Quem canta seus males espanta, diz o ditado. A música acalma, distrai, alegra. Eleva o espírito e a alma. Une, congrega. Sentimentos que despertaram no jovem Joel Mistokles, de 27 anos, a vontade de ajudar o próximo cantando em coletivos. Tudo começou em janeiro do ano passado, quando ele vivia um momento de inquietação e medo, segundo relata. Em um daqueles dias de janeiro, ao entrar no ônibus voltado para casa, ele notou o ar de cansaço e desolação nas pessoas. Foi aí que teve a ideia de iniciar um ousado projeto. “Eu tirei meu violão, me apresentei às pessoas e perguntei se podia cantar para elas”, relembra.

Joel conta que a emoção se manifestou naquele momento e ele, que começou a chorar envolvido pela música e o momento difícil, viu muitos dos passageiros transbordando a emoção. “Foi um momento lindo. Ali Deus me mostrou que eu iria levar a palavra nos ônibus e assim faço até hoje”, reitera.

A rotina do jovem é como a de muitos brasileiros: do trabalho para os estudos e para casa. É neste intervalo que Joel Mistokles destoa dos demais e, mesmo cansado do cotidiano corrido, ele encontra estímulo para levar alegria a quem também vem de um dia exaustivo. O projeto foi denominado de ‘Palavras em movimento’ e se propõe a levar canções religiosas às ‘almas cansadas’ e à procura de paz. Ele explica que, apesar de ser evangélico, em suas exposições nos coletivos não trata de religião. “Respeito todas as congregações e reconheço que temos um país laico. Minha intenção é levar um pouco de alegria às pessoas com a minha música”, diz. O jovem afirma que por vezes pensou em parar de fazer essa ação, mas os estímulos para continuar são maiores. “A maior parte das pessoas gosta da minha proposta e quer ouvir o que tenho a mostrar. É gratificante ser bem recebido e mais ainda saber que estou levando uma palavra de fé e união”.

Mesmo com uma proposta positiva dentro dos ônibus, Joel já teve impedimento para realizar sua ação. Em um dos casos, ao se oferecer para cantar, um passageiro gritou um sonoro ‘não’. O jovem prontamente guardou o violão e se preparava para descer do coletivo quando outro passageiro se manifestou pela sua permanência. E, junto com este passageiro, outros se uniram e disseram sonoros ‘sim’ à música de Joel. O passageiro que não queria a demonstração se viu obrigado a descer do coletivo. “Fiquei emocionado e cantei ainda com mais alegria”, disse. Ele acrescenta que essas manifestações é que lhe dão forças para continuar e a certeza de estar no caminho certo.

Em outro caso, as pessoas estavam depositando valores em dinheiro, acreditando que havia algum pedido de ajuda. “Sempre deixo claro que não quero pedir nada, que quero apenas cantar para as pessoas”. Para ajudar em casa, ele oferece o cd com suas músicas e os passageiros pagam o valor que quiserem. No começo foi complicado, diz Joel. Ele não tinha o apoio da esposa, Lorrane, de 25 anos. “Eu disse que ia largar tudo, trabalho e estudo, para fazer música nos ônibus. Entendo que deixei ela um pouco assustada. Mas, hoje, ela está do meu lado, me apoia e quer me ver crescer, na minha formação e também na música.

Hoje, eu também entendo que devo conciliar meus deveres, pois tenho uma família e responsabilidades que não poderia arcar só com a música”, pondera. Joel é pai de Pedro, de apenas cinco anos, mas que entende e gosta da arte que ele produz. “Minha família é meu esteio, a força que preciso para continuar”.

 

Joel é cantor, tem um cd, gravado em outubro de 2013, intitulado Louvor: voz e violão, com oito faixas autorais. Mas ele possui mais de 60 composições registradas. Tem no currículo músicas suas em trilha sonora dos filmes Ai, que vida!, comédia de sucesso da cinematografia maranhense; e Flor de abril, também produção local. Começou a estudar graduação em Odontologia, mas parou para se dedicar ao projeto que executa atualmente. A música ele pretende manter sempre, mas, no futuro, como um trabalho secundário. A vida moderna e as barreiras para alavancar um trabalho artístico freiam seus sonhos de ter a música como primeira profissão. Joel sempre faz o trajeto São Francisco-Forquilha, por volta das 7h30 e 17 horas. Para quem quiser conhecer esse trabalho e ouvir a mensagem, pode ter a sorte de encontrar com o jovem artista na próxima parada.