ARTIGO

Cibernéticos solitários

A palavra cibersolitário é nova. Sem demora enriquecerá as páginas dos dicionários da língua portuguesa, com foco aos mais populares, Houaiss e Aurélio Buarque de Holanda. Explicará com detalhes, oficializando o significado. Antes de chegar a tal destino criará no presente dúvidas àqueles que não sabem compreendê-la. Para adiantar a iniciativa consideramos ser a mesma […]

A palavra cibersolitário é nova. Sem demora enriquecerá as páginas dos dicionários da língua portuguesa, com foco aos mais populares, Houaiss e Aurélio Buarque de Holanda. Explicará com detalhes, oficializando o significado. Antes de chegar a tal destino criará no presente dúvidas àqueles que não sabem compreendê-la.
Para adiantar a iniciativa consideramos ser a mesma uma associação da convivência do homem com a tecnologia. Uma espécie de ligação da cibernética e o isolamento do ser que pensa, chora e rir. A parceria ajuda, impulsiona o progresso e contribui às necessidades básicas. Acontece tanto no universo da informação e outras itens que se movem de acordo com o interesse do agente que opera o teclado. O domínio dos aplicativos nos diverte, mas, igualmente mostra o lado danoso, prejudicial que sufoca a qualquer um e inclui vida familiar e social. Resultado: constitui-se num exemplo acabado do que seja maniqueísmo, a luta do bem contra o mal.
Quem começa e gosta não escapa do envolvimento dessa torrente de bytes e logaritmos a que se submete diariamente, hora a hora, muitas vezes, às 24 h do dia, com pouco tempo para o almoço e outros afazeres, que atinge o lado afetivo. Que se dane mulher, filhos, família e descanso.
Os dependentes dos novos meios digitais de comunicação ganham contornos e formam uma teia com extensão inimaginável. Servem para tudo. Dão prazeres e alegrias, choro e arrependimento. Jogou na tela do computador, foi-se. Uma inocente foto vira algo indecente. Uma brincadeira, caso de polícia e processo judicial.
Carolina Diekmann que o diga dos constrangimentos de uma foto sua à moda de Eva, sem a folha de parreira. Recentemente o idoso Stênio Garcia e sua mulher entraram na brincadeirinha e Puff. A sabedoria popular ensina que certas situações que possam cair na boca do povo, todo cuidado é pouco. Narcisismo é arma perigosa.
O homem do século 21 é ao mesmo tempo, um beneficiário, devedor das criações inventivas, que nos leva às alturas, para, depois, os mesmos inventos, nos jogar do alto abaixo. Espatifa-nos como vidro de espelho quebrado. Acontece. E ao que nos consta a saída é difícil. O uso abusivo dos aparelhos cibernéticos está desestruturando pessoas e à família. Os amigos abandonados, em benefício de amizades cibernéticas.
Nas ruas, restaurantes, transportes, festas e encontros de qualquer natureza nós olhamos um viciado em telinha. A conversa olho no olho desapareceu. Quem manda são os tablets, notebooks, wartsApps, smartphones.
No século passado nos debruçamos na prosa e poesia sobre certo tipo de solidão sentida pelos corações sensíveis. Cecília Meireles na crônica “O livro da solidão”, diz que se tivesse que ir para uma ilha deserta, levaria – “um dicionário, por explicar a alma dos vocábulos: a sua hereditariedade e as suas mutações”. Vinícius de Moraes, esse ser mutante e vidrado nas coisas do amor, confessa: “a maior solidão é a do ser que não ama. (…) é a dor do ser que se ausenta, que se defende, que se fecha, que se recusa a participar da vida humana”.
O gaúcho Barão de Itararé, bem humorado e irônico diz que, o homem não é uma máquina e a máquina não é um homem e arremata: “Mas a máquina, afinal, que, como Deus, a fez à sua semelhança”. Naturalmente incluindo defeitos. No romance “Cem anos de solidão” de Garcia Marques ele lida com a dor e o sentido da palavra.
A solidão em outros tempos vinha, geralmente, do amor e certas circunstancias. Hoje, o isolamento perdeu-se na selva da obsessão, uma doença silenciosa, que requer assistência psicológica.
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