Em entrevista a O Imparcial, o delegado-geral da Polícia Civil do Estado, Augusto Barros, afirma que os investigadores já têm algumas informações dos deslocamentos do ex-prefeito de Zé Doca, Raimundo Nonato, “o Natinho”, foragido da justiça há dois dias. Natinho teve sua prisão preventiva declarada, por envolvimento com agiotagem, na madrugada de segunda para terça-feira, mas fugiu do município em que se encontrava. Barros adverte que, quanto mais tempo ele demorar para se apresentar à polícia, seu tempo de prisão pode aumentar consideravelmente.
Alguma pista do paradeiro de Raimundo Nonato, o “Natinho”?
“Sim. Já temos algumas informações de como ele esta se deslocando e, aproveito para dizer que gostaríamos de contar com apresentação dele para a prisão preventiva, decretada anteriormente, não se reverta em uma prisão de 90 dias ou mais”.
Quanto tempo os demais suspeitos pegos nas Operações Morta-viva e Marajá ficarão presos?
“Eles estão em prisão temporária de cinco dias, que pode ser renovada pelo mesmo período. Normalmente, quando há essa colaboração, a prisão temporária é para que se investigue com mais tranquilidade. Então, dependendo do nível de colaboração, a representação não é feita por uma prorrogação dessas prisões”.
Já foi contabilizado o valor, em média, do dinheiro desviado pelos presos nas Operações Morta-viva e Marajá?
“Não. Este é um trabalho que pode levar meses e tem que ser individualizado por prefeituras, para que, ao final das contas, possa ser feito o somatório. Os dados informados na coletiva, da última terça-feira, foram relativos ao que conseguimos pegar, mas muito destes dados, às vezes, podem escapar ao alcance da investigação, por isto tem-se que ser feito com bastante atenção”.
Na última Operação Imperador foram identificadas 10 empresas fantasmas. Agora, quantas empresas fantasmas em média nestas duas últimas operações?
“Existem várias pessoas investigadas, temos os titulares de empresas fantasmas, também nós temos indivíduos que apenas eram intermediários, além de gestores que faziam estas contrações irregulares. Então, o número de empresas, já considerada na escala de centenas, é variável e pode ter aumentado de acordo com estas buscas e apreensões que geraram o encontro de novas documentações, além da inclusão, por conseguinte, de novos municípios”.
Os documentos encontrados que constam os nomes das prefeituras de São Mateus e Paço do Lumiar já comprovam envolvimento destas prefeituras no esquema?
“Provavelmente, outros municípios surgirão. Temos estes como indícios que precisam ser constatados ainda. No caso de São Mateus, há um dado mais forte, que é a presença de um cheque com uma dose muito elevada de certeza e será iminentemente investigado, pois esse cheque estava em poder do agiota, então, há pouco o que se discutir sobre isto. Em relação a Paço do Lumiar, temos uma versão apresentada pelo advogado, do presidente da Câmara de Vereadores do município, com outra versão sobre a presença deste cheque, o qual não deveria estar lá. Conforme nós vamos conseguindo confirmar ou não estas versões apresentadas, nós aprofundemos para investigações e, eventualmente, contra outras que vão aparecer provenientes dos demais documentos apreendidos”.
Como, detalhadamente, estas pessoas conseguem abrir uma empresa fantasma?
“Normalmente, o que acontece é que as pessoas acessam documentos de terceiros que já faleceram, também temos os que perderam documentos. Então, essas empresas agem por meio destas pessoas como procuradores para que possam vir a somar em certames licitatórios, concorrendo como se fossem entes diferentes e não como empresas, digamos, oriundas do mesmo interessado. Estes são os formatos de como agem. Há também o uso de interposta às pessoas, ou seja o caso de pessoas que emprestam seus documentos com conhecimento do seu ato ilícito”.
Como faz para diferenciar nestes casos?
“Não é fácil. Tem-se que verificar se houve alguma contra prestação, isto é, se houve algum benefício financeiro, ou o nível de relacionamento que tem entre essas pessoas: a que está se beneficiando e aquela que teve o nome colocado na empresa fantasma. De acordo com benefício e relação entre estas pessoas, é que se consegue definir basicamente como aconteceu a fraude”.
Os desvios foram maiores em quais pastas?
“Nas últimas duas operações nós temos que fazer uma aposta de que boa parte é da merenda escolar. No caso da cidade de Dom Pedro, a área mais atingida foi a de medicamentos. Em Marajá do Sena e Zé Doca, há uma tendência a acreditar que a merenda escolar foi a pasta mais visada nestes desvios”.
E, durante a operação de mandato coercitivo, nestes três municípios já averiguados nas investigações, como vocês observaram a situação das pessoas e dos municípios onde este desvio foi exorbitante?
“De forma muito mais clara, em municípios como Marajá do Sena, você consegue observar pelo próprio estado das escolas e, às vezes, a ausência delas. Já naqueles municípios um pouco mais estruturados, observa-se um baixo índice de freqüência escolar, por conta da falta de merenda ou esta sendo servida de forma inadequada. Para as pessoas mais pobres, a merenda é muito significativa para estas famílias que enviam seus filhos à escola, então não tendo isto, a evasão se torna ainda maior. Além disso, a depredação eventual de escolas. No que diz respeito aos hospitais, constatamos a falta de medicamentos básicos, até materiais como gaze e outros mais simples na rede hospitalar pública”.