A possibilidade de manipulação de provas do cometimento de crime de colarinho branco motivou a decisão do juiz Osmar Gomes dos Santos de prisão do ex-chefe da Casa Civil no governo Roseana Sarney, João Abreu, Alberto Youssef e os operadores do doleiro, Rafael Ângulo, Adarico Negromonte e Marco Antônio Ziegert. Envolvidos em uma trama que teria resultado em pagamento de propina de R$ 3 milhões, os acusados tiveram prisão decretada pela Justiça na última quinta-feira, dia 24.
A partir de depoimentos e cruzamento de ligações telefônicas entre o ex-secretário, o doleiro Alberto Youssef e Marco Antonio Ziegert, o juiz da Central de Inquéritos de São Luís decidiu decretar a prisão preventiva dos envolvidos no caso que culminou na prisão do doleiro Alberto Youssef em São Luís, no ano passado. Após as investigações e os depoimentos de todos os envolvidos, a Justiça determinou a prisão do ex-secretário, que se entregou à polícia na tarde da última sexta-feira, no aeroporto de São Luís.
Os depoimentos mostram que, a partir de transporte de propina em meias de compressão, o representante do doleiro Alberto Youssef entregou cerca de R$ 3 milhões em dinheiro vivo ao ex-chefe da Casa Civil durante o governo Roseana Sarney.
As investigações tiveram início quando a Polícia Federal prendeu Alberto Youssef em um hotel de luxo em São Luís. As investigações apontaram que o doleiro, além do envolvimento na Lava-Jato, negociava um precatório de R$ 113 milhões com o governo do estado e a empresa Constran. Para fechar o acordo, Yousseff teria prometido a João Abreu o pagamento da propina e receberia da Constran cerca de 15% do valor total do precatório.
Decisão
Na decisão em que determinou a prisão preventiva dos envolvidos, o magistrado afirmou que foram cometidos crimes de corrupção ativa e passiva, com grande ônus para os cofres públicos. “Ainda, faz-se necessária a custódia cautelar dos representados levando em conta a natureza da infração perseguida, esta se trata de crime de colarinho branco, cujas provas são de fácil manipulação, de forma que soltos a instrução criminal e a busca da verdade real ficariam comprometidos”, completou.
Além da prisão, o juiz determinou o bloqueio de bens de João Abreu no valor da propina que teria recebido em seu gabinete, quando conduzia a Casa Civil de Roseana Sarney. O valor está bloqueado desde a última quinta em favor do Estado do Maranhão.
O relacionamento entre o representante do governo Roseana Sarney e Youssef são comprovados, além dos depoimentos do próprio doleiro e de seus emissários, pela existência de diversas ligações entre o celular do ex-secretário e o telefone de Alberto Youssef. Os emissários do doleiro que entregavam o dinheiro vivo no gabinete da Casa Civil relataram, em depoimento, que presenciaram diálogos em que João Abreu cobrava de Alberto Youssef o pagamento integral “do combinado”.
Pelo menos duas testemunhas comprovaram a ligação. Uma delas era Rafael Ângulo, que era responsável pelas entregas do dinheiro vivo carregado através de meias de pressão coladas nas pernas, em que chegava a transportar R$ 400 mil por viagem. Ele esteve em São Luís por três vezes, onde afirma ter sido levado até o Palácio dos Leões para realizar a entrega diretamente ao então secretário.
O segundo é o sócio de Alberto Youssef, que confirma ter ouvido um dos diálogos em que Youssef e Abreu discordam sobre a forma de pagamento da propina. Para Abreu, o valor deveria ser entregue por completo de imediato. Para Youssef, só seria possível de forma parcelada, já que o transporte era feito clandestinamente colado ao corpo de passageiros de aviões comerciais da sede da sua empresa até São Luís.