ENCONTRO

Para enfrentar crise imigratória, Papa quer Europa sem preconceitos

Pontífice abordou diversos temas com Corpo Diplomático

Foto: Ansa.


Ansa

Papa pediu que Europa não tenha medo dos imigrantes que chegam ao continente

Em um longo encontro com o Corpo Diplomático do Vaticano nesta segunda-­feira, dia 11, o papa Francisco pediu que a Europa enfrente a atual crise imigratória com coragem e sem preconceitos.
“Discernir as causas, prospectar soluções e vencer o inevitável medo sobre a grave emergência imigratória. Grande parte das causas dessa imigração poderiam ter sido enfrentadas há tempos. Poderiam ter sido prevenidos tantos desastres, ou ao menos, diminuído as consequências mais cruéis”, destacou o Pontífice.
Ressaltando algumas das maneiras de combates ao problema, o líder católico disse que é preciso “desafiar práticas e hábitos estabelecidos a partir de problemas relacionados com o comércio de armas, o fornecimento de matérias primas e de energia, às políticas financeiras e o apoio ao desenvolvimento até a grave praga da corrupção”.
Para Jorge Mario Bergoglio, é preciso pensar em planos de médio e de longo prazo para permitir que a emergência tenha o tratamento adequado.
“Assim, de um lado ajudaria efetivamente a integração dos imigrantes nos países de acolhimento e, ao mesmo tempo, favoreceria o desenvolvimento das nações de proveniência com políticas sólidas, mas que não submetam as ajudas estratégicas e as práticas ideologicamente estranhas ou contrárias às culturas dos povos aos quais são endereçadas”.
Convidando os diplomatas a ouvirem o “grito dos imigrantes”, Francisco afirmou que “dói perceber que a maioria dos imigrantes não entram nos sistemas internacionais de proteção com base nos acordos internacionais”.
Para o Bispo de Roma, os “maciços desembarques” e os “temores terroristas parecem fazer vacilar o sistema de acolhimento” da Europa.
“Muitos imigrantes que vêm da Ásia e da África veem na Europa um ponto de referência para princípios como a igualdade de frente para o direito e valores inscritos na natureza de cada homem, da inviolabilidade da dignidade e da igualdade de cada pessoa, o amor ao próximo sem distinções de origem, da liberdade de consciência e da solidariedade aos seus semelhantes. Todavia, os desembarques nas costas do Velho Continente parecem fazer vacilar o sistema de acolhimento, construído com dificuldades sobre o cenário da Segunda Guerra Mundial e que constitui ainda um farol no qual a humanidade tem referência”, destacou.
Dizendo que entende “as muitas dúvidas” sobre a adaptação e as diferenças culturais entre as culturas de quem chega e de quem recebe, o Pontífice falou que a atual onda imigratória parece “minar as bases do espírito humanístico” dos europeus. Para ele, os valores e princípios de humanidade que os europeus “sempre amaram e defenderam” não podem ser perdidos pela atual sociedade.
“Permitam­me, portanto, reiterar a minha convicção de que a Europa, ajudada por seu grande patrimônio cultural e religioso, tem as ferramentas para defender a centralidade de cada pessoa e para encontrar o justo equilíbrio entre o duplo dever moral de defender os direitos de seus próprios cidadãos e aquele de garantir a assistência e o acolhimento dos imigrantes”, ressaltou.
Bergoglio aproveitou o momento para agradecer à Itália que “salvou tantas vidas no Mediterrâneo” e lembrou das tragédias evitadas pelos marinheiros do país durante as missões humanitárias
ONU
Francisco aproveitou o momento para pedir que o Primeiro Encontro Humanitário Internacional, que ocorrerá no próximo mês de maio na sede das Nações Unidas, em Nova York, consiga dar soluções para o “triste quadro de conflitos e de desastres” e de atuar “decisivamente contra a cultura de descarte”.
O líder da Igreja Católica afirmou ainda que é “evidente” que apenas uma solução política poderá contribuir para conter a propagação do extremismo e do fundamentalismo com seu papel terrorista que “criam inúmeras vítimas tanto na Síria e na Líbia, como em outros países entre os quais Iraque e Iêmen”.
 
Acordo com a Palestina
Durante seu discurso, o papa Francisco lembrou do acordo entre a Palestina e o Vaticano, que entrou em vigor no início de janeiro, como uma das maneiras de convivência pacífica entre as religiões.
“O acordo firmado e ratificado com a Palestina demonstra, entre outras coisas, como a convivência pacífica entre pertencentes à religiões diversas é possível assim como a liberdade religiosa é reconhecida e a efetiva possibilidade de colaborar com a edificação do bem comum, no recíproco respeito da identidade cultural, é Porta Santa na RCA
Jorge Mario Bergoglio aproveitou ainda para lembrar sua passagem pela República Centro­Africana (RCA) e a abertura da Porta Santa, inaugurando o Jubileu Católico. O país está dividido por uma guerra entre grupos ditos católicos e muçulmanos. Para o Pontífice, a abertura é “um sinal de encorajamento” e um chamado para que “quem crê ver que Deus deve ser um homem de paz”.
Segundo Bergoglio, só quem “tem uma forma ideológica e desviada da religião pode justificar massacres na África, Europa e Oriente Médio”.
Acordo com o Irã e sobre o clima: O sucessor de Bento XVI lembrou dos acordos difíceis que foram fechados em 2015 e deu destaque a dois deles: o documento nuclear com o Irã e aquele assinado na Conferência do Clima das Nações Unidas, em Paris.
“Em 2015, vi a conclusão de importantes acordos internacionais os quais farão bem ao futuro. Ressalto, sobretudo, o acordo nuclear iraniano – que espero que contribua para favorecer um clima de distensão na região – assim como a assinatura do aguardado acordo sobre o clima durante a Conferência de Paris”, destacou.
O líder católico tem o meio­ambiente como uma de suas bandeiras, tanto que escreveu sua primeira encíclica à frente da Igreja Católica sobre o tema, a “Laudato Sí” (“Louvado Seja”).
Coreia do Norte
O Bispo de Roma demonstrou preocupação com a situação da Coreia do Norte e apontou o caso como uma das principais “tensões” para 2016. “O preocupante experimento conduzido pela península coreana é um dos graves enfrentamentos” para o ano, disse o líder.
Síria
O Pontífice elogiou ainda a postura da comunidade internacional para “encontrar uma solução política e diplomática para a crise na Síria”. Sem citar diretamente as ações do grupo terrorista Estado Islâmico (EI, exIsis), Francisco disse acreditar que essa postura “colocará fim aos sofrimento, que duram há tempo demais, na população” do país. 
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