Sinais: Como identificar jovens que podem recorrer a atos extremos
Especialistas opinam sobre o que leva jovens a cometer atos extremos – como o massacre de Suzano – e como escola e família devem agir para que situações não progridam para uma tragédia
Essa semana mais um acontecimento aterrorizou e comoveu o Brasil. Na manhã do dia 13, dois adolescentes encapuzados mataram oito pessoas na Escola Estadual Raul Brasil, em Suzano (SP), e cometeram suicídio em seguida. O ato remeteu a acontecimentos que ocorrem com frequência nos Estados Unidos, mas foi no Brasil e não foi a primeira vez que uma tragédia como essa ocorreu no país.
Em todos os lugares a pergunta mais recorrente era: por quê? Imediatamente, tentou-se achar culpados para o que aconteceu, dada a informação de que o adolescente havia sido aluno da escola e posteriormente expulso. Escola, família, acesso às armas? Culpa de quem? Buscamos conversar com especialistas para entender o que pode ter acontecido. Era algo que poderia ter sido evitado? Qual papel da família e da escola na construção do caráter de um ser humano?
A pedagoga, especialista em Supervisão, Gestão e Orientação Educacional e coordenadora do Núcleo de Atendimento Psicopedagógico, da faculdade Estácio São Luís, Thalyta Machado Fróes, fez um link do acontecido, com o bullying como responsável.
“O caso em questão trata sobre bullying. É necessário que seja feita uma análise sobre o contexto em que o adolescente estava inserido. O primeiro ponto a ser analisado é se a Gestão Pedagógica era ciente sobre as agressões que o adolescente sofria. Segundo, qual comportamento que o aluno vinha tendo nos últimos meses, se tinha desinteresse em frequentar a escola, se mantinha isolado dos familiares e colegas. Essas questões são fundamentais para a análise do perfil do aluno. Terceiro ponto é analisar a relação familiar, se ele tinha apoio em casa e se alguma vez manifestou sobre o que acontecia na escola. A fragilidade psicológica e a falta de apoio faz com que o aluno tenha uma ruptura em sua autoestima”, orienta a especialista.
Segundo ela, a tragédia de Suzano é um reflexo de um comportamento extremo em que um adolescente não recebeu apoio ou atenção sobre seus conflitos internos. A maneira de chamar atenção ou acabar com o seu sofrimento foi reagindo com violência no local que lhe causou dor.
“Observa-se que ele comete um crime contra o tio. É notório que existia um grande conflito familiar, a mãe usuária de drogas. A família é um núcleo de extrema importância nesse processo. A escola não tem que fazer o papel da família”, avalia.
Reforçando a tese, a psicóloga Roselene Espírito Santo Wagner utilizou a psicanálise para dar sua visão sobre os acontecimentos. “Dentro da teoria psicanalítica, a gente toma como base os extremos e os opostos, lidamos com um mundo paradoxal que nos habita. Geralmente são pessoas fracas e oprimidas que não é visto pela sociedade, também pessoas que sofrem bullying. Pessoas que estão sempre nos bastidores e nunca são protagonistas. É como se fosse seu último ato. É o momento do fraco se fazer forte. Ele entra com uma cena apoteótica descontando toda dor e invisibilidade”.
Comportamento das crianças e jovens em casa
Thalyta Machado Fróes (foto) chama atenção de pais ou responsáveis para que tenham atenção ao comportamento das crianças e jovens em casa. Ela lembra que o adolescente do caso de Suzano era criado pela avó.
“Quando a gente fala da família, não é só pai e mãe, são todos os parentes. E eles devem estar atentos principalmente às crianças e aos adolescentes que se isolam e apresentam comportamentos agressivos. Essas reações são a maneira que o adolescente tem em expressar que passa por algum problema ou conflito. É comum a falta de diálogo entre os pais e filhos, esse distanciamento é perigoso e prejudicial para a criança que deixa de receber orientações adequadas. Nesse processo de maturação da personalidade do adolescente, ele precisa se sentir seguro”, diz.
O caso que deixou a população abalada, afetou principalmente estudantes.
Em uma rede social da internet uma estudante de 16 anos falou da preocupação e do medo que cerca o mundo hoje. “Você está em um ambiente escolar e pensa que está seguro, mas não. No final das contas todos estamos vulneráveis”, escreveu a adolescente Regina Santos.
Thalyta Fróes diz que as escolas devem aproveitar a oportunidade para trabalhar o tema.
A recomendação é que a instituição como um todo deve prestar atenção aos grupos de alunos que tem tendência a fazer bullying, sendo importante realizar um trabalho sobre os valores como: respeito, amizade, família e solidariedade.
Além disso, mostrar ao aluno, de maneira clara, as consequências de tratarem mal seus colegas. “Não se pode esconder que esse tipo de caso não acontece. Como sugestão de trabalho, as escolas podem desenvolver projetos de combate à violência, rodas de conversas, análises de casos para que os alunos manifestem suas opiniões sobre o assunto. Isso fortalece o vínculo entre os alunos. Um momento de reflexão para que os pais fiquem atentos e a escola se mantenha vigilante, agindo imediatamente quando observado algum tipo de conflito entre os alunos. Toda pessoa que sofre bullying, demonstra o que vem passando”, alerta.