Da Escola para a vida
Encontro reunindo várias gerações da antiga Escola Técnica revive memórias, celebram as histórias, a longevidade e é só o começo para manter a tradição dos encontros
Qual a probabilidade de um grupo de estudantes se reencontrar 50 anos depois de forma natural, pelas ocasiões da vida? Remota, não é mesmo? Mas com a ajuda da tecnologia, isso não só foi possível, como ainda suscitou a ideia de novos projetos, como por exemplo, um livro de memórias.
Primeiro eles foram alunos, depois voltaram para a instituição como professores, e por último, retornaram à mesma para celebrar memórias.
No último dia 23, aconteceu o primeiro grande encontro reunindo várias gerações da Escola Técnica de São Luís e Escola Técnica Federal do Maranhão, hoje Instituto Federal do Maranhão. E para falar desse encontro, dessa reunião de amigos, do (re) acendimento de antigas amizades, eu conversei com os ex-alunos organizadores do encontro, e que também foram e são professores do IFMA, professor Marcos Muniz e Regina Muniz, uns dos organizadores do encontro, ao lado dos também professores Miguel Veiga e Irandi Marques Leite.
Nota da redatora: Eu também sou uma ex-aluna da instituição, na época Centro Federal de Educação Tecnológica (CEFET), e Marcos e Regina também foram meus professores, de Filosofia, e Química, respectivamente. Confira o bate-papo e quem sabe você, leitor, também não se inspira a reencontrar antigos amigos?
Cerca de 100 ex-alunos e servidores se reuniram para o grande encontro que aconteceu no aniversário de 115 anos da Rede Federal de Educação Profissional. A data, 23 de setembro, foi escolhida pelo grupo “ETFM.Eternos Amigos”, para celebrar esse reencontro, também os 50 anos da turma de 1974, da qual o professor Marcos fez parte (egresso do Ginásio Industrial de 1968 a 1971; e do curso Técnico em Eletrotécnica, de 1972 a 1974), e relembrar ainda os 52 anos do ingresso da primeira turma de mulheres na instituição em 1972.
“Nós, ex-alunos, egressos da Escola Técnica Federal do Maranhão, temos um comportamento que é observado por muita gente, que é de verdadeiros amigos até com aqueles que nós não conhecemos. Nós tratamos como se o conhecesse. Então, essa é uma característica dos chamados “etecelitanos”, uma denominação dada pelo professor Ramiro Azevedo aos alunos da Escola Técnica. Sempre tivemos esse espírito de nos reencontrar e tem grupos que se encontram a cada ano, pessoas de uma turma, de outra turma, isso já vem acontecendo”, disse a professora Regina Muniz.
O grupo foi formado primeiramente pelo professor Marcos. A ideia era reunir o máximo de ex-alunos, e eles foram buscados por meio das redes sociais, por outros amigos, até que em 15 de dezembro de 2022 estava formado. Hoje ele possui 110 participantes. E o objetivo era apenas de reunir as memórias dos amigos, sem envolver assuntos que possam suscitar algum tipo de polêmica, como política, futebol, religião, dentre outros.
“Formamos esse grupo e começamos a amadurecer, paralelamente, a possibilidade desse encontro reunindo gerações desde a década de 1950. Esse grupo foi um sucesso, é um sucesso”, disse o professor Marcos. No dia 15 de dezembro, quando o grupo Eternos Amigos fará 2 anos, haverá, provavelmente, um novo encontro.
“Nós criamos o grupo, eu e o professor Marcos, chamado Eternos Amigos e nesse grupo a gente fica conversando, falando do passado, das nossas vivências,recordando e são muitos depoimentos sobre tudo. Sobre os grupos que participávamos, sobre os desfiles, da banda musical, banda marcial, Interact Clube, Foto Clube, Clube Pedagógico, Grupo de Escoteiro, grupo de dança, coral, artes visuais, sobre a quadra esportiva que ficava no centro da escola, Teatro Viriato Correia, enfim, muitas coisas”, completou Regina.
O Grande Encontro
A partir do grupo, Marcos, Regina e Miguel Veiga resolveram coordenar o grande encontro que ocorreu em setembro, com apoio de outras pessoas. Todos eles egressos da Escola Técnica, e todos professores. Desses somente Regina, embora com tempo para se aposentar, ainda continua lecionando no IFMA.
Para o encontro estavam previstas 80 pessoas, mas apareceram 98, para ser exata, pessoas de várias gerações. “Foi maravilhoso encontrar com aquelas pessoas, nossos colegas de época de escola e com outros que não foram da nossa época, porque nós tínhamos pessoas de 1954, colega que fez um ginásio, depois voltou como servidor da biblioteca e esteve no Teatro Viriato Corrêa quando o escritor Viriato Corrêa esteve em nosso teatro, então a gente fica maravilhado com essa informação. Nós tivemos pessoas das décadas de 1950, 60, 70 e 80, que são os períodos da Escola Técnica de São Luís e Escola Técnica Federal do Maranhão. E assim como eu, o Marcos, o Miguel, fomos alunos, voltamos como professores para a Escola Técnica, depois Cefet e agora IFMA, no meu caso”, disse Regina Muniz.
Regina, ex-diretora dos campi Barreirinhas e Monte Castelo, é professora de Química da instituição desde 1978, tendo ingressado seis anos como estudante. Ela é da turma de 1972, a primeira turma de mulheres da instituição. Quando as portas da instituição se abriram para as mulheres, naquele momento, ela nem imaginaria que anos depois chegaria a ser a primeira mulher eleita do IFMA, e também a única diretora geral do Campus Monte Castelo.
“Eu considero um marco, porque a escola se abriu para mulheres possibilitando que elas participassem de cursos e de outras atividades que até então só os homens desenvolviam. Entrei na banda marcial, mas banca musical ainda não havia mulheres. Com a entrada das mulheres, as pessoas diziam que a Escola não seria mais a mesma, tudo uma questão de percepção, né?”, disse.
Do reencontro ao livro
Para ambos, o encontro foi um sucesso, um encontro de gerações, um encontro de amor, o encontro de oportunidade de rever as pessoas e saber como elas estão. “Nós queríamos conversar, nós queríamos ouvir, nós queríamos falar, agradecer. Nosso encontro foi fabuloso”, disse Regina.
Para Marcos, o sentimento foi de realização, depois de todo o esforço em conseguir reunir essas pessoas. “Outro sentimento é o de encontro. É como se tu olhasses um irmão teu que tu não vês há muito tempo, mas ao mesmo tempo tu não sentes um estranhamento por tanto tempo ser ver. Cada um que se abraçava era como se tivesse se despedido ontem, como se tivesse em 1974. Eu não sei se isso acontece hoje em dia, onde tudo é diminuto, não se cria raízes. Eu não vejo mais isso nesse contexto atual. A nossa geração gostava de estar junto”, disse.
Com o grupo, uma ideia pessoal de Regina e Marcos de escrever um livro de memórias, se potencializou. Junto a eles, Irandir Marques, Joel Câmara e Lourival Cunha, também ex-alunos são os organizadores da coletânea. O conjunto desses artigos que remetem à memória ainda terá um título.
“A gente viu, com a possibilidade desse grupo, que nós poderíamos conseguir realmente escrever um livro a partir, não de depoimentos, mas de escritos de cada etecelitano. E nós, enquanto organizadores, reuniremos esses escritos, essas memórias de cada egresso. Esse é mais um projeto do nosso grupo”, disse Regina. “É uma obra de memória que vai reunir histórias, fatos, narrativas, experiências, acontecimentos, vivências, relatos. Já temos quase 20 pessoas que estão compondo esses artigos, que expressam os seus sentimentos enquanto egressos da Escola”, disse Marcos.