Brasil tem 9,6 milhões de desempregados, diz IBGE
Em um ano, número de pessoas sem trabalho aumenta em 2,9 milhões
Segundo os especialistas, as perspectivas são as piores possíveis, pois não há como o nível de atividade se recuperar, diante da onda de desconfiança que varreu o país. A crise política fez com que o Produto Interno Bruto (PIB) afundasse e as demissões se acelerassem. A retração da atividade neste ano deve passar dos 4%, o que levará o desemprego para algo entre 12% e 13%. Há quase uma década não se vê taxa de desocupação de dois dígitos no país.
“O mercado não está favorável. Há um nível de dispensas expressivo, com setores importantes para o emprego formal, como a indústria e serviços financeiros, em baixa. Pior: está havendo queda do rendimento real, quem fica no mercado está ganhando menos”, afirmou o coordenador de Trabalho e Renda do IBGE, Cimar Azeredo. Na média, os salários ficaram em R$ 1.939, com queda de 2,4% ante janeiro do ano passado. Já a massa salarial despencou 3,1%.
Ao analisar os números, Azeredo foi enfático: “A queda no emprego é generalizada. Normalmente, quando cai o número de vagas sem carteira é porque subiu o com carteira assinada. Não é o que está acontecendo”. Na avaliação dele, com a inflação alta, a escassez de crédito, a falta de investimentos e a desconfiança que tomou conta dos agentes econômicos, os trabalhadores estão pagando a conta. “Um cenário econômico ruim traz algumas mazelas. O desemprego é uma delas”, frisou.
Domésticos
Pelos dados do IBGE, somente dois grupos de trabalhadores apresentaram números positivos no trimestre encerrado em janeiro frente igual período do ano anterior: o de empregados domésticos, com avanço de 3,8% (225 mil vagas), e aqueles que trabalham por conta própria, com incremento de 6,1% (1,3 milhão a mais de pessoas). No caso dos domésticos, quando a economia estava crescendo, muitos trocaram a profissão pelo comércio. Agora, com as lojas fechando e demitindo, o jeito foi retornar às origens.
Entre os que estão trabalhando por conta própria, prevalece a falta de opção. É o caso de Thayná Lopes, 18 anos, que teve carteira assinada. Para sustentar o filho, de apenas quatro meses, e ajudar no orçamento de casa, ela começou a vender sorvete em saquinhos há um mês. “Gostaria mesmo é de estar em emprego fichado, com todos os meus direitos, construindo uma carreira. Mas não consigo. Infelizmente, não posso me dar o luxo de ficar parada em casa”, lamentou.
Mas Thayná não esmorece e, sempre que pode, conta com a amiga Aillane Honorato, 19, que conseguiu um emprego em um trailer que vende alimentos. “É uma vaga sem carteira, mas aceitei porque já estava desempregada desde julho passado”, afirmou Aillane. “O mercado está fechado. Sinto que a situação só vai melhorar com uma troca de governo”, acrescentou a jovem.
A crise no mercado de trabalho está gerando mais do que desemprego. Está aumentando a desigualdade, segundo a Fundação Getúlio Vargas (FGV). Até 2014, o rendimento médio real domiciliar per capita da população subia a uma média anual de 3,3%. Mas, em 2015, essa renda, que leva em consideração ganhos de todas as fontes — como aposentadoria, seguro-desemprego, aluguel, juros de caderneta de poupança e outros investimentos — caiu 3,4%. Foi a primeira retração desde 2001. E, na opinião de especialistas, o cenário não será diferente este ano.
A perda de renda afeta todos os trabalhadores, mas, principalmente, quem recebe menos. “É por isso que a desigualdade está aumentando. A crise penaliza quem exerce ocupações com salários menores”, destacou Carlos Alberto Ramos, professor do Departamento de Economia da Universidade de Brasília (UnB). Para manter ou conseguir emprego, as pessoas estão aceitando receber menos.
“Outra motivo da perda de renda é a migração do emprego formal para outro que paga menos, ou mesmo para a informalidade”, reforçou Ramos. Na média dos três meses encerrados em janeiro, o rendimento médio real habitual — que considera apenas ganhos com o trabalho — caiu 2,4% em comparação ao mesmo período de 2015, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua).
Para o economista Tiago Barreira, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre-FGV), prevê queda do rendimento real de 2,5% em 2016 e recuo de 0,5% em 2017. “A recessão levará mais pessoas a procurarem emprego, mas os empresários seguirão sem condições de conceder aumentos”, analisou.
Contas
A retração da economia atingiu em cheio as receitas da empresária Vilma Menezes, 40 anos, dona de um salão de beleza. Com os clientes reduzindo os gastos, ela e o marido estão pensando em mudar de residência. “As contas de luz e de água subiram, mas não posso repassar aos clientes. O lucro está caindo. Nosso padrão de vida diminuiu e estamos procurando um apartamento pequeno para pagar um aluguel menor”, afirmou.