ARTIGO

Os paradoxos de São Luís

A cidade de São Luís, hoje, com 403 anos, ainda sofre de uma crise de identidade. É uma cidade multiparadoxal. Com a assinatura do Tratado de Tordesilhas entre os portugueses e espanhóis em 1494, a região onde hoje se encontra o estado do Maranhão ainda não fazia parte do território brasileiro. Só meio século depois […]

A cidade de São Luís, hoje, com 403 anos, ainda sofre de uma crise de identidade. É uma cidade multiparadoxal. Com a assinatura do Tratado de Tordesilhas entre os portugueses e espanhóis em 1494, a região onde hoje se encontra o estado do Maranhão ainda não fazia parte do território brasileiro. Só meio século depois da descoberta de Pedro Álvares
Cabral, foi que o estado entrou no mapa oficial, quando o rei de Portugal, D. João III, dividiu o Brasil-colônia em Capitanias Hereditárias.
Por incrível que pareça, mas foi na fragmentação do território brasileiro para impedir a invasão estrangeira, que os franceses, mais tarde, resolveram furar o “cerco” português, entrando pelo Nordeste, a começar por São Luís, onde pretendiam implantar a França Equinocial. Mesmo com a Ilha Upaon-Açu dominada por índios tupinambás, o capitão Fidalgo Daniel de La Touche não se intimidou. Fincou o arremedo de uma cidade francesa, depois de 122 anos da chegada de Cabral.
Se fosse hoje, pelo decreto do governador Flávio Dino, que proíbe homenagens a pessoas vivas em patrimônio público, Daniel de La Touche não teria colocado em sua primeira construção na “Grande Ilha”, o nome do rei Luís XIII da França. Seria improbidade pura. Como a ilha estava
‘à volonté’, logo os franceses cuidaram de construir uma aliança pacífica com os nativos donos do pedaço. Mas essa mistura de índio e “papagaios amarelos” não deu certo. Durou menos de três anos. Em novembro de 1615, foram expulsos, pelo capitão português
Jerônimo de Albuquerque.
Em poder dos portugueses, não se sabe por que eles foram buscar o nome do Rio Maroñón
(mar, corrente), no Peru, para batizar este pedaço do Brasil. Coisa de português. Só em 1621, a Coroa nomeou as divisões territoriais de Maranhão e Grão- Pará, para defender a costa marítima do país e estabelecer contato com a metrópole, que estava com representação centralizada na cidade de Salvador.
Mas a festa não durou muito tempo. Os holandeses resolveram botar água no vinho dos “portugas”. Invadiram o Nordeste para implantar as primeiras indústrias de cana-de-açúcar e promover o desenvolvimento.
Um novo movimento de expulsão por parte dos colonizadores portugueses se iniciou: em 1642, o capitão Antônio Teixeira de Melo organizou uma expedição para enfrentar os holandeses, mas só conseguiu a vitória efetiva dois anos depois. Com a nomeação do Marquês de Pombal, primeiro-ministro português, o estado maranhense foi subdividido em quatro capitanias: Maranhão, Piauí, São José do Rio Negro e Grão-Pará. Era um estado independente! E aí a cidade de São Luís já nem se lembrava dos franceses fundadores.
Pombal fundou a Companhia de Comércio do Grão-Pará e Maranhão e estimulou a migração de outros povoados nordestinos para a região com o cultivo de arroz e algodão.
Estas novas mercadorias de exportação aceleraram o desenvolvimento do estado, que chegou a abrigar diversos casarões antigos que fazem parte do Centro Histórico de São Luís. Entretanto, com o fim do sistema escravocrata em 1888, o estado passou por um difícil período econômico e só veio se recuperar no início do século seguinte, por volta de 1910, com a industrialização do material têxtil.
Aí o bicho pegou. São Luís vivia de prefeitos nomeados até 1965, quando o então suplente de deputado federal Epitácio Cafeteira pegou uma licença de 122 dias para assumir na Câmara dos Deputados. O paraibano não perdeu tempo. Propôs uma emenda constitucional em que deu autonomia política à capital maranhense, sendo seu primeiro prefeito eleito. Ufa! Porém, com a ditadura, os militares cortaram o barato da cidade, que virou área de segurança nacional e também “Ilha Rebelde”, na luta por democracia. A explosão do caldeirão se deu em 1979, a pretexto do fim da meia-passagem nos poucos ônibus que havia. É que os bondes, Cafeteira os retirou de circulação 10 anos atrás. E, paradoxalmente, ele também tinha acabado com o direito do desconto estudantil da meia-passagem.
Assim, de paradoxo em paradoxo, São Luís já foi quase tudo em sua longa história. Foi holandesa entre 1641 a 1644, quando o governo colonial decidiu fundar o estado do Grão-Pará e Maranhão, independente do resto do país. Nessa época, a economia era baseada na plantação, e depois exportação, de cana-de-açúcar, cacau e tabaco. Conflitos
entre as elites por motivos econômicos levariam à Revolta de Manoel Beckman.
Agora, não tem essa de invasão. Tem de ideologia. Depois de reconquistar, em 1988, o direito de eleger o prefeito, passaram pelo Palácio de La Ravardière: Gardênia Gonçalves, Jackson Lago, Conceição Andrade, Jackson Lago (de novo, e ainda reeleito), Tadeu Palácio, João Castelo e Edivaldo Holanda Júnior. Todos em confronto com o governador de plantão. Finalmente, hoje, prefeito e governador, ambos filhos da Ilha
Magnética, estão conseguindo, nesses oito meses da gestão Flávio Dino, administrar a cidade em parceria, pelo bem da população.
Custaram quebrar um paradigma velho, mas produziram um novo. Dino é comunista e Edivaldo Jr., evangélico. É torcer e fazer figa, afinal, Deus é brasileiro, portanto, maranhense.
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