Foto: Gilson Teixeira / O Imparcial .
Não há nenhum sinal de obras sendo realizadas no trecho entre São Luís e Bacabeira
Ao que parece, o Maranhão não ganhará de presente de Natal a duplicação da BR-135. Obra constava no calendário oficial de inaugurações da presidente da República, Dilma Rousseff, para o próximo mês de dezembro. A reportagem de O Imparcial esteve, ontem, às margens da rodovia federal que liga a entrada da capital maranhense ao resto do estado e se deparou com uma situação de abandono.
Basta qualquer cidadão fazer um exercício simples: assim que os carros cruzarem o Estreito dos Mosquitos, pedaço que liga a ilha ao continente, os passageiros podem olhar à sua direita e constatar o abandono da obra, que, de acordo com as autoridades, seria entregue em dezembro próximo.
A primeira metade da duplicação, ainda no trecho perigoso, denominado de Campo de Perizes, está totalmente crua, sem pavimentação asfáltica, sinalização ou qualquer trabalhador na pista, somente com vegetações típicas que começam a emoldurar a via. Já no município de Bacabeira, na localidade de Periz de Baixo, a reportagem de O Imparcial se deparou com outra cena de abandono, relativa à desapropriação das casas. As residências tombadas pelo governo federal ainda encontram-se, em sua maioria, em estado de ruínas.
O motorista Antônio Ferreira Lima Filho, que residia com os filhos e esposa às margens da BR-135 e teve sua casa demolida mediante indenização, contou que as máquinas estão guardadas no canteiro de obras. “As máquinas tudo saíram e nós não temos nem notícia. Está tudo no canteiro. A gente não sabe o que está acontecendo”, informou.
Foto: Gilson Teixeira/OIMP/D.A Press .
Residências em Periz de Baixo tombadas pelo governo foram demolidas. Restam apenas montes de entulhos abandonados
Não indenizados
Foto: Gilson Teixeira/OIMP/D.A Press .
Casa do vice-prefeito de Icatú, Araujo
Logo próximo às ruínas da casa do senhor Antônio Lima está a casa do vice-prefeito de Icatu, conhecido como Araújo. A moradia do representante popular está intacta, pois, segundo relatou sua filha, Joseana Araújo, o governo federal não ofereceu indenização por seu pai ocupar mandato eletivo.
Situação semelhante encontra-se o vice-prefeito de Bacabeira, José Benedito Torres, conhecido como “Arrumadinho”. O vice-prefeito relatou que o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) argumentou que ele não encontra-se em situação de vulnerabilidade. “Eles entendem que o vice-prefeito não está num quadro de vulnerabilidade. Eles acham que não devem nos pagar”, reclamou.
José Benedito lamentou a forma como foi abordado por um senhor que se identificou como Otávio. “O Otávio veio aqui e disse para eu assinar a ordem de despejo. Eu disse que eu não ia assinar, pois eles nem me ofereceram nenhuma proposta”, relatou.
Foto: Gilson Teixeira/OIMP/D.A Press .
Vice prefeito de Bacabeira, José Benedito Torres
O vice-prefeito argumentou que o fato de ele ocupar mandato eletivo não é justificativa para que não seja indenizado, visto que este é um status temporário. “Esse prédio foi construído há 30 anos, antes de ter cargo eletivo. Foi construído com meu trabalho de pescador. Eu estou num cargo eletivo que já está terminando”, disse.
José Benedito declarou também que somente a sua casa e a do vice-prefeito do município de Icatu estão com esse impasse com o DNIT e que ele próprio e o prefeito de Bacabeira, enquanto gestores, teriam participado das negociações das indenizações com os moradores da região. “Indenizaram todas as casas do lado de lá e ficou a minha e do companheiro Araújo. Quero que o DNIT nos busque para fazer acordo”, destacou o vice-prefeito, informando que as quantias variaram de R$ 10 mil a R$ 80 mil, dependendo da casa e do terreno.
A reportagem de O Imparcial tentou contato com o DNIT, mas até o fechamento da matéria não obteve retorno das ligações.
Autoridades estaduais
Na sessão de ontem da Assembleia, o tema da duplicação também foi abordado entre os parlamentares. O deputado Eduardo Braide solicitou que os deputados da Comissão de Obras da Casa vistoriem a rodovia federal e peçam providências aos órgãos competentes.
“Nós já estamos praticamente no início do mês de outubro, e quem passa ali pelo trecho do Campo de Perizes tem a clara sensação, mesmo sem ser engenheiro, de que talvez esse prazo possa não ser cumprido pelo DNIT. Aqui, eu não quero julgar ainda, porque acho que somente uma vistoria juntamente com o DNIT dará essa posição de forma mais firme e técnica para que a gente possa saber o que de fato está acontecendo”, disse Eduardo Braide, durante seu discurso.
O parlamentar destacou que o superintendente do DNIT, Gerardo Fernandes, informou aos deputados estaduais que a obra constava no calendário oficial de inaugurações da presidente da República, Dilma Rousseff, para o mês de dezembro.