“O dia em que eu tiver que me submeter a qualquer subordinado meu, eu deixo a Presidência da República”, diz Bolsonaro
Presidente fez pronunciamento longo e confuso após crise gerada pelo pedido de demissão de Moro
Em entrevista coletiva no final da tarde desta sexta-feira (24), com duração de aproximadamente 46 minutos, o presidente Jair Bolsonaro falou sobre a saída do agora ex-ministro Sérgio Moro do governo e sobre a demissão do diretor-geral da Polícia Federal, delegado Maurício Valeixo.
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Bolsonaro deixou claro que Sérgio Moro não participou de sua campanha eleitoral e que deu autonomia e não soberania ao cargo do ex-ministro da Justiça. Além disso, ressaltou que, por confiar em Moro, permitiu que ele escolhesse Valeixo para ocupar o cargo de direção geral da PF, mas que desconfiou da escolha de Moro sobre outros cargos, questionando se todos os bons seriam de Curitiba. Conforme o presidente, “Me surpreendeu: será que todos os melhores quadros da PF estavam em Curitiba? Mas dei um voto de confiança”, disse.
O presidente ainda informou que durante um café da manhã nesta sexta com outros políticos, havia dito que hoje eles conheceriam quem não quer ele na cadeira presidencial, às 11h, se referindo a coletiva de imprensa de Sérgio Moro. Ele ainda ressaltou que é difícil conviver com alguém que pensa muito diferente dele.
Em relação à interferência na PF, Bolsonaro disse que está de acordo com a lei trocar o diretor da corporação ou a qualquer um outro que esteja na pirâmide hierárquica do poder executivo e que não precisa pedir a ninguém para fazer isso. Segundo ele, Valeixo estava “cansado e começamos a procurar substitutos para seu cargo”. O presidente ainda complementou dizendo que pessoalmente não tem nada contra o ex-diretor geral da PF.
Bolsonaro manifestou, ainda, certa indignação ao falar que a Polícia Federal está mais preocupada em investigar o caso Marielle Franco do que o caso de tentativa de assassinato contra ele, e ainda questionou se exige muito da PF que deem mais importância a vida do presidente da república, já que tem um grande significado por ser um chefe de estado. Segundo ele, “A PF de Sergio Moro se preocupou mais com Marielle do que com o presidente da República. Entre o meu caso e o da Marielle, está muito menos difícil de apurar. Cobrei bastante dele isso, mas nunca interferi”.
Sobre Moro, o presidente disse que “uma coisa é conhecer a imagem da pessoa e outra é conviver com ela”, e que sempre abriu seu coração para ele, mas que agora desconfia se foi recíproco.
O presidente também afirmou que nunca teve informação alguma da PF e que não pediu nada à corporação, com exceção do caso de seu filho ter namorado a filha de um sargento e em relação ao caso do porteiro do seu condomínio. “Não são verdadeiras as insinuações de que eu queria obter informações sobre investigações em andamento” falou. “Nunca pedi que a PF me blindasse de qualquer forma”, afirmou.
Ele ressaltou, ainda, que havia informado a Moro, em reunião na quinta-feira (23), que nesta sexta publicaria a exoneração de Valeixo. O presidente disse que em resposta, o ex-ministro da Justiça havia solicitado que em novembro Bolsonaro o indicasse para o Supremo Tribunal Federal, o que negou.
Em tuíte publicado logo após o pronunciamento, Moro negou que tivesse proposto o acordo (veja abaixo).
O presidente ainda deixou claro que não se submete a qualquer subordinado seu. “O dia em que eu tiver que me submeter a qualquer subordinado meu, eu deixo a Presidência da República”, ressaltou.
TROCA DE MINISTROS
Em 15 meses, 8 ministros deixaram o 1º escalão do governo Bolsonaro. O juiz Sergio Moro é o 8º deles. Ele pediu demissão do cargo no Ministério da Justiça e da Segurança Pública nesta sexta-feira (24), acusando o presidente de tentar interferir nos trabalhos da Polícia Federal.
A saída de Moro ocorre no mesmo mês em que o titular da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, foi demitido do cargo por divergências com o presidente no combate à pandemia de coronavírus.
PGR pede inquérito ao STF para investigar declarações de Sergio Moro
Também nesta sexta, o procurador-geral da República, Augusto Aras, pediu autorização ao Supremo Tribunal Federal (STF) para abrir um inquérito sobre os fatos narrados e as declarações feitas pelo então ministro da Justiça e da Segurança Pública, Sergio Moro.
Entre as providências, o procurador-geral solicita ao Supremo a oitiva de Sergio Moro em razão da abertura do inquérito. Caberá a um ministro relator – ainda a ser definido na Corte – dar o aval e abrir a investigação.
A PGR aponta, em tese, crimes de: falsidade ideológica; coação no curso do processo – uso de violência ou ameaça contra uma pessoa em processo judicial ou administrativo, por interesse próprio; advocacia administrativa – promoção de interesse privado na administração pública; prevaricação – quando o agente público retarda ou não pratica ato previsto em lei para satisfazer interesse pessoal; obstrução de justiça; corrupção passiva privilegiada; denunciação caluniosa e crimes contra a honra – calúnia, injúria e difamação.