Racismo nos EUA até quando?
A morte de George Floyd e os protestos contra a prática de racismo nos Estados Unidos e no resto do mundo, abriu um debate amplo sobre de que forma isso ocorre na “Terra do Tio Sam”.
“Cara, meu rosto. Eu não fiz nada grave. Por favor, por favor. Por favor, eu não consigo respirar. Por favor, cara. Por favor, alguém. Por favor, cara. Eu não consigo respirar. Eu não consigo respirar. Por favor. Cara, eu não consigo respirar, meu rosto. Sai de cima. Eu não consigo respirar. Por favor. Um joelho no meu pescoço. Eu não consigo respirar. Droga. Eu vou. Eu não consigo me mexer. Mãe. Mãe. Eu não consigo. Meu joelho. Meu pescoço. Eu vou morrer. Eu vou morrer. Me sinto claustrofóbico. Meu estômago dói. Meu pescoço dói. Tudo dói. Alguém me dê água ou algo por favor. Por favor. Eu não consigo respirar, policial não me mate. Cara, eles vão me matar. Por favor. Eu não consigo respirar. Eu não consigo respirar. Eles vão me matar. Eles vão me matar. Eu não consigo respirar. Eu não consigo respirar. Por favor, senhor. Por favor. Por favor. Por favor, eu não consigo respirar”. Essas foram as últimas palavras de George Floyd, um homem de 46 anos que morreu nos Estados Unidos enquanto um policial o imobilizava no chão, ajoelhado sobre seu pescoço por quase 9 minutos. Então ele fechou os olhos e as súplicas pararam. George Floyd foi declarado morto pouco tempo depois.
A morte de George Floyd e os protestos contra a prática de racismo nos Estados Unidos e no resto do mundo, abriu um debate amplo sobre de que forma isso ocorre na “Terra do Tio Sam”.
O Imparcial repercutiu o fato por meio da opinião de Valéria Pilão e Maria Emília Rodrigues, professoras da área de humanidades da Escola Superior de Educação do Centro Universitário Internacional Uninter, autoras do artigo “O caso Floyd: evidência de uma prática recorrente”, onde afirmam que a morte de George Floyd e contra o racismo, merecem nossa atenção. “Devemos nos atentar à morte, bem como aos seus desdobramentos sociais, tanto por solidariedade quanto para a compreensão do que esse caso representa naquela sociedade. Certamente, pode-se abordar a questão de diferentes perspectivas, no entanto, interessa evidenciar o caráter estrutural que o racismo assume no país da liberdade. Importante considerar que a morte de Floyd não é um caso isolado no cotidiano dos EUA, da mesma forma que não é incomum a violência contra negros realizadas pelos policiais nos diversos estados que compõem o país. Vale a pena uma pesquisa rápida nos buscadores da internet para descobrir a quantidade de casos que chegam à grande mídia, sem contar as violências cotidianas que não são divulgadas”. , escreveram elas.
Para Valéria Pilão e Maria Emília Rodrigues, “é válido salientar que manifestações de grandes proporções contra a violência policial nos Estados Unidos ocorrem há muito tempo e que a existência de movimentos como o “Black Lives Matter”, fundado em 2013, comprovam que o assassinato de Floyd não foi exceção. Este movimento é oriundo das demandas e das violências que a comunidade afro-americana é submetida e sua organização busca denunciá-las. Nos últimos anos, o movimento extrapolou limites territoriais, chegando a outros países”, enfatizaram as pesquisadoras.
Desigualdade social desde sempre
Em seu artigo, Valéria Pilão e Maria Emília Rodrigues, enfatizam que “é necessário compreender que a história dessa sociedade é envolta em contradições, pois por um lado, há o clamor pela liberdade e democracia e, por outro, uma profunda desigualdade social, marcada pela repressão da população negra e extermínio de grande parte dos nativos”, ressaltam as pesquisadoras.
Valéria Pilão e Maria Emília Rodrigues, lembram que o país [EUA] que foi a primeira colônia da América a se tornar independente em 1776, escrevendo uma Constituição de caráter liberal, não aboliu a escravidão, que perdurou até quase um século depois, sendo formalmente encerrada após a derrota dos estados escravocratas do Sul na Guerra de Secessão (1861-1865).
Contextualizando que: “os movimentos pelos direitos civis, durante as décadas de 1950 e 1960, puseram fim à segregação, mas não ao racismo estrutural e institucional que permeia a sociedade estadunidense. A partir dos anos de 1970, houve um recrudescimento das leis penais no país, o que aumentou exponencialmente sua população carcerária. Pequenos delitos passaram a ser punidos com máxima rigorosidade, lotando as penitenciárias, onde a maioria dos encarcerados não é composta por criminosos perigosos. E, não coincidentemente, a maioria é negra”.
Ambas ressaltam: “O país da liberdade aparece, portanto, limitado a apenas uma parcela da população e os atos que ocorrem demonstram exatamente esta desigualdade. Os movimentos no país permanecem enquanto este texto é redigido, não sendo possível prever quais serão seus desdobramentos. No entanto, a mudança faz-se necessária”.
Para Valéria Pilão e Maria Emília Rodrigues, “é importante que se debruce para reconhecer o caráter estrutural do racismo nos EUA e de que maneira a morte de Floyd expressa esta condição societal. Esse processo de compreensão da realidade pode tanto contribuir para a sensibilização à dor do outro (dos outros), como também potencializar a reflexão sobre outras realidades, como a da sociedade brasileira – com suas características sociais específicas -, impulsionando a superação das desigualdades”, afirmam as pesquisadoras.