AMORES DIVIDIDOS

Mães que se dividem em trabalhar e cuidar de seus filhos contam suas experiências

Entre o prazer de ser mãe e cuidar dos filhos, há também a preocupação com a carreira e, muitas vezes, com a necessidade do trabalho. Como as mães lidam com esse momento, e o que os especialistas sugerem?

Deixar os filhos para trabalhar ou deixar o trabalho para cuidar dos filhos. Um dilema enfrentando por muitas mulheres quando a maternidade chega. O período da licença-maternidade – quatro meses – muitas vezes não é suficiente para a mãe sentir-se segura em terceirizar os cuidados com o filho ainda bebê. Por isso, 53% das mulheres brasileiras optam por parar de trabalhar e assumir o papel de mãe em tempo integral. Destas, 18,6% não retornam ao mercado. É o que indica pesquisa do mês passado, realizada pela Catho Oline, empresa referência na divulgação de oportunidades de empregos. “Ser mãe implica à mulher abrir mão de muitos desejos pessoais, a carreira profissional é um destes. Porém, é possível conciliar os dois, sem ser omissa no papel de mãe”, diz a psicóloga Ana Maria do Carmo Serejo.
O afastamento do mercado de trabalho por causa da maternidade vem crescendo nos últimos sete anos. É o que aponta a pesquisa ‘Novo Registro Demográfico: uma nova relação entre população e desenvolvimento’, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Quanto menor a idade dos filhos, maiores as chances da mulher se afastar da profissão. Um cenário que pode impactar negativamente na economia do país, pois são 5,9 milhões de mulheres a mais que homens, segundo a última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), de 2013. “A mulher precisa se organizar para enfrentar esse momento, que passa, pois a criança cresce e ganha autonomia. O apoio familiar ou auxílio de cuidadoras é importante, caso essa mãe não possa deixar de trabalhar”, orienta a psicóloga.
A professora Ana Rosa dos Santos, 35 anos, deixou um dos dois empregos que tinha. Optou por ficar um período do dia com os filhos pequenos, dividindo com a babá que contratou. A maior dificuldade foi encontrar alguém que passasse confiança. “Você vai deixar uma pessoa estranha com seu filho. A preocupação é grande. Hoje é muito difícil encontrar alguém que atenda às necessidades de uma mãe”, disse. A pessoa que atualmente cuida de seus dois filhos foi indicação de uma vizinha. A psicóloga Ana Maria pede atenção na hora de contratar e a indicação de um conhecido é uma forma segura. “Há ainda boas agências especializadas que dispõem de profissionais capacitados no trato com crianças. É outra boa opção quando não há um familiar que possa ajudar nesse momento”, diz.
A psicóloga lembra que a mulher ainda carrega uma grande carga de tarefas e a maternidade é a mais demandada. Enquanto o homem pode dedicar-se ao trabalho, a mulher acumula funções de mãe, dona casa, esposa e profissional. “É um conjunto grande de obrigações que impactam no equilíbrio dessa mulher. É importante que ela tenha o apoio da família e do companheiro”, diz. Mais creches, escolas em tempo integral e mudança na legislação trabalhista garantindo igualdade de condições entre homens e mulheres são alguns dos pontos citados pela psicóloga para atenuar as diferenças de gênero.
Dificuldades e realização
Foto: Karlos Geromy /OIMP/D.A Press. São Luís.


 Karlos Geromy /OIMP/D.A Press. São Luís

Maria Magnolia comenta que faz um verdadeiro malabarismo para conseguir cumprir sua jornada de trabalho e cuidar de seus filhos. Sem alternativa teve que levá-los ao trabalho

“Eu cansei de chegar no serviço com a roupa do avesso, muitas vezes desarrumada e com ar sonolento. Era uma correria, mas, como não tinha com quem deixar, era o que podia fazer”. O relato é da funcionária pública Maria Magnólia Araújo Castro, 52 anos, lembrando o malabarismo que fazia para cumprir a jornada de trabalho e cuidar dos dois filhos – Daniele, hoje com 28 anos, e Daniel, com 17 anos. Sem ter com quem deixá-los por questões financeiras e de confiança, a alternativa foi carregá-los para o trabalho. “Nem pensei em deixar de trabalhar, porque não podia. Dependia daquele salário para garantir o sustento dos meus filhos”, ressalta. Ela sentiu na pele o preconceito. Jovem, solteira e com filhos pequenos, logo surgiram os comentários. “Chegaram a dizer que só faltava eu levar o cachorro, pois já carregava crianças e uma série de apetrechos”, relembra. Paralelo aos comentários, algumas colegas a ajudavam no cuidado com as crianças. E essa rotina só cessou quando as crianças alcançaram os seis anos e, crescidinhos, passavam parte do tempo com os avós. “O período da licença é muito pouco para todo o cuidado que a criança precisa. Para nós mulheres é preocupante e angustiante, porque não temos saída. Por isso, muitas deixam de trabalhar”, enfatiza. Relembrando as dificuldades que enfrentou, Maria Magnólia se sente realizada e recompensada. “Olho para trás e sinto que cumpri meu papel de mãe. Criei pessoas de bem e com as quais hoje posso contar. Faria tudo de novo”, diz.
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