NOVA VISÃO

Fraude da CNH é histórica

A máfia da carteira de motorista é tão antiga no Brasil quanto a do jogo do bicho. É provável que desde quando os primeiros carros a explosão começaram a circular no país já tinha fraudador tentando ganhar dinheiro com o documento de motorista. É sabido que o primeiro automóvel a desembarcar no país, um Peugeot, […]

A máfia da carteira de motorista é tão antiga no Brasil quanto a do jogo do bicho. É provável que desde quando os primeiros carros a explosão começaram a circular no país já tinha fraudador tentando ganhar dinheiro com o documento de motorista. É sabido que o primeiro automóvel a desembarcar no país, um Peugeot, foi trazido por ninguém menos que Santos Dumont, que ganhou de presente de um amigo francês, em 1890, um ano após a proclamação da República.
Daquele ano até hoje, o Brasil alcançou a cifra de 62 milhões de veículos registrados e apenas 45 milhões de condutores habilitados. No interior do imenso país, onde não há polícia, nem fiscalização, nem educação de trânsito, nem mesmo educação formal, a convivência entre a população e um automóvel é mais informal e desregulamentada do que se imagina. Os Detrans dizem que é preciso intensificar a fiscalização, mas não podem fazer o trabalho todo sozinhos.
Portanto, é assustador o número de pessoas que ainda dirigem veículos sem a carteira de habilitação. No Ceará, por exemplo, os números são absurdos: mais de 300 mil pessoas dirigindo sem qualquer permissão. Quem conhece o interior do Maranhão sabe o quanto essa realidade está presente em praticamente todas as casas. Depois que a nova classe média passou a incluir a motocicleta e o carro como parte da família, a exigência da Carteira Nacional de Habilitação ficou cada vez mais distante de ser cumprida.
É nesse vácuo que entram os fraudadores do documento de habilitação, chamada de Carteira de Motorista, Carta, Carteira de Habilitação, ou simplesmente CNH. A Polícia do Maranhão, a exemplo de outras inúmeras operações, prendeu uma quadrilha de 22 pessoas envolvidas na fraude. Vários donos de autoescolas, de funcionários do Detran e de examinadores terceirizados.
As fraudes são velhas conhecidas dos Detrans pelo país afora, quando ocorriam nos tempos em que tudo era feito manualmente. Agora, nem diante dos imensos sistemas informatizados, foi possível inibir a ação da máfia da CNH. A diferença está no modus operandi dos fraudadores. Existem veículos demais, sobra burocracia e faltam até órgãos autorizados para produzir a CNH pelos rincões do país.
Exemplo: na pequena Penaforte, uma cidade do interior do Nordeste, como muitas existentes no Maranhão, há uma imensa desproporcionalidade. Existem 1.136 veículos registrados e apenas 85 motoristas habilitados. É como se cada morador com Carteira Nacional de Habilitação possuísse 13 veículos. Entre os mototaxistas, esse índice é muito mais elevado. Eles estão por toda parte, mas documento que é bom, nada.
Como fazer a coisa certa, os dirigentes dos Detrans parecem saber. Porém, compatibilizar suas estruturas operacionais com as realidades de cada município é que a coisa pega. Há uma distância inalcançável. A CNH é cara, difícil de ser tirada e distante da imensa massa de proprietários de carros e motos. Tudo isso facilita o trabalho das quadrilhas de fraudadores. As prefeituras municipalizam o trânsito, mas a grande maioria só mantém estrutura para multar. Não tem quem forneça a CNH, quem fiscalize e quem conscientize os cidadãos que precisam andar dentro da lei.
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