EDITORIAL

Saúde mais cara

Os desajustes econômicos têm impactado fortemente a vida dos brasileiros por meio de combinações perversas entre alta do custo de vida, retração do setor produtivo, desemprego, queda nos investimentos públicos e privados. Nenhum segmento escapa aos reflexos do desequilíbrio financeiro das contas públicas. Antes de o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) projetar que […]

Os desajustes econômicos têm impactado fortemente a vida dos brasileiros por meio de combinações perversas entre alta do custo de vida, retração do setor produtivo, desemprego, queda nos investimentos públicos e privados. Nenhum segmento escapa aos reflexos do desequilíbrio financeiro das contas públicas. Antes de o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) projetar que a taxa de inflação fechará 2015 em dois dígitos, pesquisa internacional da Mercer Marsh Benefícios antecipou que o índice médico terá alta de 17% no Brasil — acima do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) e da expansão da massa salarial. No universo de 29 países, será um dos mais elevados, considerando a média mundial de 10,5%. Ficará atrás da Argentina (29%), do Vietnan (23,4%) e da Tailândia (17,9%).
A inflação médica está associada à alta dos custos de novos tratamentos e tecnologias. No país, com baixa produção tecnológica na área, as empresas prestadoras de serviços têm os preços afetados pela oscilação do câmbio. Os valores são repassados aos estabelecimentos hospitalares, que transferem para os planos de saúde a elevação dos gastos operacionais. No fim dessa cadeia, está o trabalhador, seja em atividade, seja aposentado, que vem se debatendo diante da deterioração do poder de compra em decorrência da crise financeira.
Para preservar o acesso aos planos de saúde, o consumidor terá que fazer mais cortes no orçamento doméstico. No caso de não haver como reduzir as despesas, restará suspender o contrato e buscar assistência na rede pública. Trata-se de opção extremamente difícil, sobretudo para quem tem idade avançada. As primeiras desistências ocorreram em setembro último. Levantamento do Instituto de Estudos de Saúde Suplementar (IESS) revelou que os planos de saúde médico-hospitalares perderam 164,4 mil clientes — recuo de 0,3% — em relação a agosto. No acumulado do terceiro trimestre de 2015, a perda foi de 236,2 mil beneficiários, resultado 0,5% pior que o do mesmo período de 2014.
O Estado não conseguiu dar ao Sistema Único de Saúde nível de qualidade e de eficiência capazes de suprir as demandas da sociedade. Não faltam recursos. O Ministério da Saúde conta com a maior fatia do Orçamento da União. Para 2015, foram R$ 109,2 bilhões. O estrangulamento ocorre na gestão dos serviços nos municípios e nas capitais das unidades da Federação, onde vivem os cidadãos. Os repasses federais, levando em conta a expectativa de demanda, chegam aos Executivos locais, que desviam aplicações e, assim, tornam insuficientes o aparato de saúde pública.
Mais: o modelo se revela arcaico, quando comparado ao de países com igual ou superior de desenvolvimento. Não expande as unidades de atendimento básico e direciona os pacientes para as unidades hospitalares, que deveriam ser a última instância para receber casos de média e alta complexidade. Se o preço dos serviços privados de saúde, ofertados pelos planos, fica proibitivo ao orçamento do brasileiro, e setor público se mostra incapaz de acolher a todos, corremos o risco de adoecer na indigência.
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