Estupro coletivo

Saída de jovem do RJ prejudica investigação, diz delegada

Promotor requisita investigação de delegado afastado de caso de estupro de adolescente de 16 anos. Um dos suspeitos se entregou ontem

A saída do Rio da adolescente de 16 anos, vítima de um estupro coletivo há 12 dias, está prejudicando a apuração do caso. A delegada Cristiana Bento, que investiga o crime ocorrido em uma favela carioca, lamentou a decisão dos governos federal e estadual de retirá-la do estado. Por identificar contradições nos dois depoimentos prestados pela jovem, a delegada pretendia reinterrogá-la e acareá-la com os três suspeitos presos. Sem ela, ao menos um dos acusados pode ser solto. “As versões (da vítima e dos acusados) são muito desencontradas. Não posso mais ouvir a jovem. Isso dificulta as coisas. Novas informações chegaram e eu não tenho como esclarecê-las com ela”, afirmou. Segundo a delegada, nos depoimentos, a vítima não se refere a alguns suspeitos como estupradores. Entre eles, Lucas Perdomo Duarte dos Santos, o Luquinhas, de 20 anos, e Raí de Souza, de 22, presos desde segunda-feira.
Nessa quarta-feira (1°/6), o promotor Homero das Neves Freitas Filho, titular da 23ª Promotoria de Investigação Penal, requisitou à Corregedoria de Polícia Civil a instauração de inquérito policial para apurar supostas práticas pelo delegado Alessandro Thiers de crime previsto no artigo 232 da Lei 8.069/90 (Estatuto da Criança e do Adolescente), “submeter criança ou adolescente sob sua autoridade, guarda ou vigilância a vexame ou a constrangimento”.Thiers é titular da Delegacia de Repressão a Crimes de Informática (DRCI) e foi responsável pelo início da investigação do caso de estupro coletivo a que foi submetida uma adolescente de 16 anos. Após acusações de que estaria agindo de forma inadequada na condução do inquérito, a investigação passou a ser feita por uma delegada. O promotor afirma, no documento protocolado ontem que é “imperioso apurar os fatos”. Freitas Filho requereu a oitiva de todos os policiais que atuaram nas investigações, da mãe da vítima e da advogada que acompanhou os depoimentos na DRCI.
Depoimento
A adolescente de 16 anos que foi vítima de estupro coletivo no Rio afirmou, em entrevista ao Fantástico, da TV Globo, que está recebendo ameaças pela internet e que se sentiu desrespeitada na delegacia onde prestou dois depoimentos. “Quando vim à delegacia, não me senti à vontade em nenhum momento. Acho que é por isso que as mulheres não fazem denúncias”, disse a adolescente. Ao explicar o que aconteceu na delegacia, a jovem afirmou: “Tentaram me incriminar, como se eu tivesse culpa por ser estuprada”. A adolescente reclamou da exposição durante o depoimento e da indiscrição dos policiais. Segundo ela, ao ser interrogada, havia três homens dentro da sala, incluindo o delegado Alessandro Thiers, então encarregado do caso. “A sala era de vidro e todo mundo que passava via. Ele (o delegado) botou na mesa as fotos e o vídeo, assim, expostos e me falou: ‘Conta aí’. Não perguntou se eu estava bem, como estava me sentindo, se tinha proteção. Ele perguntou se eu tinha o costume de fazer isso (sexo grupal), se gostava de fazer isso.”
Contradição
O ex-cinegrafista Raphael Duarte Belo, de 41 anos, acusado de ter participado do estupro coletivo entregou-se na manhã de ontem à polícia. Em carta postada nas redes sociais, ele nega participação no estupro e pede desculpas por ter feito a foto ao lado da jovem nua. Na carta, ele disse que foi à boca de fumo no domingo, dia 22, pedir autorização para realizar uma matinê na Quadra do Francão, local onde ocorrem bailes funks. Estava acompanhado por Raí de Souza, de 22 anos, outro acusado do crime e já preso. “Ao chegar a um beco, à direita, estava a casa abandonada, aberta, toda suja, fedendo a fezes e com uma mulher nua”, escreveu Belo, que trabalhou como cinegrafista em uma tevê até 2015, quando foi demitido. Ele hoje é dono de um lava a jato.
De acordo com Belo, havia um rapaz no local, conhecido como Jefinho (identificado por Raí de Souza como traficante). Ele teria dito: “Tem uma mulher aí que não quer ir embora, está desde o dia do baile”. “Entramos os três. Ela estava deitada, nua, dormindo, muito suja, e com os cabelos embolados. Parecia uma ‘cracuda’ ou mendiga. O Raí puxou o celular e começou a gravar, ela começou a se mexer e acordar. Aí paramos e fomos embora.” O ex-cinegrafista escreveu que “foi mais uma zoação, brincadeira” e que eles não a machucaram. Raí deu outra versão à polícia. Contou que manteve relações sexuais com a adolescente e teria voltado à favela por estar preocupado com ela. Segundo a sua versão, Jefinho teria feito as imagens e não ele.
Na carta, Belo relata ainda que, na quarta-feira, dia 25, ele almoçava na porta de um serralheiro, quando um carro HB20 deixou uma mulher desacordada na calçada. Ele teria comprado garrafa de água e tentado fazer com que ela despertasse. Moradores teriam dito que a jovem já havia desmaiado outras duas vezes e que seria a mesma pessoa que estava na casa conhecida como “abatedouro”.
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