MEIO AMBIENTE

Poluição das praias prejudica comércio na orla marítima de São Luís

Sindicato das Empresas de Alimentação e Hospedagem do Maranhão afirma que movimento nesses locais caiu em 30% por causa da falta de balneabilidade das praias

Foto: Honório Moreira/OImp/D.A Press.


Honório Moreira/OImp/D.A Press

Placas indicativas com alerta de "impróprias para o banho" foram colocadas pela Sema em pontos estratégicos

Para visitantes de outros países e estados mais distantes do Brasil, o principal ponto de atração turística na ilha de São Luís é a história e religiosidade, encerradas em casarões do Centro Histórico e em São José de Ribamar, mas para os maranhenses de cidades do interior e turistas de estados vizinhos são as praias que despertam interesse, gerando renda para o comércio na orla em bares e restaurantes. Entretanto, desde 2012, quando placas fixas, que sinalizam os 21 pontos impróprios para banho, foram colocadas no calçadão, a quantidade de pessoas que frequentam as praias da Ilha de São Luís tem diminuído, configurando quatro anos de queda em geração de renda, segundo informações do Sindicato das Empresas de Alimentação e Hospedagem do Maranhão (Sehama).

“O impacto negativo foi muito grande. Se as pessoas não podem banhar no mar, elas não procuram mais a praia. Além disso, as placas estão muito perto dos bares, isso assusta as pessoas, afugenta os clientes. Durante a semana está pior ainda. Caiu em torno de 30% ao que tínhamos antes da colocação das placas. Não podemos esquecer da Lei Seca e das péssimas condições das estradas, mas a poluição é um problema enorme”, comentou o presidente do Sehama, Paulo Coelho.
A proximidade com os bares, entretanto, é uma reclamação de boa parte dos estabelecimentos. Para Edimilson da Silva, gerente do bar Barraca da Marcela, o fluxo de pessoas de São Luís não diminuiu, mas de turistas é palpável. “Eles perguntam pra gente se a água está própria para banho, e olham as placas. A gente fala que não pode”, comentou.
Já a consultora de vendas Adriana Nascimento, que frequenta a Litorânea com a família contou que deixou de fazer isso com frequência e hoje procura o Ceará quando o filho pequeno quer banhar de mar. “Agora vamos para Fortaleza, a praia lá está própria para banho, e as crianças gostam de mar. Levo meu filho para banhar de mar em outro estado, porque aqui não dá”, contou.
O mesmo acontece com Ginaldo Cruz, morador de Santa Inês. Ele conta que por anos trazer a família para passar o dia na praia foi uma “tradição”, mas a coisa mudou muito nos últimos anos. “Não venho mais como antes, vinha todo mês, quase. Hoje quando venho, chego perto da hora do almoço e logo vou embora. Ninguém pode banhar, eu gostava muito de banhar na praia. Minha neta de cinco anos só vem à praia rapidinho e nem na areia deixamos muito tempo. Ela vive perguntando quando vamos de novo. Ela banhou só uma vez, faz muito tempo”, contou o motorista autônomo.
Poluição prejudica comércio nas praias

A sinalização com placas fixas, entretanto, é comum em muitos estados do país, como Sergipe, Rio Grande do Sul, Santa Catarina. No Maranhão, a colocação delas foi um ajuste entre a Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Recursos Naturais (Sema) e o Ministério Público do Maranhão, através da resolução Conama nº274/00. “As placas não são o problema. Elas têm como finalidade alertar as pessoas sobre as áreas impróprias para banho”, rebateu o titular da pasta estadual, Marcelo Coelho.

As placas são alvo constante de depredação, segundo informações da Sema, e têm de ser recolocadas ou trocadas por novas. O secretário atribui o transtorno ao simples vandalismo, mas não descarta a possibilidade de uma tentativa de burlar a sinalização. “São placas caras, custam de R$ 600 a R$ 800 cada uma. Quando vamos fiscalizar e elas não estão nos lugares é muito complicado. Já tivemos que substituir várias. Achamos que elas são tiradas por quem tem interesse no material que são feitas, ou mesmo esconder que a praia esteja suja. Mas há placas para isso também, para sinalizar os pontos próprios para banho”, contou Marcelo, fazendo referência às placas com faixa verde, em contrataste com as já comuns vermelhas.
Problema crônico

Poluição prejudica comércio nas praias

Para o ambientalista Walter Muedas, professor pós-doutor do Departamento de Oceanografia e Limnologia da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), as soluções apresentadas até hoje pelo poder público são ineficientes e arrastam um problema crônico de poluição nas águas da Ilha com décadas de esgotos innatura, sendo despejados nos rios e levados para as praias. Ele explica também que a variação entre alta e baixa maré no Maranhão é uma das mais altas do país, o que poderia ser usado a favor da despoluição.

“Medidas pontuais não resolvem, apenas empurram o problema para frente”, disse o pesquisador. Para Muedas, uma das soluções mais corretas seria a implantação de um emissário submarino, que coletaria os esgotos em suas saídas, trataria para retirada de objetos não orgânicos e levaria o restante para alto mar, longe da praia e do contato com as pessoas.
Para o pesquisador a campanha do poder público em levar 70% de saneamento até 2018 é insuficiente. “Uma população de mais de um milhão e meio de habitantes tem vivido com 4% de saneamento, mas 70% não resolverá. É preciso colocar as estações de tratamento de esgoto, as ETEs, em 100%”, disse Muedas. “Do que a Caema nos cobra mensalmente, 50% é a água fornecida, e 50% é o tratamento de esgotos. Mas isso não é real, não há o tratamento do esgoto como deveria ser e na quantidade que deveríamos ter”, diz o ambientalista.
Wanter sublinha, no entanto, que a sinalização aplicada na costa é a mais correta. “Está tudo contaminado, não podemos enganar as pessoas. Placas fixas mostrando os pontos é o que se pode fazer para alertar, mas é necessário atacar o problema na raiz, as empresas públicas não podem ser só bastião político”, disse. O especialista completou com o exemplo de Florianópolis, onde segundo ele o emissário submarino é usado.

Atraindo turistas

Segundo o presidente da Sehama, o sindicato tem agido junto à Secretaria de Estado de Turismo para atrair turistas para a Ilha de São Luís, e sensibilizar as pessoas que mesmo sem poder banhar no mar, é possível aproveitar as praias. “Fazemos workshops, rodadas de negócios em outros estados e no interior. Já fizemos em Imperatriz, Caxias, Codó e também no Ceará”. Ele conta que a maioria dos turistas de dentro do estado é da Baixada Maranhense, e é um público que sensivelmente deixou de frequentar as praias. Nossa produção entrou em contato com a Secretaria de Estado de Turismo e Cultura para saber sobre outras estratégias de atração de turistas para as praias da Ilha de São Luís, mas não obteve respostas.
Caema despolui rios

A poluição nas praias é derivada do desaguamento de esgotos sem tratamento, vindos da rede de coleta da Companhia de Saneamento Ambiental do Maranhão (Caema) e de prédios residenciais próximos à praia, que jogam dejetos nos rios da região como o Pimenta, Claro e Calhau e das bacias do Rio Anil, um dos maiores da cidade, compreendendo mais de 40 bairros, como explicou o presidente da Companhia, Davi Telles. “Estamos mudando as coisas, temos um compromisso sério em despoluir os rios e a Lagoa da Jansen. O rio Pimenta, por exemplo, depois de um trabalho de três meses está com 98% de seu curso limpo. O mesmo acontecerá no rio Claro, em quatro a cinco meses. O rio Calhau já está com licitação em andamento para ser despoluído também. Já na bacia do Anil é um trabalho mais complexo, esperamos ter resultados concretos no próximo ano”, enumerou Telles. Quanto aos prédios com descarte irregular de esgoto, o executivo informa que são fiscalizados e multados. Dos 21 pontos impróprios para banho, seis deles sairão dessa condição nos próximos quinze dias. É o que diz a Sema. “Fazemos medições periódicas, acompanhados do Ministério Público. Temos 6 pontos que repetidas vezes tem apresentado resultados positivos de diminuição da poluição, e vamos fazer mais testes em 15 dias. Estamos confiantes que serão liberados”, contou Marcelo Coelho, secretário do Meio Ambiente. A secretaria não informou quais serão esses pontos.

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