EDITORIAL

Acordo histórico

Histórico talvez seja o adjetivo mais adequado para caracterizar o Acordo de Paris. Em 12 dias de negociações, 195 países chegaram a denominador comum para salvar a vida no planeta. Entre eles, os dois maiores poluidores do mundo. China e Estados Unidos, que sempre se negaram a assumir compromissos com ações concretas globais para a […]

Histórico talvez seja o adjetivo mais adequado para caracterizar o Acordo de Paris. Em 12 dias de negociações, 195 países chegaram a denominador comum para salvar a vida no planeta. Entre eles, os dois maiores poluidores do mundo. China e Estados Unidos, que sempre se negaram a assumir compromissos com ações concretas globais para a redução de emissões, firmaram o documento adotado na COP 21.
O acerto tem a ambiciosa meta de conter o aumento do aquecimento da Terra abaixo de 2ºC ou, de preferência, limitá-lo a 1,5ºC até 2100. Não é pouco. Significa abrir mão da fonte de energia que propiciou o salto econômico dos dois últimos séculos e apostar em energia limpa. Em bom português: substituir os combustíveis fósseis — principais fontes de gases do efeito estufa que se acumulam na atmosfera — por fontes renováveis. Dar adeus a carvão, petróleo e gás natural.
Claro que a simples assinatura não significa solução para o problema mais abrangente do mundo. Significa, sim, que os líderes se curvaram aos fatos e aceitam reduzir emissões, fortalecer a resiliência e lutar juntos por uma causa comum. Trata-se do primeiro passo de longo percurso que pressupõe a natural mudança de pessoas no poder sem, porém, alterar o rumo. Nas palavras de Ban Ki-moon, secretário-geral da Organização das Nações Unidas, “o que já foi impensável se tornou caminho sem volta”.
O texto não fixa metas globais numéricas sobre cortes nas emissões de gases responsáveis pelo efeito estufa nem define prazos para bater na trave da meta estabelecida. Como o ponto final é 2100, nada impede que países adiem os investimentos em energia limpa. Em tese, podem fazê-lo até 2099. Não só. As nações ricas se comprometeram a repassar US$ 100 bilhões anuais para as pobres. Especialistas consideram o valor insuficiente para a dimensão da empreitada e o sacrifício exigido de quem não usufruiu os benefícios que levaram ao aquecimento, mas têm de pagar a fatura.
Apesar das fragilidades apontadas — talvez necessárias para chegar a acerto tão amplo —, há que ressaltar o ponto alto do Acordo de Paris. Ele prevê a possibilidade efetiva de acompanhamento da atuação dos signatários. São os mecanismos de revisão. A cada cinco anos, os governos deverão avaliar os avanços nos compromissos assumidos. Para que progressos sejam efetivos, impõe-se atacar o mal pela raiz: baratear a energia limpa e encarecer a fóssil. O bolso, vale lembrar, é a parte mais sensível do corpo.
VER COMENTÁRIOS
Polícia
Concursos e Emprego
Esportes
Entretenimento e Cultura
Saúde
Negócios
Mais Notícias