Câncer infantil: taxa de cura no Brasil é a mesma há 30 anos
Para a Sociedade Brasileira de Oncologia Pediátrica (Sobope), a falta de diagnóstico preciso e de medicamentos específicos dificultam o acesso a um tratamento adequado
Segundo a presidenta da Sobope, Teresa Fonseca, não houve, no país, um aumento da taxa de cura como era esperado, se comparado a outros países. “Há 30 anos [a taxa] se mantém em uma linha reta, ela não avança em nenhuma região do país”, disse, explicando que em torno de 70% das crianças são curadas quando são diagnosticadas a tempo e tratadas em centros especializados. Fora desse contexto, a taxa de cura no Brasil é de 48%, estando muito aquém de países como Estados Unidos e Alemanha, onde cerca de 80% das crianças com câncer vencem a doença.
Para Fonseca, tanto o poder público quanto a sociedade científica têm que questionar a realidade brasileira e trabalhar por um diagnóstico preciso e inicial já que o câncer infantil tem uma evolução muito rápida. “O câncer pediátrico é uma doença aguda. Às vezes o profissional de saúde está com um caso suspeito, não tem muita clareza sobre o que fazer, e quanto mais ele demora, com exames e autorizações, a criança tem um atraso no diagnóstico, que é um tempo fundamental para ela”, afirmou.
Mesmo a Lei 12.732/12, que assegura aos pacientes com câncer o início do tratamento em, no máximo, 60 dias após a inclusão da doença em seu prontuário, não contempla a criança, segundo Fonseca, já que o câncer infantil pode evoluir muito de duas a três semanas.
A presidente da Sobope informou que o Ministério da Saúde está formalizando um protocolo que vai desde a atenção básica até os cuidados especializados, com centros especializados e redes estaduais para o diagnóstico e tratamento da doença. “Nós temos grandes centros de excelência, mas tem lugares sem estrutura mínima para atender crianças”, disse.
O câncer infantil corresponde a um grupo de várias doenças que têm em comum a proliferação descontrolada de células anormais e que pode ocorrer em qualquer local do organismo. Os tumores mais frequentes na infância e na adolescência são as leucemias (que afetam os glóbulos brancos), os do sistema nervoso central e os linfomas (sistema linfático).
Além de uma linha de cuidados específica na atenção básica, Teresa Fonseca defende mais informações sobre a doença ainda dentro dos cursos de graduação de medicina, enfermagem e demais profissionais da saúde. “Muitos deles, quando se formam, nunca tiveram informação ou contato com o câncer infantil, porque os centros especializados pelo país são poucos, comparados ao número de cursos de graduação”, explicou.
Medicamentos
A presidente da Sobope conta que dois medicamentos para o tratamento do câncer infantil deixaram de ser fabricados no Brasil, a actinomicina e a L-Asparaginase, e que houve um desabastecimento desde setembro de 2015. Segundo ela, o Ministério da Saúde fez o pedido de importação e diversas crianças ainda aguardam sua a distribuição.
Entretanto, para Fonseca, é essencial que o Brasil incorpore novas tecnologias de tratamento, já aprovadas no exterior e que não foram liberadas aqui ou que, mesmo liberadas, possuem um alto custo. Ela cita, por exemplo, a terapia alvo baseada na biologia molecular, que atua no metabolismo da célula específica que sofreu a mutação, e por isso acaba sendo um tratamento mais caro do que a medicação convencional.
O câncer infantil no mundo
Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) apontam que, a cada ano, mais de 150 mil crianças são diagnosticadas com câncer em todas as regiões do mundo. “Por meio do acesso a serviços de saúde de qualidade, mais de 80% das crianças com câncer podem sobreviver, com direito a uma vida plena e saudável. Entretanto, muitas crianças em países de baixa e média renda não recebem tratamento completo e, como resultado, mais de 90% das mortes por câncer infantil são registrados em localidades com pouco recurso”, informou a organização, em nota.
Para este Dia Internacional do Câncer Infantil, a OMS pede contribuições para o cuidado com as crianças. “Uma resposta global é necessária para dar a cada criança a melhor chance de sobreviver e ficar livre do câncer – sensibilizando; melhorando o acesso à saúde; entendendo melhor porque e onde essas crianças são diagnosticadas, por meio do devido registro; e oferecendo a melhor possibilidade de tratamento, de cuidados paliativos e de apoio a essas crianças e suas famílias”, diz a nota.