A inclusão da comunidade surda
A Língua Brasileira de Sinais é uma língua de modalidade gestual-visual em que a comunicação ocorre através de gestos, expressões faciais e corporais.
Hoje, 23 de setembro é celebrado o Dia Internacional da Língua de Sinais, junto com a Semana Internacional dos Surdos, sendo o mês de setembro também conhecido pela campanha Setembro Azul em homenagem às conquistas da comunidade surda, como a luta pela inclusão.
A língua de sinais é uma língua visual, caracteriza por gestos e expressões faciais e corporais, possuindo muitas variações ao redor do mundo e no Brasil é conhecida como Língua Brasileira de Sinais (Libras).
De acordo com dados do IBGE, o Brasil possui 10 milhões de surdos, que corresponde a 5% da população, e parte deles utilizam a língua de sinais para se comunicar.
A tradutora e intérprete de Libras, Valéria Melo, atua na área desde 2004 e atualmente desenvolve suas atividades em uma universidade privada da capital, atuando como professora, função que desempenha desde 2013, e na Procuradoria Geral do Estado.
Valéria relata que seu interesse pelo tema surgiu na adolescência, “ainda na adolescência eu olhava as pessoas usuárias da Língua de Sinais e achava muito bonito e interessante. Meu primeiro contato direto foi com a namorada de um primo meu, uma pessoa surda, então nesse contato eu aprendi o básico da Língua Brasileira de Sinais”, conta.
A vontade de aprender era tão grande que Valéria não parou por aí, “dei sequências com oficinas e cursos e por fim a graduação e pós graduação na área de libras”, explica.
Apesar de não trabalhar na esfera escolar municipal, Valéria diz que, infelizmente, não percebe tanto incentivo para o conhecimento da Língua Brasileira de Sinais nas escolas da capital.
“Acredito muito que depende do profissional que está conduzindo esse ambiente de ensino. Na maioria das vezes percebo, infelizmente, que não há incentivo. A falta de conhecimento por parte dos gestores sobre o tema não proporciona esse incentivo aos discentes”, explica a professora.
Sobre os desafios que ainda enfrentam os profissionais que atuam com Libras, a tradutora menciona a falta de empatia.
“Os mitos que permeiam esta língua, a falta de empatia da sociedade em geral, os preconceitos ainda existentes sobre a comunidade surda e a Língua de Sinais, e também a falta de políticas públicas. Existem projetos há anos no Senado, na Câmara Federal, que possibilitariam o ensino de Libras como disciplina obrigatória nas escolas, mas que infelizmente pela falta de vontade política, empatia, e interesse dos nossos líderes esses projetos não são colocados para votação”, reforça.
Conheça a Associação de Surdos do Maranhão
Quem também faz um trabalho voltado para a comunidade surda desde de 1979 é a Associação de Surdos do Maranhão (ASMA), Ana Rute Farias de Albuquerque, que trabalha na diretoria da associação como secretária e orientação pedagógica, também falou a respeito do tema.
O Imparcial – Como surgiu a associação dos surdos do Maranhão?
Ana Rute – Em 12 de janeiro 1979 o jovem surdo José Benedito Baldez e seu irmão ouvinte organizaram uma documentação para criação de uma entidade para pessoa surda, que foi registrada no Ministério da Fazenda. Esse documento era o registro de uma associação para pessoas surdas. José Benedito Baldez fundou a Associação dos Surdos do Estado do Maranhão (ASEM). Na década de 80 passou a ser denominada Associação dos Surdos do Maranhão (ASMA).
Existe alguma programação especial para o Dia Internacional da Língua de Sinais?
Esta é uma das datas mais recentes que se comemora em todo o mundo. O primeiro Dia Internacional das Línguas de Sinais aconteceu no dia 23 de setembro de 2018. A data foi escolhida por ser o mesmo dia em que a Federação Mundial de Surdos foi fundada em 1951. Este dia faz parte da SEMANA DO SURDO/22 e a ASMA organizou uma programação especial para comemorar.
Você acredita que o interesse e o entendimento da sociedade a respeito da língua de sinais aumentaram nos últimos anos?
A vida das pessoas surdas mudou significativamente nas últimas décadas, pois as mesmas passaram a experimentar alguns dos maiores avanços no Brasil e no mundo. Com a falta de fluência da sociedade em Língua de Sinais e a falta de compreensão do povo surdo, surgem desafios em outros aspectos da vida cotidiana dos surdos, mas reconhecemos que nos últimos anos, talvez por causa da legislação brasileira a sociedade passou a se interessar por esta minoria.
Como é possível se tornar um intérprete de Libras?
Para se tornar um intérprete Libras é fundamental que a pessoa tenha habilidades linguísticas e as competências éticas necessárias. Essas habilidades necessárias para se tornar profissionais proficientes em Libras pode-se aprender por meio de cursos de interpretação, observações em campo e prática.
Você acredita que a cidade de São Luís está no caminho certo da inclusão?
Devemos ter a compreensão, a consciência, que a inclusão tem tudo a ver com garantir que todos os cidadãos possam participar plenamente em todos os espaços da sociedade. E sim, São Luís está no caminho certo para inclusão, mas ainda têm muitos obstáculos para serem vencidos, pois muitos espaços da sociedade Ludovicense têm muitas lacunas para serem preenchidas.