Crimes de racismo já tiveram 18 inquéritos concluídos no Maranhão
A Delegacia de Combate aos Crimes Raciais já contabilizou, desde setembro do ano passado, 18 inquéritos concluídos
A microempresária Valéria dos Anjos Reis também já passou por situações constrangedoras. “Em um caso específico uma garota começou a fazer piadas com o meu cabelo na roda de amigos dela, perguntando qual era a marca da palha que eu usava no cabelo como peruca, rindo alto para que me constrangesse e falando alto que o que eu tinha nem era cabelo”, conta.
Para garantir uma aceitação da sociedade, Valéria se torturou para agradar os outros.
“Sou negra retinta e desde criança sempre ouvi que meu cabelo era uma palha de aço, que meu cabelo era seco e quase que naturalmente optei pelo alisante assim como as meninas da minha família. Antes até tentei cachear, mas como de costume tinham um padrão para o cacho perfeito (bem definido e baixo), mas o liso era o auge do momento e na fúria adolescente comecei a me torturar com produtos que queimavam a minha cabeça para agradar a família e o namorado, que na época afirmava que meu cabelo era lindo liso e chegando a me deixar de lado quando ‘ousava’ em falar do meu cabelo natural, que para ele era feio”.
Quando resolveu assumir o cabelo do jeito que era, Valéria passou por situações ruins.
“Sempre escutava piadas na rua sobre o meu cabelo e que eu tinha uma beleza rústica. Desde já, gostaria de deixar claro que isso não é um elogio, mas sim um modo de diminuir o que não é considerado pela maioria no mínimo como agradável. Com o passar do tempo fui estudando feministas negras como Ângela Davis e Djamila Ribeiro que me fizeram entender que aceitar meu cabelo não é apenas uma questão de estética, mas uma questão de aceitação da minha cor e de aprendizado para tudo que me foi negado quanto à minha história, minhas referências quanto negra e de certas falas que escutamos e que devemos rebater de forma que outra entenda e não repita situações que ofendam e oprimem o povo negro”.