Os maiores “serial killers” brasileiros
Conheça a história e as motivações que levaram cidadãos comuns a se transformarem em verdadeiros monstros que possuem como prazer o sofrimento e a angústia de seus semelhantes
Na maioria dos casos, os criminosos passavam despercebidos por suas comunidades, que reagiam perplexas diante da descoberta. Comumente associados a crimes acontecidos em outros países, são conhecidos mais de 100 criminosos que podem ser classificados como assassinos em série no Brasil.
Segundo Ilana Casoy, autora do best-seller “Arquivos Serial Killers: Louco ou Cruel?”, os assassinos em série podem ser classificados em quatro categorias: Visionário, indivíduo completamente insano, psicótico. Ouve vozes dentro de sua cabeça e lhes obedece. Pode também sofrer de alucinações ou ter visões; Missionário, socialmente não demonstra ser um psicótico, mas em seu interior tem a necessidade de “livrar” o mundo do que julga imoral ou indigno. Escolhe certo tipo de grupo para matar, como prostitutas, homossexuais, mulheres ou crianças; Emotivo, mata por pura diversão. Dos quatro tipos estabelecidos, é o que realmente tem prazer em matar e utiliza requintes sádicos e cruéis, obtendo prazer no próprio processo de planejamento do crime; e Sádico, que é o assassino sexual. Mata por desejo. Seu prazer será diretamente proporcional ao sofrimento da vítima sob tortura. A ação de torturar, mutilar e matar lhe traz prazer sexual. Canibais e necrófilos fazem parte deste grupo.
Utilizando estes critérios, O Imparcial preparou uma lista com os casos brasileiros mais conhecidos de cada um dos arquétipos apresentados pela pesquisadora e que foram notícia, colocando o Brasil no mórbido mapa de países com grandes matadores em série.
O Maníaco do Trianon
Entre 1986 e 1989, Fortunato Botton Neto, garoto de programa que atuava no Trianon, matou 13 homens, com idades entre 30 e 60 anos, com requintes de crueldade. Depois de combinar o preço do programa, ele seguia para o apartamento das vítimas, onde bebia com elas até que ficassem totalmente alcoolizadas. Amarrava os tornozelos e os pulsos, amordaçava e matava por estrangulamento, golpes de faca ou chave de fenda. Terminado o serviço, ele vasculhava o apartamento da vítima à procura de dinheiro e objetos valiosos que pudessem ser vendidos facilmente sem levantar suspeitas. A frieza com que Neto relatou os crimes chocou os policias que trabalhavam no caso. Em de seus depoimentos, o maníaco diz: “Matar é como tomar sorvete: quando acaba o primeiro, dá vontade de tomar mais, e a coisa não para nunca”. Neto foi condenado por três dos sete crimes que confessou. Morreu na prisão em fevereiro de 1997, de broncopneumonia decorrente da Aids.
O Emasculador do Maranhão
O mecânico de bicicletas Francisco das Chagas Rodrigues de Brito foi condenado pelo assassinato de quatro meninos nos estados do Pará e Maranhão, no entanto, suspeita-se que Francisco das Chagas tenha matado mais de 40 crianças e jovens do sexo masculino, entre 1989 e 2003, o que o tornaria um dos mais agressivos serial killers brasileiros – teriam sido 30 vítimas no Maranhão (também na cidade de Paço do Lumiar) e 12 no Pará.
Sua história ficou conhecida como “o caso dos meninos emasculados do Maranhão e de Altamira (PA)”, pois o assassino mutilava os órgãos sexuais da maioria das vítimas. Porém, este não era o único ato bárbaro de Francisco. As mortes eram por asfixia ou com uso de objetos cortantes. Antes, ele abusava sexualmente dos garotos. Depois de mortos, de alguns ele cortou a cabeça ou dedos, de outros queimou o corpo.
O Vampiro de Niterói
Marcelo Costa de Andrade é o mais conhecido assassino religioso brasileiro. Marcelo cresceu na favela da Rocinha, no Rio de Janeiro. Quando tinha 10 anos foi abusado sexualmente. Aos 14 começou a se prostituir para viver após fugir do reformatório. Aos 17 anos tentou estuprar seu irmão de 10 anos. Aos 24 anos, em 1991, começou a matar. Ao longo de 9 meses efetuou 14 assassinatos, até ser preso. Suas vítimas eram meninos de rua que ele atraia para áreas desertas, estuprava e estrangulava, drenava o sangue e o ingeria.
Andrade confessou: “Eu preferia garotos porque eles são melhores e tem a pele macia. E o pastor disse que as crianças vão automaticamente para o céu quando morrem antes dos treze. Então eu sei que eu fiz um favor os enviando para o céu”. Durante a investigação, foi atribuída a execução de uma menina, no entanto, o criminoso negou peremptoriamente o crime, e em depoimentos afirmou que não mataria meninas, pois estas não mereciam “o reino dos céus”.
O Bandido da luz vermelha
João Acácio Pereira ficou famoso na década de 60 pela alcunha de “Bandido da luz vermelha”. Ele cortava a eletricidade e entrava de pés descalços em mansões de São Paulo. Usava um lenço vermelho para esconder o rosto, ao estilo cowboy, e uma lanterna vermelha. Quando encontrava os moradores das casas, batia um longo papo. Algumas vítimas chegaram a cozinhar para o assaltante. Depois do papo, João fugia com o dinheiro. Era fascinado por filmes de faroeste, pela cor vermelha e gostava de imitar o rei Roberto Carlos. Herdou o nome do norte-americano Caryl Chessman, que tinha o mesmo apelido e agia com uma lâmpada vermelha de carro de polícia, executado na câmara de gás em 1960 por 17 acusações de estupros e sequestros.
A versão tupiniquim, no entanto, matava apenas por “acidente”, quando reagiam durante os assaltos. Foi preso em 1967, passou 30 anos na cadeia, e quatro meses depois de solto, foi morto por um tiro de espingarda numa briga de bar com um pescador, em Joinville (SC).
O matador de taxistas
O ex-motorista Anestor Bezerra de Lima, de 30 anos, acusado de ter matado pelo menos doze taxistas em Minas, São Paulo e Rondônia, confessou à polícia em Mato Grosso que não sabe quantos crimes cometeu nos três estados no período de 40 dias. O criminoso não sabia sequer os nomes das vítimas. A polícia teve que utilizar fotografias para Lima fazer o reconhecimento durante interrogatório nos inquéritos.
O Maníaco do Parque
Entre 1997 e 1998, Francisco de Assis Pereira fez nove vítimas – duas das quais sobreviveram – no Parque do Estado em São Paulo. Ele dizia ser olheiro de agências de modelos e convencia as garotas a subir em sua moto e ir até o parque para uma sessão de fotos. Lá, estuprava e enforcava as jovens, antes de deixá-las no mato. Dizia ser motivado por três traumas: o assédio sexual de uma tia na infância, o relacionamento com um ex-patrão e uma namorada que tentou arrancar seu pênis com uma mordida. Condenado a 147 anos de prisão, recebeu mais de mil cartas de amor e se casou com uma das admiradoras.
Preto Amaral
Considerado o primeiro serial killer brasileiro, José Augusto “Preto” do Amaral foi um escravo liberto que serviu no exército, estando na Guerra dos Canudos (1897), onde foi promovido a tenente. Finda a guerra, Amaral acabou sendo preso em Bagé, Rio de Janeiro, ao tentar desertar do exército nacional. Ao sair, aos 56 anos, passou a morar em São Paulo.
Em 1927, Amaral foi preso acusado de seduzir, estrangular e estuprar três rapazes. Em seu depoimento, Amaral contava que seduzia e depois asfixiava as vítimas, estuprando-as depois de mortas.
A primeira vítima tinha 27 anos e conheceu Amaral na Praça Tiradentes, depois de pedir-lhe fósforos. O corpo de Antônio Sanchez foi encontrado próximo ao Campo de Marte, na zona norte de São Paulo. A segunda vítima tinha apenas 10 anos e foi atraída por Amaral com balões que ele vendia. O corpo de José Felippe Carvalho foi encontrado 13 dias depois, sem os membros superiores. Antônio Lemostinha 15 anos quando foi morto por Amaral após ser convidado para um almoço.
A polícia não tinha suspeitos dos crimes até um engraxate de apenas nove anos conseguiu escapar de Amaral e contou o caso aos oficiais. O assassino levou o menino para debaixo de uma ponte e já o estrangulava quando se assustou ao ouvir vozes e fugiu. Na cadeia, confessou os crimes, contando em detalhes como matou suas vítimas.
Ele ficou conhecido nos jornais da época pelos nomes de “monstro negro”, “diabo preto” e “estrangulador de crianças”. Morreu em um manicômio, cinco meses após a prisão, sem nunca ter sido julgado.
Bônus: O linguiceiro da rua do Arvoredo
Em 1863, o açougueiro José Ramos, um homem elegante e viajado, que frequentava as casas de ópera na Província de Porto Alegre da cidade e tinha excelente gosto musical, fazia sucesso entre a população com a venda de linguiças que ele e a mulher, Catarina Pulse, preparavam. O que ninguém sabia é que o ingrediente principal da referida iguaria era a carne das vítimas do casal, seduzidas pela promessa de uma noite de luxúria com Catarina. Com a ajuda de Carlos Claussner, o açougueiro Ramos degolava, esquartejava, descarnava, fatiava e guardava as vítimas em baús, moendo-as aos poucos e transformando-as nas famosas linguiças, que eram vendidas em seu açougue na Rua da Ponte.
Os crimes da rua do Arvoredo foram descobertos em 1894, chocando os cerca de 20 mil habitantes da cidade. Ramos foi condenado à forca. Catarina foi internada em um hospício, onde morreu louca. Claussner, àquela altura, já havia virado linguiça. Apesar do escândalo, os crimes foram ignorados pela imprensa da época. A história repercutiu apenas nos jornais da França e do Uruguai. Acredita-se que o caso tenha sido abafado porque a população da cidade queria esquecer que tinha sido transformada por Ramos em canibal. Não se sabe ao certo quantos pobres diabos Ramos matou. Nem os motivos que o levaram a isso. Mas ele pode ser considerado o primeiro serial killer brasileiro de que se tem registro.