EDITORIAL

Violência contra a mulher na prova do Enem

Poucos assuntos são tão comentados quanto a redação do Enem. O tema envolve universo muito maior que os milhões de candidatos que se submetem à prova. Avós, pais, irmãos, tios, amigos, todos participam do debate. O assunto abandona o escaninho dos especialistas e ganha visibilidade nacional. Trata-se de oportunidade não só de avaliar a habilidade […]

Poucos assuntos são tão comentados quanto a redação do Enem. O tema envolve universo muito maior que os milhões de candidatos que se submetem à prova. Avós, pais, irmãos, tios, amigos, todos participam do debate. O assunto abandona o escaninho dos especialistas e ganha visibilidade nacional. Trata-se de oportunidade não só de avaliar a habilidade de escrever, mas também de educar para a cidadania.
A proposta do exame de 2015 serve de exemplo — a persistência da violência contra a mulher na sociedade brasileira. Ao falar em persistência, fechou as portas para a negação do fato ou para teses que atenuem as ocorrências. Não só. Como um dos critérios do julgamento da redação é o respeito aos direitos humanos, os jovens precisaram partir do fato de que o problema existe e sugerir intervenção (outro critério) para solucioná-lo.
Estatísticas oficiais afastam qualquer dúvida sobre a relevância da proposição. Ligue 180, serviço criado pela Secretaria Especial de Políticas para Mulheres, registrou, no ano passado, nada menos que 52.957 relatos de violência. Deles, 51% (27.369) se referem a agressões físicas; 31,81% (16.846), psicológicas; 9,68% (5.126), morais. De 2005 a 2014, o disque-denúncia somou mais de 4 milhões de atendimentos. Nem todos, claro, tratam de ataques sexistas.
Um fato chama a atenção: sete em cada 10 vítimas que recorreram ao 180 afirmaram ter sido agredidas pelos companheiros. Não só. Entre 2000 e 2010, o país registrou 43.700 assassinatos de mulheres. Deles, 41% ocorreram entre as quatro paredes domésticas. As delegacias especializadas e a Lei Maria da Penha escancararam o problema para a sociedade e incentivaram o recurso ao Judiciário. A lentidão da Justiça, porém, retarda o julgamento e a necessária punição.
A violência machista é cultural e, por isso, vista com naturalidade por parcela significativa da sociedade. Há que reeducar a população. Nada mais adequado que levar o debate às salas de aula. Como disse Maria da Penha, que há quase uma década inspirou a lei que recebeu o seu nome, duas intervenções são necessárias. Uma: investimento na educação cidadã. A outra: políticas públicas aptas a enfrentar a tragédia que se perpetua através dos tempos. No século 21 poucos comportamentos soam tão extemporâneos quanto bater em mulher.
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