PROTESTO

Indígenas bloqueiam rota amazônica e pedem por ajuda contra a pandemia

Protesto também reivindica fim do desmatamento e da prática da mineração ilegal em suas reservas. Até o momento, 618 indígenas morreram e 21 mil foram infectados pelo novo coronavírus no país

Índios do povo Potiguara, Terra Indígena Baía da Traição, na Paraíba, improvisam lockdown das aldeias para conter avanço do novo coronavírus entre os indígenas - (foto: Arquivo Pessoal)

Dezenas de indígenas kayapó mekragnoti bloquearam, nesta segunda-feira (17/8), uma importante rodovia amazônica no estado do Pará “por tempo indeterminado”, em protesto para exigir o recebimento de mais ajuda para enfrentar o novo coronavírus, além de pedir pelo fim do desmatamento e da prática da mineração ilegal em suas reservas, verificou a AFP.

Portando paus, flechas e facões, os índios construíram duas barricadas no asfalto com pneus e madeira para bloquear na altura do município de Novo Progresso a BR-163, a principal rota de distribuição da colheita agrícola do Centro-Oeste até os os portos fluviais da Amazônia.

“A cada dia que passa essa doença está aumentando, por isso nós estamos fazendo esse movimento para chamar a atenção (…) para o governo olhar para o lado dos indígenas, não somos apenas nós, mas o Brasil inteiro tem indígenas que estão precisando de ajuda”, disse o cacique Beppronti Mekragnotire, por meio do seu porta-voz e intérprete Doto Takak-ire.

Com seus coloridos cocares e seus tradicionais desenhos pintados no corpo, os indígenas se manifestaram por meio de cantos e danças no asfalto, enquanto eram observados por caminhoneiros que aguardavam resignados em seus veículos carregados de grandes cargas de soja e milho.

Os kayapó mekragnoti, um subgrupo dos kayapó (do cacique Raoni Metuktire, ícone da luta pela preservação da Amazônia), habitam as reservas de Baú e Menkragnoti, que juntas ocupam uma área de 6,5 milhões de hectares.

Dos 1.600 habitantes de suas doze aldeias, 4 morreram com o vírus e há cerca de 400 infectados, segundo dados da ONG Kabú. Os primeiros casos ocorreram a partir do contato deles com populações urbanas e por causa da presença de garimpeiros ilegais em suas reservas.

Alvos frágeis 

Os indígenas são um alvo perfeito para o coronavírus por terem menor defesa imunológica por não estarem expostos a todo momento aos diferentes vírus como nas cidades, além do histórico estado de negligência estatal a que estão sujeitos.

Até o momento, 618 indígenas morreram e 21 mil foram infectados pelo novo coronavírus no país, segundo a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), que acusa o governo de Jair Bolsonaro de omissão diante da pandemia.

O Brasil, país de 212 milhões de habitantes (900.000 deles povos indígenas), é o segundo mais afetado pela pandemia, com mais de 107.000 mortos, atrás apenas dos Estados Unidos.

Combate ao desmatamento e mineração ilegal

Os indígenas também exigem do governo o combate ao desmatamento ilegal praticado pelos invasores de terras, principal causa dos incêndios que atingem a região na seca, e a mineração.

“Você está vendo essa fumaça?”, pergunta o cacique. “É porque o desmatamento está aumentando a cada dia”, lamenta.

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