favores da lei, para os inimigos, os rigores da lei’”, afirma.
Apelo popular
Desde 2010, com a aprovação da Lei Ficha Limpa, a pressão popular pela honestidade no âmbito da gestão pública vem crescendo consideravelmente. Parte dessa mudança pôde ser vista no aumento no número de manifestações contrárias à corrupção nas ruas das principais cidades brasileiras.
Foram mais de 3 milhões de pessoas protestando no último mês de março, em pelo menos 250 cidades. As manifestações foram convocadas através da internet, coordenadas por movimentos sociais. A principal delas – Movimento Contra a Corrupção – possui mais de 2 milhões de seguidores virtuais.
Outra iniciativa que merece destaque é a campanha “Pequenas Corrupções – Diga Não”. Criada pela Controladoria Geral da União, a campanha gerou grande repercussão nos anos de 2014 e 2015. Foram cerca de 10 milhões de usuários alcançados virtualmente. O objetivo da ação se focava na conscientização dos cidadãos para a necessidade de combater atitudes antiéticas, que costumam ser culturalmente aceitas e ter a gravidade ignorada ou minimizada.
Em pesquisa divulgada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) em 2014, 82% dos entrevistados afirmou que a maioria dos brasileiros age querendo tirar vantagem dos outros. 2.002 pessoas foram entrevistadas em 143 municípios de todo o país.
 
“Jeitinho brasileiro” e pessoalidade
Referências à corrupção são recorrentes na literatura. Em “O que faz do Brasil, Brasil?”, o antropólogo Roberto da Matta cunha um conceito que viria a consagrar-se posteriormente: o jeitinho brasileiro. Comparando as instituições e as sociedades brasileira e norte-americana, o estudioso aponta que no Brasil as pessoas buscam formas de utilizar relações pessoais para sempre obter vantagens, onde os privilégios de alguns se colocam acima da igualdade entre todos. Daí deriva a famosa expressão Belíndia – leis e impostos da Bélgica, realidade social da Índia.
Na obra “Raízes do Brasil”, Sérgio Buarque de Holanda comenta sobre a cordialidade do brasileiro, dando a esta um significado que vai além do usual. Cordial provém de cordis, latim para “coração”. O brasileiro cordial é, na verdade, uma pessoa movida pela emoção, que dispensa as formalidades e não distingue o público e o privado. Por isso, comenta o autor, muitas vezes a ética e a civilidade são deixadas de lado.
E então, ficou curioso quanto a ser ou não corrupto? Então faça o teste clicando aqui.
 
VER COMENTÁRIOS
Polícia
Concursos e Emprego
Esportes
Entretenimento e Cultura
Saúde
Negócios
Mais Notícias