Deixar o emprego formal de carteira assinada e montar um negócio próprio. Em tempos de insegurança econômica por que passa o país e que contribui para um cenário de instabilidade dos negócios, esta não seria a melhor opção. Mas, há quem aposte no sonho de ser seu próprio patrão e encare os desafios de gerenciar um empreendimento. Esse otimismo se reflete nas estatísticas, que apontam um número crescente de novos negócios, principalmente, micro e pequenas empresas. Este segmento representa 96% dos empreendimentos em atividade no país. A predominância está no setor de serviços-comércio, 88,7% do total, e garantindo 79,9% de empregabilidade. No Maranhão, 91,2% dos negócios são MPE, sendo 62% no comércio e empregando 82,2%. Os dados são da pesquisa Participação das Micro e Pequenas Empresas na Economia Brasileira, realizado pelo Sebrae em fevereiro deste ano. Em contrapartida, a pesquisa aponta que 86% destes negócios fecham as portas após cinco anos de funcionamento.
Esse índice de falências não assustou os sócios Antônio Alcântara, 26 anos e Lucas da Cruz, 25, a saírem dos antigos empregos e montar a empresa de comida caseira, Toque de Mestre. “A gente queria mais flexibilidade e liberdade para trabalhar”, diz Antônio. Com formação em Técnico de Alimentos, por três anos ele trabalhou como atendente de buffet em um shopping da capital. Já Lucas era auxiliar administrativo em dois turnos na empresa da tia, onde ficou por cinco anos. A rotina de trabalho culminava com muito cansaço ao fim dia e noites mal dormidas. Há um mês os dois resolveram abrir mão da carteira assinada e serem sócios. “A gente começou com uma encomenda de quatro quentinhas, até que apareceu o convite para um buffet e, no boca a boca, foram surgindo mais clientes”, lembra Antônio, que é responsável por colocar a ‘mão na massa’ e preparar os pratos.
Sem capital de giro para suprir as demandas, Antônio utilizou o salário do antigo trabalho para custear as primeiras encomendas. Era comprando, pagando e investindo tudo que entrava, até que, após quatro meses, o negócio se fortaleceu. “Neste período a gente se dividiu entre nossos empregos e o nosso negócio, até que conseguimos clientes fixos e vimos que ia dar certo”, diz Lucas, que se ocupa da parte burocrática e também faz as entregas. Hoje, a rotina continua sendo de acordar cedo e ir para o batente, porém, fazendo o que gostam e sem patrão. “A vantagem é que a gente faz com prazer, nós é que decidimos e nos comandamos. Mas, não temos feriado, nem fim de semana. Quem manda é o cliente e se temos clientela, estamos trabalhando”, diz Antônio. Para Lucas, poder decidir quando, como e o que fazer é a maior vantagem de ser o próprio patrão. “Agora a gente controla faturamento e vendas. Tinha receio de não conseguirmos manter clientela, mas hoje, tenho firmeza no produto que oferecemos e que isso manterá e trará mais clientes”, conclui. Os sócios possuem dois funcionários, já mudaram para um espaço maior e têm planos de agregar mais ao negócio.
Além da vontade de ter um negócio próprio é imprescindível conhecer a atividade e planejar a organização, diz o administrador, especialista em gestão empresarial e consultor, Márcio Antônio Moreira. Ele cita ainda o conhecimento dos processos burocráticos para que as finanças não sejam comprometidas. “São questões da rotina empresarial e é bom que saiba como se movimentam os recursos”, explica. Ter um plano de negócios também é importante. O documento contém informações sobre o mercado do produto, os concorrentes, novos investidores, valor praticado do produto e possíveis riscos. “É o manual de consulta constante do empresário”, diz o especialista.
Equipe qualificada, dedicação ao negócio e capacitação no ramo são outros fatores de crescimento do empreendimento, segundo o consultor. Moreira aponta ainda que os lucros de um negócio próprio, se bem administrados, podem ultrapassar o salário do emprego formal mais de cinco vezes. “O dono de um empreendimento precisa sempre se atualizar, não misturar o negócio com a vida pessoal e ter atenção às finanças que terá sucesso”.
Menos burocracia
A facilidade para abrir uma empresa e a redução dos trâmites burocráticos fez aumentar o número de negócios surgindo no país. Dados mais recentes da Receita Federal, de fevereiro, apontam que foram abertas pelo menos 4.932 empresas. O número refere aos pedidos de inclusão no Simples Nacional por novos negócios. A modalidade agrega em um só os vários impostos, diminuindo a carga de tributos e a burocracia para as empresas. Pagando menos impostos são maiores as chances de se manter no mercado. O Simples Nacional é administrado por um Comitê Gestor composto por quatro integrantes da Receita Federal, dois do estado e dois do município.
Talento para as artes
“Sempre gostei de artes, trabalhos manuais, de criar, decorar. Hoje trabalho com o que gosto e tenho satisfação pessoal”, diz Jefferson Antônio dos Santos, 24 anos, que montou a Magia e Decorações, empresa de festas e eventos. Há seis anos ele atua no ramo e há três formalizou o negócio. Antes trabalhava como auxiliar de cozinha e serviços gerais. “Não sei o que é feriado ou fim de semana, mas consigo fazer meu trabalho e ter tempo para meu lazer e descanso, o que antes não conseguia com o emprego formal”, afirma. No início, Jefferson decorava as festinhas dos parentes e amigos e quando percebeu estava organizando festas fora desse ciclo. Para o sucesso da empresa ele aponta a criatividade e a autenticidade do que produz. Além disso, estar sempre fazendo cursos e se reciclando. Os ganhos aumentaram em mais que o dobro com a empresa. Com suas produções Jefferson chegou a ser premiado pela originalidade em concurso local e foi destaque em programas de televisão sobre o tema. “Não voltaria para o emprego formal. Amo o que faço hoje”, conclui.