EDITORIAL

Fim da era Kirchner

Hoje, cerca de 40 milhões de argentinos vão às urnas para eleger o sucessor da presidente Cristina Kirchner, que completará 8 anos no cargo. No total, os Kirchner fecharão ciclo de 12 anos no poder. Os primeiros 4 anos foram sob o comando de Nestor Kirchner, marido de Cristina, morto em 2003. Entre os seis […]

Hoje, cerca de 40 milhões de argentinos vão às urnas para eleger o sucessor da presidente Cristina Kirchner, que completará 8 anos no cargo. No total, os Kirchner fecharão ciclo de 12 anos no poder. Os primeiros 4 anos foram sob o comando de Nestor Kirchner, marido de Cristina, morto em 2003. Entre os seis escolhidos nas prévias de agosto, a disputa mais acirrada envolve Daniel Scioli (Frente para la Victoria), Mauricio Macri (Cambiemos), Sergio Massa (Una Nueva Alternativa). Segundo as pesquisas eleitorais, o favorito na corrida à Casa Rosada é o governador da Província de Buenos Aires, Daniel Scioli, candidato do governo. Se ele conseguir 40% dos votos e 10 pontos percentuais a mais que o segundo colocado ou 45% da preferência dos votantes, estará consagrado no primeiro turno.
Os desafios do sucessor de Cristina são grandes. Como o Brasil, o país passa por séria crise econômica. A inflação supera os 7% ao ano — a segunda maior da América do Sul, só atrás da recordista Venezuela com índice 200% ao ano. O alto custo de vida é um dos fatores que mais incomodam os argentinos. O desequilíbrio econômico impacta nas contas públicas e reduz a capacidade de investimento do país. A expansão dos programas sociais não são alento. A pobreza cresce, resultado direto da escalada inflacionária.
A indústria está entre os setores mais afetados pelos desajustes financeiros. Pátios sucateados e crise cambial agravam as dificuldades do setor que, para piorar, esbarra na retração dos dois principais mercados de seus produtos: Brasil e China. Analistas preveem que a balança comercial argentina fechará 2015 com deficit de US$ 2 bilhões. É a quebra de um ciclo que, até 2011, era um dos pilares dos resultados superavitários da economia. Com o Brasil, será preciso ajustar as relações comerciais. Os embargos aos produtos brasileiros, em vários momentos, estremecem os entendimentos bilaterais.
Mas os embaraços são mais profundos. A fim de evitar o agravamento das dificuldades da indústria, a Argentina, integrante do Mercosul, impõe barreiras a possíveis acordos com mercados, como o europeu. Teme, com razão, que a abertura do continente à Europa e à China acelere o processo de sucateamento do setor. A questão estará na mesa de quem suceder Cristina.
As dificuldades do sucessor vão além. O futuro mandatário terá que reconquistar a confiança internacional, abalada com a expropriação da petrolífera YPF. A decisão governamental deverá ser chancelada pelo Congresso, em que a presidente tem maioria nas duas casas — Câmara e Senado. Mas isso não diminui a insegurança dos investidores externos. Dentro do país, a credibilidade governamental segue em baixa. Muita gente tem no colchão o porto seguro para guardar as economias em vez das contas bancárias, levando à desidratação do sistema.
Corrupção envolvendo figuras do primeiro escalão do Executivo e tráfico de drogas compõem o cenário de problemas que espera o eleito. O favorito Scioli, ou qualquer outro candidato vitorioso, dificilmente manterá o tom do tango dançado com o Brasil. Ambos enfrentam crises semelhantes e o compasso para o crescimento exige o reequilíbrio das contas públicas.
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