CORONAVÍRUS

Especialistas alertam que morte dos mais jovens indicam maior exposição

Para especialistas, o aumento no número de óbitos em menores de 60 anos ocorre porque os jovens estão se expondo mais e negligenciando os sintomas

(Foto: NELSON ALMEIDA / AFP)

“Fiquem em casa. Isso não é uma gripizinha”. As palavras de Diogo Azeredo Polo Boz, de 27 anos, eternizadas nas redes sociais, levantam um debate. Mesmo sem comorbidades, o jovem morador de Osasco (SP) perdeu a vida para o novo coronavírus este mês. Muito mais que um ponto fora da curva, a morte precoce de Diogo é dor para a família e amigos e acende um alerta para a população, especialistas e autoridades.

Estatisticamente, não há que se discutir: a Covid-19 é mais perigosa em idosos e pessoas cardíacas, hipertensas, diabéticas, com doenças respiratórias crônicas ou imunossuprimidas. Acontece que, no Brasil, os índices de mortos pela doença com menos de 60 anos cresceram nas últimas semanas. 

Em 30 de março, 90% das mortes eram referentes a idosos. Ontem, essa taxa estava em 72%. “É real e está perto de todos”, escreveu Diogo, em 6 de abril, dia em que foi internado em um hospital de referência para tratar a doença. Antes, ele já havia comparecido à unidade outras três vezes. Como só tinha febre e tosse branda, foi mandado para casa. Voltou com uma tosse que “te impossibilita de respirar e te faz ter dores que você não imaginaria”. Morreu quatro dias depois, isolado em um leito de hospital.

Pelo histórico de atleta e até por participar de competições nacionais, o personal trainer Caio Quemel, 24 anos, também não imaginava ser acometido pelas dores e “sensação de morte” causadas pelo coronavírus. Da primeira vez que foi ao hospital, incentivado pela mãe, voltou para casa, sem fazer o teste, mas já com as instruções de isolamento. Com a piora do quadro, voltou a procurar os médicos. Foi internado na UTI com caso grave de pneumonia em decorrência do agravamento da doença.

Após uma semana de internação, Caio seguiu em isolamento por mais duas semanas, ocupando um único cômodo da casa onde mora para não transmitir a enfermidade para mãe e avó. Hoje, ele está curado da doença. “Foram semanas difíceis, nunca imaginaria que fosse acontecer comigo. Fui um dos primeiros internados no DF. O sistema de saúde ainda está se preparando e precisamos fazer a nossa parte. Tem gente se sacrificando por nós e precisamos cumprir as medidas por eles, pelos nossos familiares mais vulneráveis e por nós”, pediu.

Falsa premissa

Casos graves e mortes na população jovem chamam atenção pela falsa ideia de que eles estão imunes. As consequências desse senso comum perigam agravar quadros que poderiam ser solucionados mais facilmente, caso esse público estivesse atento aos sintomas. “O próprio paciente pode desmerecer a gravidade e recorrer ao médico em um estágio avançado. Essa falsa premissa pode influenciar até no atendimento da unidade de saúde, não sendo ofertada a melhor assistência”, explicou o infectologista do laboratório Exame David Urbaez.

Enquanto a população idosa representa 14,9% dos brasileiros, pessoas de 18 a 59 anos, que são as que mais precisam circular em meio ao isolamento, totalizam quase 60% da população, segundo os últimos dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Por isso, a ideia de que a Covid-19 poupa os mais jovens precisa ser ponderada.

“Pessoas mais jovens estão mais expostas e, apesar de, estatisticamente, ser mais difícil que esse público evolua para uma gravidade, em números absolutos essa quantidade pode ser significativa. Por isso, o isolamento precisa ser para todos, especialmente para permitir que o sistema de saúde se equipe e que todos tenham acesso se necessário”, ressaltou Urbaez. Outra ponderação é que estão mais suscetíveis ao vírus, independentemente da idade, pessoas com comorbidades, característica presente em 73% dos óbitos apurados.

Na contramão do especialista, o presidente Jair Bolsonaro voltou a defender o isolamento vertical e a abertura do comércio ontem: “70% vai ser contaminado. Se não for hoje, vai ser semana que vem, mês que vem, é uma realidade”. Na visão do chefe do Executivo, é a “voracidade de alguns políticos, fechando tudo por aí” que leva ao pânico. “Não tem que se acovardar.” 

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