EDITORIAL
Drama na gestão pública
Poucos temas desafiam mais as autoridades que a educação e a saúde. Não por acaso são as áreas que têm dado respostas menos satisfatórias à população. A escola não ensina. O hospital não socorre. O Estado, obsoleto, apaga incêndios em vez de prevenir dramas e tragédias. No Brasil de ontem, como no de hoje, faltam […]
Poucos temas desafiam mais as autoridades que a educação e a saúde. Não por acaso são as áreas que têm dado respostas menos satisfatórias à população. A escola não ensina. O hospital não socorre. O Estado, obsoleto, apaga incêndios em vez de prevenir dramas e tragédias. No Brasil de ontem, como no de hoje, faltam planejamento e gestão profissional. Sobram improvisação e jeitinhos.
A administração pública se mantém alheia à passagem do tempo e ao avanço da ciência. Age como nos tempos dos coronéis, quando a sociedade, essencialmente rural, ignorava os direitos e demandava pouco os serviços públicos. Setores essenciais para o presente e o futuro nacionais funcionam como moeda de troca política. Ministérios, secretarias, hospitais e centros de excelência entram na barganha para pagar favores de cabos eleitorais ou obter o apoio deste ou daquele partido ao governo de plantão.
Só a imprevidência e o despreparo explicam o caos em que se encontra a saúde de norte a sul do país. Compram-se equipamentos sem contratar manutenção. Perdem-se medicamentos esquecidos em depósitos. Faltam remédios nas farmácias de alto custo e na rede hospitalar. Adiam-se cirurgias inadiáveis. Exibem-se, sem constrangimento, enfermos em macas improvisadas em corredores. Há carência de profissionais que sobram na burocracia devido ao desvio de função.
Como bem sintetizou a presidente da Rede Sarah em entrevista exclusiva ao Correio Braziliense, a ausência de filosofia e de projeto de longo prazo impede avanços modernizadores no setor. Administração de área tão complexa e sofisticada exige gestores qualificados. O que se vê, porém, são médicos indicados para gerenciar compras, licitações, manutenção, filas, limpeza. Por mais brilhantes e bem-intencionados que sejam, revelam-se analfabetos funcionais, incapazes de promover mudanças e planejar aperfeiçoamentos.
Lúcia Willadino Braga lembra a transversalidade da educação e da saúde. Não existe saúde desenvolvida com educação subdesenvolvida. Nem vice-versa. Tese defendida pela cientista que dirige uma das instituições mais respeitadas do país e serve de referência mundial poderia ser passo importante para ampliar a rede básica de cuidado, que reduz a corrida aos hospitais: introduzir no ensino médio disciplinas de enfermagem e medicina. Com um ano de formação mínima, aposta ela, haveria muito menos procura de prontos-socorros. Haveria muito mais ações preventivas.
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