EDITORIAL

Rombos e incertezas

As esperanças são poucas, mas têm que ser renovadas. A semana que terminou teve mais sete dias de turbulência na política e de sustos cada vez maiores na economia. A próxima precisa ser diferente. Afinal, inflação e desemprego em alta estão virando rotina. Relatórios internacionais sobre o Brasil não param de indicar que, em vez […]

As esperanças são poucas, mas têm que ser renovadas. A semana que terminou teve mais sete dias de turbulência na política e de sustos cada vez maiores na economia. A próxima precisa ser diferente. Afinal, inflação e desemprego em alta estão virando rotina. Relatórios internacionais sobre o Brasil não param de indicar que, em vez de saída, o país mergulha cada vez mais em incertezas. E, na economia, incerteza só não é pior do que falta de credibilidade.
Na semana passada, o país ficou sabendo que as trapalhadas na gestão das contas públicas no ano eleitoral de 2014 foram muito mais nefastas do que imaginava o cidadão que paga em dia os impostos. Tão ruins que contaminaram de forma irreversível o exercício de 2015 e já sinalizam metástase sobre a sonhada recuperação no ano que vem.
Todos se lembram de que, no fim de 2014, o Congresso teve de aprovar alterações de última hora na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) daquele ano, para evitar que a presidente fosse punida por descumprir a meta de gerar superavit primário. O superavit é resultante da economia que o governo se compromete a fazer para reduzir o saldo da dívida pública. É providência que sinaliza eficiência e responsabilidade na administração das contas públicas e torna o país merecedor do crédito e da confiança dos mercados.
Era só o começo. Os gastos imprudentes e os truques para escamoteá-los emergiriam ao longo de 2015. Entre eles, as pedaladas fiscais — operações de crédito irregulares entre o Tesouro e os bancos oficiais, detectadas pelo Tribunal de Contas da União (TCU). Em agosto, a surpresa foi o envio ao Congresso de proposta orçamentária para 2016 com inédito deficit de R$ 30,5 bilhões. Foi arranhão tão profundo na credibilidade do governo que a agência Standard & Poor’s retirou o grau de investimento do Brasil.
Para evitar que as demais agências seguissem o mesmo caminho, o governo aceitou modificar a proposta para meta de superavit de 0,7%. Mas a novela de 2015 ainda reservava capítulos dramáticos. A meta de superavit fiscal de 2015, de 1,1% do PIB, prometida pela nova equipe econômica, não durou muito e foi rebaixada para ínfimo 0,15%. Também essa marca não será alcançada e os motivos atiram de novo contra a confiança que se necessita ter no governo para que se retomem os investimentos, a produção, o consumo e os empregos.
Como na economia não existem acordos tenebrosos, as pedaladas terão de ser pagas e o governo não conseguiu autorização pelo TCU para quitar a dívida em parcelas. Isso, somado à perda de receitas provocada pela recessão, eleva para mais de R$ 70 bilhões o rombo fiscal de 2015. É claro que não há dinheiro para isso este ano. Significa que 2016 vai começar no vermelho e corre o risco de se tornar o terceiro ano consecutivo de deficit fiscal. Com isso, a política monetária pode perder seu efeito sobre a inflação. Mais recessão e desemprego à vista.
Se a saída da crise tem de passar pelo Congresso, o que cabe perguntar é: quanto a sociedade está disposta a esperar e pagar por um imbróglio político que nasceu nas promessas eleitorais, passou pela gestão irresponsável do primeiro governo Dilma e se complica com as apurações da Operação Lava-Jato?
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