A Organização das Nações Unidas (ONU) chega aos 70 anos com saldo positivo, mas sob pressão para mudar. Fundada em meio às ruínas da Segunda Grande Guerra, a ONU nasceu alimentada por ideais caros à comunidade internacional. De um lado, a manutenção da paz. De outro, o respeito aos direitos humanos.
Fracassos em crises pós-Guerra Fria, porém, levantam questionamentos sobre a capacidade de a instituição atingir as aspirações propostas. O pomo da discórdia reside na composição do Conselho de Segurança (CS). O poder de veto dos cinco membros permanentes — Estados Unidos, Rússia, China, França e Reino Unido — engessa iniciativas essenciais para a solução de conflitos.
É o caso da crise síria. Desde a eclosão da guerra civil, há cinco anos, resoluções lamentam a violência e a perda de vidas. Em vão. O número de óbitos ultrapassa 250 mil. Entre eles, 12 mil crianças. Cerca de 10 milhões de desalojados e emigrantes protagonizam tragédia humanitária inaceitável no século 21.
Alguns batem às portas dos países vizinhos. (Líbano e Jordânia vivem drama decorrente do aumento desordenado da população.) Outros arriscam a vida em barcos precários na travessia do Mediterrâneo em busca de refúgio na Europa. Naufrágios deixam muitos pelo caminho. Manifestações xenófobas e intolerâncias religiosas impedem a entrada dos imigrantes indesejados.
Mais conflagrações quebram a sonhada harmonia mundial. O terrorismo se espalha. O Estado Islâmico mostra a face do horror mais bárbaro contra a civilização. Os embates na Ucrânia ressuscitam a Guerra Fria que se imaginava enterrada. As ameaças nucleares da Coreia do Norte tiram noites de sono da região. Nações do Oriente Médio e da África enfrentam guerras que teimam em não bater ponto final.
Não só. Missões comandadas pela instituição mereceram críticas severas da opinião pública internacional. Uma delas: acusação de abuso sexual por parte dos capacetes azuis contra nacionais haitianos, congoleses, liberianos e sudaneses. Outra: negligência permitiu genocídio em Ruanda (1994) e massacre de civis em Srebrenica, na Bósnia (1995).
As censuras reforçam a necessidade de reforma. A ONU nasceu em plena Guerra Fria, num mundo bipolar. Precisa se modernizar para responder aos desafios do multilateralismo. Problemas globais, como terrorismo e crimes transnacionais, exigem soluções globais. Para fazer frente às urgências do século 21, o primeiro passo é ampliar o Conselho de Segurança.