Crimes de racismo já tiveram 18 inquéritos concluídos no Maranhão
A Delegacia de Combate aos Crimes Raciais já contabilizou, desde setembro do ano passado, 18 inquéritos concluídos
Ao final do ano passado, o Disque 100 registrou 615 denúncias de discriminação racial, 33,2% inferior aos números de 2017, quando foram feitas 921 comunicações à central. Neste ano, até o mês de junho foram 198 denúncias no Brasil, segundo dados do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos. No Maranhão, embora esteja contabilizado um registro em maio, esses números não refletem o que acontece na realidade.
Desde que foi criada, em setembro do ano passado em São Luís, a Delegacia de Combate aos Crimes Raciais, Agrários e de Intolerância, já contabilizou até agora 18 inquéritos concluídos de crimes de racismo e que foram encaminhados à justiça. Segundo a Delegacia, os agressores já estão respondendo a processo no âmbito judicial. Existem ainda 18 inquéritos abertos de crime de racismo em investigação.
A criação da delegacia é uma das medidas adotadas pelo Governo do Estado, para o combate específico destes tipos de delitos. Alocada de maneira estratégica na Secretaria de Estado Extraordinária de Igualdade Racial (Seir), o órgão faz parte da ação governamental para garantir atendimento especializado à população negra maranhense e aos grupos sociais que enfrentam casos de racismo, além de assegurar o devido processo legal, com a investigação efetiva e o encaminhamento dos casos à Justiça, para a punição dos infratores.
Quem sofre na pele o preconceito, o racismo, lamenta ter que passar por situações constrangedoras. O Imparcial ouviu algumas dessas histórias.
“Em 2017, aqui em São Luís, teve a 37ª reunião da ANPED (Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação) e fui em um GT (Grupo de Trabalho) ver o Jorge Larrosa, em seguida fui almoçar com dois amigos. Na saída do espaço onde foi servido o almoço um grupo de pessoas brancas do sul do Brasil me cercaram e exigiram que eu limpasse a mesa e recolhesse os pratos que eles queriam almoçar… eu demorei uns 15 segundos para acreditar que aquilo estava acontecendo comigo”, contou a professora de artes Darcyleia Sousa.
Em seguida, ela disse que eles deveriam tê-la confundido com alguém do buffet, e esclareceu que eles, antes de sentarem, recolheram os pratos que haviam ficado na mesa deixadas pelas pessoas antes deles, e ao terminar também recolheram os deles.
“Eram dois homens e três senhoras que me abordaram mandando eu limpar a mesa que eles tinham que almoçar. Apontei a mesa que a gente estava e que tinha ficado limpa. Foi uma das piores situações que já passei. Teve outra, no São João do ano passado. Eu fui no arraial da Igreja Santo Antônio e meu amigo tem muita dificuldade para estacionar. Então eu desci e fui ajudá-lo. Quando a gente ia saindo uma senhora branca, loira, que tinha deixado o carro dela na frente do carro do meu amigo, passou por mim, bateu no meu ombro e disse: ‘amiga dá uma olhada aí no meu, que na volta eu te dou um troco’. Aí eu fiquei sem ação e depois eu comecei a rir da situação. Mas foram situações marcantes. Fora que quando a gente entra em uma loja é acompanhada pelas vendedoras, seguranças. São essas situações de racismo do dia a dia”, lamenta a professora.