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Brasil tem 2,8 milhões fora da escola e enfrenta estagnação

Os dados são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) de 2014, compilados pelo Movimento Todos pela Educação (TPE)

Crianças jogam bola em ao lixo na Lagoa da Jansem
O Brasil ainda tem 2,8 milhões de crianças e adolescentes fora da escola, o que representa 6,2% do total da população de 4 a 17 anos. Este é o último ano que o País tem para garantir que todos nesta faixa etária estejam devidamente matriculados. Especialistas preveem descumprimento da meta e até em judicialização para assegurar as vagas. Os dados são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) de 2014, compilados pelo Movimento Todos pela Educação (TPE).

Apesar de o direito à educação estar previsto na Constituição e na Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), a obrigatoriedade da matrícula só era definida para jovens de 6 a 14 anos. Em 2009, uma Emenda Constitucional ampliou essa garantia para as crianças de 4 e 5 anos e para os adolescentes de 15 a 17 anos, com a universalização de oferta exigida até 2016.

A taxa de atendimento escolar entre 4 e 17 anos passou de 92,6%, em 2009, para 93,6% em 2014. O índice ficou estagnado em relação à edição anterior da Pnad, de 2013, que registrou o mesmo porcentual.

A situação é pior nas faixas etárias que passam a ser obrigatórias a partir deste ano: em 2014, segundo a Pnad, 10,9% (604.469) das crianças de 4 e 5 anos estavam fora da escola. A etapa, no entanto, foi a que mais cresceu nos últimos 10 anos: saltou 17 pontos porcentuais em relação a 2005, quando 27,5% nestas idades não estavam estudando.

Entre os adolescentes de 15 a 17 anos, 17,4% não estavam na escola. São 1,7 milhões de adolescentes sem estudar. A taxa está praticamente estagnada desde 2005, quando 21,2% dos jovens não estavam matriculados. Esta tapa é vista por educadores como a mais problemática, já que há disputa do estudo com trabalho, além do desinteresse pelo estudo.

“A universalização é uma tarefa nada trivial”, diz a coordenadora geral do TPE, Alejandra Velasco, que traz explicações específicas para o déficit de matrículas em cada etapa. Para ela, a falta de atratividade é um dos empecilhos no ensino médio.”É uma fase em que o jovem não quer ir para a escola”, diz.

Já entre a população de 6 a 14 anos, etapa praticamente universalizada, 1,6% (ou 459.490 alunos) está fora da escola. O avanço foi de apenas 0,1 ponto porcentual em relação a 2005, quando 1,7% não estudavam.

No ensino fundamental, diz Alejandra, é preciso identificar os motivos que levaram ao abandono da escola e promover políticas neste sentido. “São crianças que estão fora da escola por questões de família, vulnerabilidade, com deficiência e sem acessibilidade, violência na escola e até grandes deslocamentos, principalmente na região Norte”, comenta. Já na educação infantil, que avançou mais rápido, o desafio é universalizar com qualidade.

Ela ressalta, no entanto, a redução na desigualdade no acesso à educação nos últimos 10 anos em relação à renda. Em 2005, a diferença entre o número de alunos matriculados 25% mais ricos e 25% mais pobres era de 10,2%. Em 2014, 5,2%.

Para Daniel Cara, coordenador da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, a falta de cumprimento da meta prevista na emenda constitucional deve gerar um movimento de judicialização pelas vagas no País. “Ministério Público e a sociedade civil podem agir para pressionar a Prefeitura, governos estaduais e federal pelo acesso a essas matrículas. Para quem não tem matrícula é uma situação absolutamente dramática”. Para ele, não há um planejamento objetivo dos governantes para a expansão da rede pública. “Com a judicialização, o problema ganha publicidade. Busca-se responsabilizar os governantes”, defende.

São Paulo

No Estado de São Paulo, o atendimento escolar de crianças e adolescentes de 4 a 17 anos subiu 0,6 ponto porcentual, de 95,2% em 2013 para 95,8% em 2014. O valor está abaixo da meta intermediária do TPE, que era de 96,5% para 2014.

Embora o Ensino Fundamental esteja praticamente universalizado (99,3% em 2014), também existem 37.640 alunos de 6 a 14 anos fora da escola O maior gargalo, assim como no restante do País, está no Ensino Médio. Entre 15 e 17 anos, a taxa de atendimento é de 87,2%, que praticamente está estagnada desde 2005 (85,1%). São 245.467 jovens fora da escola.

Já as redes municipais do Estado, responsáveis pela pré-escola, registraram que o atendimento de crianças de 4 e 5 anos avançou de 91,4% para 93,1% entre 2013 e 2014. Há ainda 71.474 crianças fora da escola nesta faixa etária. A capital responde por 10.224 destas vagas, segundo o balanço de novembro de 2015. A Prefeitura diz que vai universalizar o atendimento até o fim do ano.

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