Foto: Gilson Teixeira/OIMP/D.A Press.
Maria Inês Gomes de Oliveira, coordenadora da Central de Notificações, Captação e Distribuição de Órgãos no Maranhão
Apesar de ter superado a meta de 52 transplantes anuais, faltando três meses para acabar 2015, o Maranhão ainda caminha a passos lentos para que a prática seja consolidada no estado. Entre os fatores, está a falta de consentimento de doações por parte dos familiares. Atualmente, cerca de 60% das famílias maranhenses são contrárias à doação.
Segundo a coordenadora da Central de Notificações, Captação e Distribuição de Órgãos no Maranhão, Maria Inês Gomes de Oliveira, “aqui no Nordeste, a gente tá num descompasso muito grande, principalmente atrás do Ceará, Pernambuco e Bahia. Ceará é um exemplo em crescimento dos transplantes, isso porque o estado começou a investir maciçamente em divulgação, preparo técnico das equipes”.
Maria Inês explicou que a deficiência também estava nas políticas públicas estaduais. “Até pouco tempo, como a política do estado era emperrada, engessada, sem vontade política, nós aqui tínhamos meta de 52 transplantes por ano. Nunca tínhamos conseguido atingir e hoje, este ano, terminamos o mês de setembro com 52 transplantes. Atingimos uma meta antiga”, informou.
A coordenadora ressaltou que, mesmo o estado tendo a responsabilidade compartilhada, em incentivar o transplante, e por isso ter a Central vinculada à Secretaria Estadual de Saúde, o trabalho ficava somente a cargo do Hospital Universitário. “Por muito tempo, o estado não enxergou a Central. Funcionava somente com o apoio do Hospital Universitário e da Universidade e deram e dão apoio muito grande às atividades da Central”, disse. Por falta de doações durante dois anos, a coordenadora informou que o Hospital Universitário perdeu o credenciamento para transplante de coração, mas que pretende retomar, assim como também pretende se credenciar para operar transplante de fígado.
Ela destacou a que a política implantada pelo atual governo estadual já mostrou resultados, sendo que a Central já foi incluída no Plano Plurianual da Secretaria de Saúde, o que significa dizer que o órgão terá orçamento para desenvolver ações.
Doações de órgãos
De acordo com levantamento feito pela Associação Brasileira de Transplante de Órgãos, de janeiro a março de 2015, o Maranhão contou com 30 potenciais doadores de órgãos. Destes, apenas um se tornou efetivo. Em São Paulo, esse número foi de 638 potenciais doadores, já os estados do Acre e Amapá não apresentaram nenhum doador de órgão e tecidos.
Entre os motivos que levaram os 29 potenciais doadores maranhenses a não realizarem o procedimento estão: seis tiveram contraindicações médicas; 11 recusas das famílias; quatro sofreram paradas cardíacas; e oito por outros motivos.
Ainda no período de janeiro a março deste ano, foram doados e transplantados seis rins no Maranhão. No mesmo período de 2014, nenhum transplante de rim havia sido realizado no estado.
Em transplantes de córneas, o Maranhão ocupa a 18ª posição em um ranking de 23 estados. De janeiro a março foram realizados 36 procedimentos. No estado de São Paulo, primeiro da lista, foram realizados 1.009 transplantes. No Ceará, que ocupa a quarta colocação, foram realizados 200 transplantes.
A lista de espera atualizada, de acordo com o banco de dados da Central de Notificações, Captação e Distribuição de Órgãos no Maranhão, diz que 131 maranhenses aguardam pelo transplante de rim e 743 estão na espera pelo transplante de córnea. O tempo de espera médio é de 3,5 anos a 4 anos.
Podem ser realizados transplantes de coração, pulmões, pâncreas, rins, córneas, cartilagens, válvulas cardíacas e transplante multivisceral. Um único doador pode salvar até 11 pacientes. Em São Luís, o Hospital Universitário é o único credenciado e autorizado para transplante renal e de córnea. Em Imperatriz, o Hospital Santa Mônica também é credenciado para transplante renal.
Decisão familiar
A legislação brasileira determina que a decisão da doação dos órgãos cabe somente aos familiares. “O sistema de doação é o consentido e não presumido. Em caso de doação presumida, o paciente escreve em algum lugar, assim como foi até 2000, no Brasil. Não funcionou de fato”, explicou Inês de Oliveira.
A coordenadora da Central de Notificações, Captação e Distribuição de Órgãos no Maranhão explicou que um dos entraves à doação é a negativa familiar. “O Maranhão já veio de um índice de negativa familiar muito alta. Em 2013 tivemos 83% de negativas familiares. Tem diminuído gradativamente. No primeiro semestre deste ano, o índice foi em torno de 60%. Diminuiu 20 casas decimais”, informou.