EDITORIAL

A vida acima de qualquer interesse

Catástrofes de grandes proporções têm vitimado milhares de pessoas em todos os cantos do planeta. Os fenômenos estão associados ao aquecimento da atmosfera terrestre. Furacões, enchentes, tempestades, chuvas intensas e concentradas, e expansão da desertificação bem ilustram as transformações que ocorrem no globo. As alterações se devem à intervenção do homem no ambiente por meio […]

Catástrofes de grandes proporções têm vitimado milhares de pessoas em todos os cantos do planeta. Os fenômenos estão associados ao aquecimento da atmosfera terrestre. Furacões, enchentes, tempestades, chuvas intensas e concentradas, e expansão da desertificação bem ilustram as transformações que ocorrem no globo. As alterações se devem à intervenção do homem no ambiente por meio do aumento do desmatamento e das emissões de gás carbono na atmosfera.
Rever os modelos de desenvolvimento econômico e criar estratégias de transição para processos não agressivos aos ecossistemas exigem a construção de consensos e a definição de compromisso para evitar que a temperatura global se eleve em 2ºC até o fim deste século. Os desafios estão colocados à mesa da Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança Climática (COP21), que começa hoje e segue até dia 11, em Paris, com participação esperada de 195 países.
A expectativa é de que, diferentemente da COP de Copenhangue, em 2009, os líderes mundiais estejam mais conscientes da necessidade de engajamento firme na luta em defesa da vida no planeta. Além dos alertas dados pelos cientistas, os fenômenos climáticos deram mensagem enfática de que a Terra já não suporta o impacto das ações humanas nas dimensões que vêm ocorrendo.
O velho adágio “uma imagem vale mais do que mil palavras” provavelmente falou mais alto à consciência dos governantes. Não faltaram cenas contudentes, como o degelo nos Andes e no Himalaia; o desaparecimento da neve do monte Quilca, na fronteira entre o Peru e a Bolívia; as ondas de calor na Europa, com termômetros marcando 50ºC, que causaram milhares de mortes, em Portugal, França, Itália, Inglaterra, Espanha, Alemanha e Suíça; incêndios na Austrália e nos Estados Unidos; elevação do nível do mar, levando ao desaparecimento da ilha de Lohachara, na Índia.
No Brasil, as advertências se materializam nas recorrentes enchentes no Sul e nas secas da região amazônica (que abriga mais de 50% das áreas de florestas tropicais do mundo) devido ao salto das temperaturas do Atlântico Norte. As tragédias não são restritas ao clima. O aquecimento do planeta promove a dispersão de doenças ou o agravamento de epidemias. Em qualquer situação, populações, sobretudo as mais pobres, são vítimas diretas do efeito estufa.
Diante de fenômenos tão agressivos, a delegação brasileira desembarca na capital francesa com a meta de reduzir as emissões de gases de efeito estufa em 37%, até 2025, e 43% nos cinco anos seguintes (2030). Embora a proposta tenha sido avaliada como ousada, frustrou as esperanças dos ambientalistas. O desejo era de que o país assumisse firmemente a proposta de desmatamento zero, levando em conta que a medida é ambiental e economicamente mais vantajosa à nação.
Na COP21, será fundamental remover as resistências das nações desenvolvidas, que têm grande dificuldade em reconhecer o passivo ambiental. Rever os processos de produção e modelos econômicos esbarra em concepções que ignoram os impactos no meio ambiente. Exigir dos países em desenvolvimento a adoção de metas arrojadas é obstáculo ao atendimento das necessidades da população. À diplomacia cabe papel importante na diversidade presente à conferência. Mais do que os interesses individuais, está em jogo a vida no planeta. O tempo urge. Não pode ser desperdiçado.
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