Período junino tem festa para quatro santos em São Luís
Na maior festa popular do Nordeste, três santos da Igreja Católica são reverenciados, porém apenas em São Luís, um quarto santo, São Marçal, também participa dos festejos juninos. Conheça cada um deles
Considerado o Santo Casamenteiro, Santo Antônio é o primeiro homenageado do mês – 13 de Junho, comemoração marcada pelas trezenas – 13 noites de reza, de 1º a 13 do mês. O ritual é realizado em inúmeras casas e igrejas. Antiga lenda diz que o santo português ajuda as mulheres e homens solteiros a realizar os tão sonhados casamentos. O jovem Marcos Vinicius, 25 anos, está prestes a ser pai e começando a vida matrimonial. Ele confessa que já chegou a fazer algumas solicitações ao santo, por acreditar na fama que este carrega. “Um pouco de fé pode sim ajudar quando você acredita. No mais, precisamos fazer nossa parte e seguir o caminho correto que a pessoa certa vai aparecer”, diz ele. No interior dos estados do Nordeste, a maioria dos católicos preserva o costume de rezar ao santo para encontrar a alma gêmea e a este rito, os devotos acrescentam algumas simpatias. A principal delas é colocar a imagem de Santo Antônio de ponta-cabeça, mergulhada em um recipiente com água, até o dia do casamento. “Não cheguei a castigar assim o santo. Acredito que basta pensar com fé e ser firme em seus propósitos e a ajuda vem”, conclui.
São João é o segundo e principal santo católico reverenciado pelos nordestinos, cuja data, 24 de junho, é feriado regional. Além das celebrações católicas, a data é comemorada a partir da noite do dia 23 com muitas festas animadas, com fogueira, fogos de artifício e forró, tudo regado a bebidas e comidas típicas, como bolos, doces, licores, milho (cozido e assado na fogueira), canjica e quentão. A aposentada Maria Antônia Aguiar, 64 anos, diz que deve ao santo, a vida da filha, hoje com 45 anos. “Ela tinha oito meses e ao cair ficou sem respirar e roxa. Pedi ao santo ajuda e imediatamente minha filha voltou a si. Vejo isso como um milagre e por isso sou devota”, relata. Dona Maria não perde os largos do santo no período junino e além da diversão, aproveita para agradecer a graça recebida e reverenciar o santo querido. Segundo historiadores, a tradição das festas juninas – antes chamadas de joaninas – surgiu na Europa durante o século 14. No Brasil, o costume de homenagear os santos do mês de junho foi trazido pelos portugueses com inserção de valores dos negros e indígenas. A tradição das fogueiras também veio do continente europeu e representava o aviso a Maria, do nascimento de João, filho de sua prima Isabel. Os fogos de artifício, por sua vez, representam para alguns, o despertar de João. Em Portugal, o uso das bombas e rojões serve para espantar os maus espíritos.
A reverência a São Pedro nasceu em uma vila de pescadores, tendo o santo sido escolhido como padroeiro destes e ficando a Igreja de São Pedro, na Madre Deus, como espaço de devoção. No dia do santo, 29 de junho, são realizadas rezas, procissões de embarcações e encontro de grupos de bumba boi no Largo de São Pedro. O principal apóstolo de Jesus Cristo é ainda fiel depositário de todas as esperanças de chuva dos nordestinos. O empresário Pedro Abreu Junior, 46 anos, acompanha as duas grandes procissões marítimas em honras ao santo realizadas na Grande Ilha – uma em São Luís e outra em Paço do Lumiar, no mês julho. “É um santo pelo qual sinto simpatia. Admiro também por proteger os pescadores e dessa devoção gerar uma bela festa nos mares, no período junino”, ressalta. Na ocasião das procissões, Pedro diz que também faz suas promessas e agradece pelas conquistas em sua vida. Segundo a tradição, viúvos e viúvas devem acender uma fogueira na porta de casa durante a noite do dia 29. “Não estou nessa condição de viúvo, mas gosto de ver a fogueiras nesse dia iluminado as portas das casas. É muito poético e bonito”, ressalta. O dia de São Pedro também representa o fim do principal período festivo dos municípios do interior do Nordeste.
“Eu não perco um festejo de São Marçal e gosto por ser um santo que reúne as pessoas para comemorar e brincar. Por ser um santo de alegria”, diz a servidora pública Ana Rute Santana, 48 anos, que é uma devota do santo e acompanha o festejo todos os anos. Comemorado no dia 30 de junho, São Marçal mais conhecido como São Marcial de Limoges, por ser atribuído a ele a fundação da Sede Episcopal de Limoges. Foi canonizado pelo Vox Populi no século VI e o culto a ele ocorre por toda a Gália (atual território francês), chegando mesmo à Itália e Península Ibérica. A cada sete anos as suas relíquias são solenemente veneradas e levadas em procissão na cidade de Limoges. É o único que, apesar de reverenciado, não tem igreja que leve seu nome. O santo teria ainda sido seguidor de Cristo. Desde 2006, a data é também o Dia do Brincante de Bumba Meu Boi, de acordo com lei municipal. “O dia deste santo é o melhor do período junino porque é o dia do encontro de bois de matraca e pandeirão no bairro João Paulo. Eu não perco uma”, ressalta Ana Rute. A festa começa cedo e prossegue durante todo o dia com a apresentação de mais de 40 grupos de bois.