Os alemães Elfi Spieler, Fabian Bergwitz e Evelin Selan nem ligaram para a dor de barriga que tiveram nos primeiros dias de Rio de Janeiro – resultado da “experimentação” com todo tipo de comida vendida nas barraquinhas espalhadas pela cidade. Do acarajé ao cachorro-quente, a coxinha foi do que mais gostaram. “Tivemos que aprender como se fala, porque adoramos essa comida”, conta Selan.
Eles vieram ao Rio torcer pela amiga atleta Anne Haug, única representante da Alemanha no triatlo. “Enquanto ela não compete, a gente se mistura com a torcida brasileira. Todos aqui são muito simpáticos”, conta Bergwitz. “Na Alemanha também tem gente simpática, mas nunca vi nada igual ao Brasil.”
O ônibus
Com os abraços, Thaís Peixoto já está se acostumando. A americana de 13 anos é filha de uma brasileira e está hospedada na casa dos avós, em Penedo, a 180 quilômetros do Rio.
“Tive que aprender a andar de ônibus. Eles são muito confortáveis aqui no Brasil, até mais que os assentos nos aviões. Foi uma boa surpresa!”, contou. “Na minha cidade, eu nem sei onde fica o ponto de ônibus. Na maior parte dos Estados Unidos, todos só sabem andar de carro.”
Um show à parte
Jamie e o namorado Chris estavam impressionados com o show que os vendedores ambulantes fazem, ao preparar uma caipirinha. “É maravilhoso poder beber essa bebida típica caminhando à beira mar. Nos Estados Unidos, é proibido consumir bebida alcoólica na rua”, comentou o pai de Jamie, Mark Ledford.
A gentileza
A americana Jamie Ledford quer levar tudo o que puder do Rio de Janeiro para a Califórnia. A camiseta com a bandeira brasileira bordada com lantejoulas, ele só conseguiu comprar graças à ajuda de um estranho.
“Eu tentei falar com a vendedora na rua, que não me entendeu e continuou andando. Uma outra moça brasileira, que assistiu à cena, correu atrás da vendedora e intermediou a conversa. Nos Estados Unidos, eu acho que ninguém sairia correndo atrás de uma outra pessoa para ajudar um estranho.”
O biquíni
O chileno Omar Pino Acuna se sente privilegiado por circular no Rio de Janeiro usando apenas o transporte coletivo. Ele veio acompanhar os Jogos sem a esposa, que deu uma missão especial ao marido: comprar um biquíni.
Acuna não imaginou que seria tão complicado atender ao pedido: “Os biquínis aqui são muito pequenos. São bem menores que os biquínis que as argentinas usam nas nossas praias. E todos no Chile já acham que as argentinas mostram bastante…”, comentou Acuna, que está acompanhado do pai. “Não que eu tenha ciúmes, mas se minha esposa usar biquíni brasileiro no Chile, acho que todo o mundo vai ficar olhando.”
O abraço
Com tanta simpatia e informalidade, a família holandesa Tangelder não estava acostumada. Edwin, Sandy e a filha Nienke fizeram um tour pelo Pantanal antes de desembarcar na cidade olímpica.
“Na hora da despedida, o dono da pousada se aproximou muito e eu estranhei. Ele me deu um abraço! Não fazemos isso na Holanda”, contou Edwin Tangelder. “Imagine a cena: eu, um holandês de quase 2 metros sendo abraçado por um senhor de 1,50 metro. Eu não sabia o que fazer”, relembra com humor a experiência.
O sósia
Prestes a pagar a compra na loja de suvenires, depois de muita ginástica linguística para se comunicar com a vendedora que só entendia português, a inglesa Ria Chowdhury abandonou tudo sobre o balcão e correu para fotografar o jogador de futebol que ela conhecia da TV.
Ele usava o uniforme da seleção brasileira, tinha cabelos compridos e uma faixa preta na cabeça. Ria tinha certeza de que estava diante de Ronaldinho. Ela chamou toda a família, se infiltrou entre os fotógrafos que cercavam a figura e clicou Ronaldinho, para alegria do pai, Ash Chowdhury, fã de futebol.
Então veio o choque: aquele Ronaldinho não deixou a família ir embora enquanto não recebesse 10 reais pela foto. “Como será que ele perdeu toda a fortuna que ganhou?”, perguntava Niria, mãe de Ria. Foi só quando retornaram ao hotel, um tanto decepcionados, que se deram conta de que o homem da foto não era o Ronaldinho dos gramados.
“O funcionário do hotel nos explicou que aquele era um sósia. Nós rimos muito e tudo fez sentido. É que na Inglaterra os artistas não exigem dinheiro quando tiramos foto. Aquele Ronaldinho praticamente nos perseguiu”, contou Niria sobre o seu primeiro choque cultural em solo brasileiro.
A crítica
Em seu primeiro passeio pelo famoso calçadão de Copacabana, o chinês Jin Gan dizia que a paisagem das montanhas tão próximas ao mar era de tirar o fôlego. Apesar de todas as diferenças culturais entre China e Brasil, uma em especial chocou Gan: a resistência dos brasileiros em apoiar os Jogos.
“Quando recebemos as Olimpíadas, em 2008, todos os chineses estavam em festa, foi um sonho para o nosso país. Aqui, eu já vi bastante gente protestando, e isso foi muito diferente para mim. Eu ainda não consigo entender”, contou Gan, que minutos antes tentava acompanhar, timidamente, o ritmo dos músicos de rua que tocavam forró.