EDITORIAL
Tiro na democracia
O assassinato de líder da oposição não é fato banal em nenhuma circunstância. Mas assume cores mais sombrias se o país está às vésperas de uma eleição. O quadro se agrava quando se sabe que o governo corre risco de ser derrotado nas urnas e há suspeitas de que está por trás do ato criminoso. […]
O assassinato de líder da oposição não é fato banal em nenhuma circunstância. Mas assume cores mais sombrias se o país está às vésperas de uma eleição. O quadro se agrava quando se sabe que o governo corre risco de ser derrotado nas urnas e há suspeitas de que está por trás do ato criminoso. Piora quando fica claro o objetivo da perseguição: intimidar candidatos e eleitores que buscam mudanças políticas por meios democráticos. A descrição retrata a Venezuela de Nicolás Maduro.
Durante comício em Altagracia de Orituco, homens dispararam 10 tiros contra Luis Manuel Díaz. Ele estava presente em comício de Lilian Tintori, mulher de Leopoldo López, líder da oposição condenado a 14 anos de prisão em julgamento eivado de irregularidades. Ela faz campanha interna e externa pela libertação do marido. O tiroteio que roubou a vida de Díaz ocorreu a poucos metros de onde Lilian estava. “Querem me matar”, disse ela, que denuncia outras tentativas de agressão.
O fato acarretou reações fortes. “É o mais letal de vários ataques recentes e atos de intimidação contra candidatos da oposição”, disse John Kirby, porta-voz do Departamento de Estado americano.“O assassinato de dirigente político é uma ferida mortal na democracia, e uma sucessão de atos de violência política em um processo eleitoral é a morte da democracia”, frisou o secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), Luis Almagro.
Até o governo brasileiro, tradicional aliado do atraso defendido pelo tal socialismo do século 21, elevou o tom. Unindo-se ao comunicado da Unasul, “rechaça firmemente o recurso a qualquer tipo de violência que possa afetar o bom desenvolvimento do processo eleitoral, e insta as autoridades venezuelanas a investigar os fatos e punir os responsáveis”. Mais: “… é da responsabilidade das autoridades venezuelanas zelar para que o processo eleitoral transcorra de forma limpa e pacífica”.
A resposta de Maduro causa apreensão. Reiteradas declarações do presidente colocam as manifestações de rua acima do resultado das urnas. É perigoso. Na democracia, o voto é que fala. Para que a vontade popular possa se manifestar livremente, duas condições se impõem, como frisaram a OEA e a Unasul. Uma: investigar o assassinato de Díaz a fundo. A outra: garantir aos venezuelanos o direito de votar em paz.
Vale lembrar que a Venezuela é membro do Mercosul. Para permanecer no bloco, precisa respeitar a cláusula democrática. Se houver suspeitas sobre a lisura do pleito do próximo dia 6, Caracas não poderá continuar na associação. O presidente recém-eleito da Argentina, Mauricio Macri, disse que pedirá a saída do país caso se concretizem as suspeitas de deprezo ao jogo democrático. Não há outro caminho a seguir. Eleições, impõe-se frisar, ganham-se nas células depositadas nas urnas.
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