CONFERÊNCIA

Acordo do clima de Paris foi fraco, diz professor da UnB

Para ele, acordos multilaterais que visam caminhar para uma economia de baixo carbono não são importantes na atual economia política mundial

O novo acordo do clima, fechado durante a 21ª Conferência Mundial sobre o Clima (COP 21), que terminou no sábado, dia 12, em Paris, foi “fraco”, tendo em vista que o assunto é debatido há pelo menos 23 anos, desde a Eco 92. A opinião é do professor do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB) Eduardo Viola, coordenador do Grupo de Pesquisa em Mudanças Climáticas e Relações Internacionais, que participou ontem, dia 15, de uma mesa redonda sobre os resultados da COP 21, no Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri), no Rio de Janeiro.
Para ele, acordos multilaterais que visam caminhar para uma economia de baixo carbono, como o firmado em Paris, não são importantes na atual economia política mundial. “O fundamental da lógica do mundo, do fluxo em matéria de energia está dado basicamente pelos processos de trajetória recente e futura de emissão de um grupo muito reduzido de países, que são os que produzem o problema e que têm a capacidade de resolver o problema, mas em geral não são os que mais sofrem com o problema. São 12, basicamente.”
Ele cita como principais atores no processo os Estados Unidos, a China e a União Europeia, que são os maiores emissores, com a China na liderança. Como núcleo seguinte, seguem emissores importantes, mas não centrais: Índia, Brasil, Japão, Coreia do Sul, Indonésia, Rússia, Turquia, México e Canadá. De acordo com o professor, esses países, juntos, emitem mais de 70% do carbono mundial. Viola afirma que as emissões aumentaram desde 1992.
“Paris é um acordo fraco do ponto de vista de cientistas que não estão nas manchetes da mídia. Nós começamos há 23 anos e até agora estamos fracassando rotundamente. Na década de 90, as emissões globais de carbono subiam 1,3% ao ano. Na primeira década do século 21, década do grande crescimento econômico, as emissões cresceram 3% ao ano. Depois da crise de 2008 e do acordo de Copenhague, tivemos um crescimento mais limitado. Nós temos já 23 anos de fracasso, com aumento extraordinário da concentração dos gases estufa e uma redução brutal do que fica do orçamento global do carbono para evitar a mudança climática”.
Sobre o fundo de R$ 100 bilhões previsto no acordo de Paris, ele afirma que o valor corresponde a 0,4% do PIB mundial e cita estudo do Fundo Monetário Internacional, que aponta que, em 2013, os subsídios diretos e indiretos para a produção de petróleo somavam R$5 trilhões de dólares, o que corresponde a 7% do PIB mundial.
A pesquisadora Branca Americano, do Programa de Política Climática do Instituto Clima e Sociedade, se mostrou mais animada com o acordo de Paris. Segundo ela, o documento fecha um ciclo iniciado com o Protocolo de Kioto, em 1997.
“Foi uma luta enorme, com muitas decepções no caminho, principalmente Copenhague, onde criou-se uma expectativa de se chegar a metas. Dessa vez, se inverteu a lógica e se começou a fazer um acordo. Cada país ofereceu o que podia, e isso poderia dar conta das necessidades do planeta. De tempos em tempos, eles vão se sentar numa mesa, cada um vai coloca a sua meta, o IPCC [Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas] vai fazer a conta e dizer se é o suficiente não”.
Para o diretor executivo da Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável, Fábio Scarano, a novidade de Paris é que os participantes sentiram a necessidade de urgência que o tema requer. Ele destaca que o acordo prevê a redução das desigualdades sociais como caminho para o desenvolvimento sustentável.
“Se a gente botar isso em prática: desmatamento zero, cumprir o código florestal, segurança alimentar, segurança hídrica, economia de base agrícola, de baixo carbono. Se isso acontecer, a gente tem uma chance real de estar, por um lado conservando e recuperando a natureza, por outro reduzindo a pobreza através desse processo. Se a gente conseguir fazer isso ate´2013, vai ser um exemplo para o resto do planeta.”.
O vice-presidente da Sociedade Rural Brasileira, Marcelo Vieira, destaca que várias metas propostas pelo Brasil já estão previstas em lei, como o Código Florestal, e que o setor agrícola será responsável por boa parte do cumprimento delas.
“O implementador [das metas] vai ser o agronegócio brasileiro. A implementação do Código Florestal vai dar a grande contribuição, com a redução do desmatamento na Amazônia, reflorestamento e restauração da vegetação, temos que recuperar 15 milhões hectares de pastagem degradada, importante para reduzir o uso da terra, produzir o mesmo com metade e liberar terra para a agricultura”.
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