INSEGURANÇA ALIMENTAR

População disputa peixe descartado na Feira do Portinho em São Luís

Em meio à sujeira, lixo e urubus várias pessoas disputam diariamente a sobra dos peixes que seriam descartados no lixo

Foto: Honório Moreira/OIMP/D.A Press.


 Honório Moreira/OIMP/D.A Press

Presença de urubus, que descansam nas caixas de isopor onde ficam os peixes, é constante na Feira do Portinho

Milhares de peixes são desperdiçados durante a semana na feira improvisada do Portinho ao lado Mercado do Peixe, próximo ao Terminal da Integração, no Aterro do Bacanga. Os peixes que não são comercializados durante a madrugada acabam sendo descartados pelos distribuidores e colocados no lixo diariamente. Sabendo do fato, várias pessoas estão indo ao local para garantir a alimentação e disputam os peixes de várias espécies que teriam como destino o lixo. 

Enquanto a movimentação no mercado ao lado acontece, as pessoas vão chegando com seus baldes e formando uma fila à espera da sobra dos peixes no Portinho. Vendedores e consumidores dividem espaço com o lixo, a lama e urubus que se alimentam dos restos de alimentos que são jogados no local. A sobra dos peixes fica acondicionada em caixas de isopor e de plástico que são colocadas no chão pelos distribuidores, o que causa uma grande disputa entre os carentes que lutam para conseguir o alimento.
Dona Maria da Silva, moradora do Anjo da Guarda, contou que antes não frequentava a feira com tanta assiduidade, porém, o pai morreu recentemente e a família está passando por uma situação muito difícil. E, por conta disso, atualmente, tem ido ao mercado praticamente todos os dias para garantir o pão de cada dia. Já Wellingtoin Almeida relatou à reportagem de O Imparcial que, todas as vezes que está desempregado, ele recorre à feira improvisada para sustentar a família, sempre às quinta-feira e aos sábados. Para garantir o sustento, ele chega bem cedo para ajudar a fazer alguns carregamentos, espécie de “bicos”, e como recompensa, ganhar o peixe e mais um trocado para levar para casa. Ele descreveu que o peixe que iria ser descartado dá para ser consumido por mais dias. É todo escalado e salgado para preservar sua consistência. “Agradeço por eles nos darem os peixes que não servem mais para vender, pois já garante a alimentação da semana. A situação está difícil, o jeito é pedir pra sobreviver. Felizes de nós que temos um lugar aonde recorrer”, desabafou.
Para evitar desperdício
O presidente da Associação dos Distribuidores de Pescados e Mariscos de São Luís (ADPEMASL), Manoel Paixão, afirmou que, para evitar o grande desperdício do pescado, os distribuidores decidiram fazer uma triagem antes de colocar os peixes no lixo. Manoel Paixão destacou que, se não fosse essa medida, centenas de peixes seriam desperdiçados todas as manhãs, principalmente no período de safra. Aqueles que ainda podem ser aproveitados são doados para centenas de pessoas que passam por aqui. “Antes, os peixes eram colocados diretamente nos contêineres, e então era uma grande bagunça, havia pessoas que entravam dentro do depósito e reviravam o lixo para adquirir os peixes. Por essa razão, decidimos doar os que ainda estão em boas condições e colocar o resto no lixo. Mesmo assim, ainda há alguns que chafurdam o lixo”, disse o distribuidor.
Movimentação
Sem higienização, pescado é vendido na Praia Grande ao lado do Mercado do Peixe
A feira do Portinho, como é conhecida popularmente, funciona de segunda-feira a segunda-feira, ou seja, todos os dias. Os distribuidores chegam ao local a partir das 23h, começam a descarregar os caminhões e montar suas bancas. Geralmente, são caixas de isopor vazias que são colocadas no chão com o fundo para cima e sobre elas uma lona de plástico preto, onde o pescado é colocado em exposição. A movimentação maior acontece de terça-feira a domingo. A segunda feira é considerada o dia que tem pouco movimento. De acordo com Manoel Paixão, os vendedores (peixeiros, como são popularmente chamados) começam a chegar à feira por volta de 1h. Já os consumidores começam a chegar às 3h e fluxo de pessoas duram até as 7h. Ele acrescentou que alguns peixes que são comercializados são de várias partes do Maranhão, outros do Pará, como do município de Santarém, ou de Manaus, além de outros estados. “São peixes da água doce e salgada. A maioria vem de açudes (viveiros). Os preços variam de acordo com a qualidade do peixe. Podemos encontrar peixes a partir de R$ 2,50 até R$ 12 o quilo”, explica Manoel Paixão.
Ambiente sujo e com mau cheiro
Sem higienização, pescado é vendido na Praia Grande ao lado do Mercado do Peixe

Tanto consumidores, quanto vendedores, reclamam da desorganização, do lixo e dos urubus que também fazem parte do cenário da feira. O local está em péssima condição de higiene, com muito lixo e água das caixas de peixe escorrendo pelo chão. Outra reclamação é mau cheiro que é forte e incomoda bastante quem vai até o local para comprar o pescado.

A dona de casa Vera Lins falou que uma vez por semana vai ao Portinho comprar peixe para a semana. Ela reclamou do local, disse que a cada dia só piora, mas os preços acabam falando mais alto. “A gente tem que andar por dentro da água suja de peixe, as pernas ficam sujas, ainda temos que dividir espaço com muita sujeira e com os urubus que ficam rodeando o local permanentemente”, disse.
O presidente da ADPEMASL afirmou que a vigilância sanitária faz vistoria e admite que há muita sujeira no local, e que eles tentam limpar o máximo possível todas as manhãs quando acaba a feira. Segundo ele, a prefeitura realiza uma lavagem uma vez por semana no local, que para ele não seria o suficiente. Manoel acrescentou que existe um projeto para o Portinho.
Órgãos envolvidos
De acordo com informações da Secretaria Municipal de Agricultura, Pesca e Abastecimento (Semapa),  a Feira do Portinho não é gerida pela administração municipal. E que a sua manutenção é de responsabilidade dos próprios comerciantes.
Já a Secretaria Municipal de Obras e Serviços Públicos (Semosp) informou por meio de nota que realiza diariamente a remoção de resíduos na Feira do Portinho. Além disso, as equipes fazem o serviço de manutenção da limpeza, com varrição e catação de resíduos descartados irregularmente no mercado e em seu entorno. A Semosp comunicou ainda que a lavagem da feira é realizada regularmente, em dias alternados.
 Segundo informações da Secretaria Municipal de Saúde (Semus), a Vigilância Sanitária está elaborando um cronograma de fiscalizações, que inclui a área conhecida como Feira do Portinho. A Semus reforçou que a feira já recebeu fiscais do órgão que, na ocasião, verificaram as condições nas quais os produtos são repassados aos consumidores. A secretaria esclareceu ainda que o comerciante que for flagrado revendendo alimentos sem os cuidados necessários de manuseio poderá ter o produto apreendido.
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