Tragédia em Mariana: diretores da Samarco serão indiciados por homicídio
Polícia Civil ainda vai definir se o crime será enquadrado como doloso ou culposo
Bustamante quer saber se os diretores tinham conhecimento de que a barragem, de onde vazaram 32,5 milhões de metros cúbicos de rejeitos de minério de ferro, corria o risco de se romper. Por isso, ontem, ele e mais 16 policiais apreenderam, com autorização judicial, arquivos de computadores na sede da mineradora, em Belo Horizonte, e na unidade em Mariana.
Os focos são o conteúdo das trocas de emails entre os suspeitos e canais internos de comunicação. “Após três meses de investigação, verificamos a necessidade de algumas medidas cautelares e conseguimos a quebra de sigilo da informática e telemática. Vários arquivos foram baixados. Cópias de emails serão analisadas”, disse Bustamante.
A Civil e outros órgãos que investigam o caso – Polícia Federal, Ministério Público de Minas Gerais e Ministério Público Federal – já apuraram que o piezômetro, equipamento que mede o nível do volume de rejeitos da barragem, não estava funcionando no dia do desastre. “A última leitura do aparelho foi em 26 de outubro (10 dias antes da barragem se romper”, disse o delegado.
O prazo para a conclusão do inquérito é 15 de fevereiro, mas o delegado poderá pedir à Justiça a prorrogação da data, como já ocorreu duas vezes. O inquérito contém aproximadamente 1,5 mil páginas. Mais de 80 pessoas foram ouvidas, entre elas o ex-presidente da mineradora, Ricardo Vescovi, que pediu licença do cargo.
Crime continuado
Como ainda há lama correndo para o leito dos rios Gualacho do Norte, Carmo e Doce, a Civil apura a tese de crime continuado. O escorrimento desses rejeitos, contudo, já era esperado por especialistas e pela própria polícia, uma vez que a chuva leva os rejeitos que ficaram às margens dos leitos para dentro dos rios.